Boas Intenções: As Redes Sociais, Pacheco Pereira e o TDACHSR I

30-06-2011
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(uma resposta em três tomos para gente com paciência)Quando as mulheres começaram a querer votar, chamaram-lhes histéricas. Quando os homosexuais quiseram assumir-se, catalogaram a sua orientaçao sexual como doença. Quando os jovens se manifestam, sao preguiçosos. Quando surgiu a Bimby, eu própria garanti que era o fim do mundo. Catalogar aquilo que nao conhecemos sempre foi uma defesa. Pelo menos provisoriamente, fenómenos ficam na gaveta onde os pusémos e nao nos dao cabo do juízo.Confrontado com o crescimento e a importância crescente das redes sociais, Pacheco Pereira (no Público e depois no Abrupto) descobriu uma nova definiçao da hiper-actividade que lhe permitiu catalogar um mundo, ou no caso dele apenas um país, onde as pessoas escrevem no Twitter aquilo que comeram ao almoço e nao sao capazes de prestar atençao a uma aula, onde a televisao substituiu os jornais e só as elites descobrem, com a ajuda impagável da sua condiçao, tempo e lugar para a leitura. Leitura essa que já aqueles que morriam de medo da televisao ou do rádio devem ter temido. Também aqui na Alemanha há imensos Pachecos Pereira, especialmente preocupados com o fim do jornalismo, nao acima de tudo como actividade comercial e profissional, mas alegadamente muito preocupados com a qualidade da informaçao. Nas redes sociais como no resto, há um velho do restelo para cada inovaçao.Eu escrevo um blog há muitos anos, embora talvez há menos tempo e com consideravelmente menor audiência do que Pacheco Pereira. Uso o Facebook e o Linkedin e faço uma razoavelmente cuidada separaçao dos conteúdos que publico para públicos diferentes. Uso pouco o Twitter, mas usei-o mais intensivamente nalgumas situaçoes que me permitiram perceber o seu potencial. Leio críticas de livros na Internet antes de os comprar, comparo voos em vários sites diferentes antes de os marcar e já quase nao cozinho nada que nao venha de um blogue, enriquecido pela experiência de quem o cozinhou e de preferência comentários adicionais, quiçá de quem fez aquele bolo num fogao a gás em vez de num fogao eléctrico. Guardo tags no Delicious em vez de no browser de casa e outra vez no browser do trabalho, porque me ajudam a organisar e guardar conteúdo que achei interessante. Quem no trabalho trabalha com áreas semelhantes às minhas pode aceder aos artigos que marquei para o efeito e posso juntar-me a colegas que procuram o mesmo tipo de informaçao, guardo livros que me interessam e artigos que quero ler depois, receitas que quero fazer. Leio notícias online, recebo todos os dias exactamente às 09:30 um alerta do telejornal alemao com as notícia do dia (e outro no momento em que acontecem coisas importantes, um serviço rapidíssimo, que bate o Twitter e tudo). Nao abro rigorosamente nenhum dos vídeos ou apresentaçoes em Power Point que me enviam por e-mail, mas sigo links no Facebook e no Twitter em cujos autores confio e que nao me obrigam a fazer qualquer download.Em termos de gestao do conhecimento, posso comparar isto ao incremento de qualidade de vida que sofri quando fiquei sem rato várias semanas e tive de aprender todos os atalhos do teclado, quando me ofereceram uma panela de pressao ou quando me decidi finalmente a memorizar em que posiçao entrava a chave do cadeado da bicicleta: um enormíssimo incremento de eficiência e de qualidade de vida.A diferença fundamental entre os exemplos anteriores e as redes sociais é que o conhecimento deixa de ser partilhado apenas com aqueles que me conhecem imediatamente, mas é, quando eu assim o entender (e entendo ser do interesse geral que se pode livrar dos piolhos com maionese, do interesse dos meus amigos que eu estou hoje aborrecidíssima e do interesse público chamar velho do restelo a Pacheco Pereira) partilhado com um grupo alargado de pessoas, nalguns casos controlado, noutros nem por isso.A mesma coisa acontece nas empresas, nas instituiçoes públicas e por todo o lado: quanto mais o conhecimento é partilhado, melhor e mais conhecimento é gerado, melhor e mais conhecimento que aumenta a eficácia, a qualidade de vida e a possibilidade de participaçao de cada um de nós.


