Quando eu andava no décimo primeiro ano, tinha uma colega muito alegre e animada. Na viagem de turma começou a chorar e, como não conseguia parar por horas e dias a fio, tiveram de levá-la ao hospital. Penso nela muitas vezes quando as contrariedades da vida me pedem que me controle quando me apetece chorar como duas madalenas e depois, contrariedades extintas, já não me sobram lágrimas.Há uma alergia minha muito Maria da Fonte à tristeza e à indulgência no dor, a dor que se convoca apenas se o equilíbrio assim o exigir, quando o período chega ou assim (foi assim que cresci com a teoria de que a força das mulheres se ancorava neste momento, nos dias em que choramos porque partimos um copo ou o Robert Redford já não quer saber de nós, na forma como vomitamos nesses dias o que engolimos no resto do mês para continuar em frente).Às vezes penso que um dia acabarei também eu a chorar dias a fio, como num Garcia Márquez urbano. Outras penso que há nisto toda uma desproporcionada cobardia que me impedirá sempre os voos altos desta vida. Outras vezes reconheço acima de tudo a solidão deste seguir em frente, digo de mim para comigo que só não choro porque o ombro não me serve.Esbarro depois no conforto que encontra a minha consciência, e digo consciência como quem diz orgulho, nas saídas airosas de cabeça altiva, na recusa de partilhar a intimidade com o primeiro traunseunte, disfarçado ou não de conhecido de ocasião, colega de trabalho ou sonho hipotecado.No fim, escolho ser assim tanto como o aceito. E espero, coração nas mãos, que esta colecção de questionamentos me espevite o olho crítico e limite estes excessos de pombalismo. Entretanto sigo em frente, muito convencida de que a vida não me dará dores maiores, das que não se resolvem com um copo de vinho e lágrimas vertidas de graça por aquele sorriso com covinhas, quer chore na distribuição de panfletos ou enquanto olho a savana da janela.
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Quando eu andava no décimo primeiro ano, tinha uma colega muito alegre e animada. Na viagem de turma começou a chorar e, como não conseguia parar por horas e dias a fio, tiveram de levá-la ao hospital. Penso nela muitas vezes quando as contrariedades da vida me pedem que me controle quando me apetece chorar como duas madalenas e depois, contrariedades extintas, já não me sobram lágrimas.Há uma alergia minha muito Maria da Fonte à tristeza e à indulgência no dor, a dor que se convoca apenas se o equilíbrio assim o exigir, quando o período chega ou assim (foi assim que cresci com a teoria de que a força das mulheres se ancorava neste momento, nos dias em que choramos porque partimos um copo ou o Robert Redford já não quer saber de nós, na forma como vomitamos nesses dias o que engolimos no resto do mês para continuar em frente).Às vezes penso que um dia acabarei também eu a chorar dias a fio, como num Garcia Márquez urbano. Outras penso que há nisto toda uma desproporcionada cobardia que me impedirá sempre os voos altos desta vida. Outras vezes reconheço acima de tudo a solidão deste seguir em frente, digo de mim para comigo que só não choro porque o ombro não me serve.Esbarro depois no conforto que encontra a minha consciência, e digo consciência como quem diz orgulho, nas saídas airosas de cabeça altiva, na recusa de partilhar a intimidade com o primeiro traunseunte, disfarçado ou não de conhecido de ocasião, colega de trabalho ou sonho hipotecado.No fim, escolho ser assim tanto como o aceito. E espero, coração nas mãos, que esta colecção de questionamentos me espevite o olho crítico e limite estes excessos de pombalismo. Entretanto sigo em frente, muito convencida de que a vida não me dará dores maiores, das que não se resolvem com um copo de vinho e lágrimas vertidas de graça por aquele sorriso com covinhas, quer chore na distribuição de panfletos ou enquanto olho a savana da janela.