Boas Intenções: Duas postas de pescada (curtinhas e muito resumidas) sobre a Alemanha e o debate da integraçao (a primeira)

30-06-2011
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a 'conhecida xenofobia germanófila'Ao ler isto e isto a minha primeira tentação também seria responder como responde a Helena aqui. Temos, as duas, uma posição privilegiada, a de podermos experimentar o debate da integração na Alemanha de dois lados distintos: por um lado somos imigrantes, mas por outro somos claramente beneficiadas - à partida ninguém nos toma por estrangeiras e temos ao abrigo da União Europeia um estatuto especial. Mas acho que, na verdade, tanto espingardear para o ar sobre a xenofobia alemã como garantir que este debate sobre a integração e a sociedade Multikulti está a ser frutuoso, racional e equilibrado são duas posições quase igualmente perigosas - uma porque omite, na ânsia de a defender, os graves problemas da Alemanha, outra porque acha que os graves problemas sao só da Alemanha.Comecemos entao pela "xenofobia germanófila":Não posso não me sentir ofendida quando falam da clássica xenofobia alemã. Na verdade, para além de me sentir ofendida e desgostada, mais um toquezinho de nojo, dá-me logo vontade de partir para o ataque e referir estas críticas como "a típica tendência portuguesa de pegar nas coisas pela rama e gritar escândalo à primeira oportunidade" ou "a inefável tabloidizaçao do comentário político em Portugal e a razão pela qual a qualidade do discurso político está ainda longe dos calcanhares da Alemanha".Mas, por causa dos tiques germânicos, fico pelos factos: em Novembro do ano passado a universidade de Bielefeld fez um estudo sobre o racismo e a discriminaçao de minorias em alguns países da Europa. Só para a Ana Paula e o Carlos, aqui segue uma pequena comparação:- 50% dos alemães acham que há demasiados emigrantes no país. A Alemanha está assim muito ligeiramente abaixo da média europeia, que é de 50,4%. Em Portugal são 59,6%, o terceiro lugar neste indicador atrás apenas da Grã-Bretanha e da França.- 42% dos alemães acham que, numa situação de escassez de empregos, eles deveriam ir preferencialmente para alemães. A Alemanha está assim abaixo da média europeia, que é de 48%. Em Portugal são 58,2%, dez pontos percentuais acima da média europeia, o terceiro lugar neste indicador atrás apenas da Polónia e da Hungria.- 19,6% dos alemães, anti-semitas congénitos, acham que os judeus detêm demasiado poder no país. Em Portugal são 19,9%. Na Alemanha, a percentagem da população que acha que os judeus se aproveitam do seu papel de vítimas é de 48,9%, em Portugal de 52,1%. 48,1% dos portugueses nega que os judeus possam enriquecer a nossa cultura contra apenas 31% dos alemães e 54% dos portugueses acham que os judeus só se preocupam com eles próprios - na Alemanha são 29,1%, quase metade, abaixo da média europeia que está nos 31%.- 46% dos alemães acha que há demasiados emigrantes muçulmanos no seu país contra apenas 27% dos portugueses. Em compensação, 62,2% dos portugueses afirmam que o Islão é uma religião intolerante contra 52,5% de alemães. A média europeia está nos 54%.- 45% dos portugueses defende a existência de uma hierarquia natural entre pretos e brancos, contra 30% dos alemães. A média europeia são 31%, Portugal está em primeiro lugar.Por estranho que pareça, aqui instalada no epicentro da xenofobia, não tenho nenhuma vontade de voltar para o vosso paraíso dos brandos costumes.


a 'conhecida xenofobia germanófila'Ao ler isto e isto a minha primeira tentação também seria responder como responde a Helena aqui. Temos, as duas, uma posição privilegiada, a de podermos experimentar o debate da integração na Alemanha de dois lados distintos: por um lado somos imigrantes, mas por outro somos claramente beneficiadas - à partida ninguém nos toma por estrangeiras e temos ao abrigo da União Europeia um estatuto especial. Mas acho que, na verdade, tanto espingardear para o ar sobre a xenofobia alemã como garantir que este debate sobre a integração e a sociedade Multikulti está a ser frutuoso, racional e equilibrado são duas posições quase igualmente perigosas - uma porque omite, na ânsia de a defender, os graves problemas da Alemanha, outra porque acha que os graves problemas sao só da Alemanha.Comecemos entao pela "xenofobia germanófila":Não posso não me sentir ofendida quando falam da clássica xenofobia alemã. Na verdade, para além de me sentir ofendida e desgostada, mais um toquezinho de nojo, dá-me logo vontade de partir para o ataque e referir estas críticas como "a típica tendência portuguesa de pegar nas coisas pela rama e gritar escândalo à primeira oportunidade" ou "a inefável tabloidizaçao do comentário político em Portugal e a razão pela qual a qualidade do discurso político está ainda longe dos calcanhares da Alemanha".Mas, por causa dos tiques germânicos, fico pelos factos: em Novembro do ano passado a universidade de Bielefeld fez um estudo sobre o racismo e a discriminaçao de minorias em alguns países da Europa. Só para a Ana Paula e o Carlos, aqui segue uma pequena comparação:- 50% dos alemães acham que há demasiados emigrantes no país. A Alemanha está assim muito ligeiramente abaixo da média europeia, que é de 50,4%. Em Portugal são 59,6%, o terceiro lugar neste indicador atrás apenas da Grã-Bretanha e da França.- 42% dos alemães acham que, numa situação de escassez de empregos, eles deveriam ir preferencialmente para alemães. A Alemanha está assim abaixo da média europeia, que é de 48%. Em Portugal são 58,2%, dez pontos percentuais acima da média europeia, o terceiro lugar neste indicador atrás apenas da Polónia e da Hungria.- 19,6% dos alemães, anti-semitas congénitos, acham que os judeus detêm demasiado poder no país. Em Portugal são 19,9%. Na Alemanha, a percentagem da população que acha que os judeus se aproveitam do seu papel de vítimas é de 48,9%, em Portugal de 52,1%. 48,1% dos portugueses nega que os judeus possam enriquecer a nossa cultura contra apenas 31% dos alemães e 54% dos portugueses acham que os judeus só se preocupam com eles próprios - na Alemanha são 29,1%, quase metade, abaixo da média europeia que está nos 31%.- 46% dos alemães acha que há demasiados emigrantes muçulmanos no seu país contra apenas 27% dos portugueses. Em compensação, 62,2% dos portugueses afirmam que o Islão é uma religião intolerante contra 52,5% de alemães. A média europeia está nos 54%.- 45% dos portugueses defende a existência de uma hierarquia natural entre pretos e brancos, contra 30% dos alemães. A média europeia são 31%, Portugal está em primeiro lugar.Por estranho que pareça, aqui instalada no epicentro da xenofobia, não tenho nenhuma vontade de voltar para o vosso paraíso dos brandos costumes.

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