(uma resposta em três tomos para gente com paciência)Quando as mulheres começaram a querer votar, chamaram-lhes histéricas. Quando os homosexuais quiseram assumir-se, catalogaram a sua orientaçao sexual como doença. Quando os jovens se manifestam, sao preguiçosos. Quando surgiu a Bimby, eu própria garanti que era o fim do mundo. Catalogar aquilo que nao conhecemos sempre foi uma defesa. Pelo menos provisoriamente, fenómenos ficam na gaveta onde os pusémos e nao nos dao cabo do juízo.Confrontado com o crescimento e a importância crescente das redes sociais, Pacheco Pereira (no Público e depois no Abrupto) descobriu uma nova definiçao da hiper-actividade que lhe permitiu catalogar um mundo, ou no caso dele apenas um país, onde as pessoas escrevem no Twitter aquilo que comeram ao almoço e nao sao capazes de prestar atençao a uma aula, onde a televisao substituiu os jornais e só as elites descobrem, com a ajuda impagável da sua condiçao, tempo e lugar para a leitura. Leitura essa que já aqueles que morriam de medo da televisao ou do rádio devem ter temido. Também aqui na Alemanha há imensos Pachecos Pereira, especialmente preocupados com o fim do jornalismo, nao acima de tudo como actividade comercial e profissional, mas alegadamente muito preocupados com a qualidade da informaçao. Nas redes sociais como no resto, há um velho do restelo para cada inovaçao.Eu escrevo um blog há muitos anos, embora talvez há menos tempo e com consideravelmente menor audiência do que Pacheco Pereira. Uso o Facebook e o Linkedin e faço uma razoavelmente cuidada separaçao dos conteúdos que publico para públicos diferentes. Uso pouco o Twitter, mas usei-o mais intensivamente nalgumas situaçoes que me permitiram perceber o seu potencial. Leio críticas de livros na Internet antes de os comprar, comparo voos em vários sites diferentes antes de os marcar e já quase nao cozinho nada que nao venha de um blogue, enriquecido pela experiência de quem o cozinhou e de preferência comentários adicionais, quiçá de quem fez aquele bolo num fogao a gás em vez de num fogao eléctrico. Guardo tags no Delicious em vez de no browser de casa e outra vez no browser do trabalho, porque me ajudam a organisar e guardar conteúdo que achei interessante. Quem no trabalho trabalha com áreas semelhantes às minhas pode aceder aos artigos que marquei para o efeito e posso juntar-me a colegas que procuram o mesmo tipo de informaçao, guardo livros que me interessam e artigos que quero ler depois, receitas que quero fazer. Leio notícias online, recebo todos os dias exactamente às 09:30 um alerta do telejornal alemao com as notícia do dia (e outro no momento em que acontecem coisas importantes, um serviço rapidíssimo, que bate o Twitter e tudo). Nao abro rigorosamente nenhum dos vídeos ou apresentaçoes em Power Point que me enviam por e-mail, mas sigo links no Facebook e no Twitter em cujos autores confio e que nao me obrigam a fazer qualquer download.Em termos de gestao do conhecimento, posso comparar isto ao incremento de qualidade de vida que sofri quando fiquei sem rato várias semanas e tive de aprender todos os atalhos do teclado, quando me ofereceram uma panela de pressao ou quando me decidi finalmente a memorizar em que posiçao entrava a chave do cadeado da bicicleta: um enormíssimo incremento de eficiência e de qualidade de vida.A diferença fundamental entre os exemplos anteriores e as redes sociais é que o conhecimento deixa de ser partilhado apenas com aqueles que me conhecem imediatamente, mas é, quando eu assim o entender (e entendo ser do interesse geral que se pode livrar dos piolhos com maionese, do interesse dos meus amigos que eu estou hoje aborrecidíssima e do interesse público chamar velho do restelo a Pacheco Pereira) partilhado com um grupo alargado de pessoas, nalguns casos controlado, noutros nem por isso.A mesma coisa acontece nas empresas, nas instituiçoes públicas e por todo o lado: quanto mais o conhecimento é partilhado, melhor e mais conhecimento é gerado, melhor e mais conhecimento que aumenta a eficácia, a qualidade de vida e a possibilidade de participaçao de cada um de nós.

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