Boas Intenções: presa por ter cao, por nao ter, por ser gira e por desacato à autoridade

30-06-2011
marcar artigo


Quando conheci a Rita Rato eu ainda era militante da JCP e do PCP, activa, já a meio-gás, na FCSH, onde ela estudava e eu também. A batalha de campo que se tinha travado dentro do partido estava praticamente enterrada e eu própria só seria militante mais uns meses, saindo no dia em que o Avante achou por bem salientar os lados positivos do reinado de Estaline.Desse tempo, tenho da Rita Rato a impressao de uma rapariga inteligente e bem-disposta, que nao hesitava em pensar pela sua própria cabeça e se dava bem tanto com as pessoas gratas à direcçao como às menos gratas, como era o meu caso. Dir-me-ao talvez que isto nao tem nada de extraordinário, mas na altura tinha e bastante.Desde que saí do PCP, vi subir muita gente, incluindo muitos que foram capazes das maiores sacanices, a par de outros que nao deviam demasiado à inteligência. Também vi cair muita gente da mesma estirpe, que a contra-revoluçao também come os seus filhos.E vi subir a Rita Rato que era, pelo menos quando a conheci, uma rapariga íntegra, inteligente e simpática que nao tinha medo de usar o cérebro. Infelizmente, começou o mandato com uma entrevista da qual tinha de se ter saído melhor, mesmo que a entrevista tenha sido ao Correio da Manha e eu conheça por experiência própria o que podem fazer das nossas palavras. Mas nao há desculpa para fugir com o rabo a uma seringa tao grave como os piores crimes do Estalinismo ou as violaçoes dos direitos humanos na China. Mais que nao seja por uma questao de respeito pelas vítimas.Mas isso também nao é desculpa para ler da entrevista que ela disse que nao sabia que existiram Gulags, o que é fundamentalmente diferente de dizer que nao se sabe o suficiente sobre eles para fazer um comentário. Sao as duas graves, mas uma é ignorância e a outra é fugir com o rabo à seringa. Uma, permitiria aos senhores pintá-la de loura burra como andam por aí a fazer, a outra nao.Se eu morasse em Lisboa, acho que tinha votado PCP para votar na Rita Rato, mesmo que a entrevista tivesse sido antes das eleiçoes. Na inteligência, na integridade, no potencial.Entretanto, entre o Ricardo Araújo Pereira a enfiá-la numa gaveta de 'miúda gira', a boa sociedade portuguesa a chamar-lhe analfabeta ou negacionista e muito chocada porque no curso de Ciência Política nao dao a fundo os Gulags (se a boa sociedade portuguesa soubesse o que é ciência política, às vezes dava imenso jeito) e ataques complatamente disparatos como este, que nao se sabe exactamente ao que vêm, estao quase a silenciar a rapariga à partida, colando-lhe sobre a boca uma infinitude de etiquetas (será que era tao fácil se ela nao fosse mulher, jovem e gira?).Na verdade, conhecendo Portugal, acredito bem que funcione. Mas é pena, para o país mais do que para ela ou o PCP.


Quando conheci a Rita Rato eu ainda era militante da JCP e do PCP, activa, já a meio-gás, na FCSH, onde ela estudava e eu também. A batalha de campo que se tinha travado dentro do partido estava praticamente enterrada e eu própria só seria militante mais uns meses, saindo no dia em que o Avante achou por bem salientar os lados positivos do reinado de Estaline.Desse tempo, tenho da Rita Rato a impressao de uma rapariga inteligente e bem-disposta, que nao hesitava em pensar pela sua própria cabeça e se dava bem tanto com as pessoas gratas à direcçao como às menos gratas, como era o meu caso. Dir-me-ao talvez que isto nao tem nada de extraordinário, mas na altura tinha e bastante.Desde que saí do PCP, vi subir muita gente, incluindo muitos que foram capazes das maiores sacanices, a par de outros que nao deviam demasiado à inteligência. Também vi cair muita gente da mesma estirpe, que a contra-revoluçao também come os seus filhos.E vi subir a Rita Rato que era, pelo menos quando a conheci, uma rapariga íntegra, inteligente e simpática que nao tinha medo de usar o cérebro. Infelizmente, começou o mandato com uma entrevista da qual tinha de se ter saído melhor, mesmo que a entrevista tenha sido ao Correio da Manha e eu conheça por experiência própria o que podem fazer das nossas palavras. Mas nao há desculpa para fugir com o rabo a uma seringa tao grave como os piores crimes do Estalinismo ou as violaçoes dos direitos humanos na China. Mais que nao seja por uma questao de respeito pelas vítimas.Mas isso também nao é desculpa para ler da entrevista que ela disse que nao sabia que existiram Gulags, o que é fundamentalmente diferente de dizer que nao se sabe o suficiente sobre eles para fazer um comentário. Sao as duas graves, mas uma é ignorância e a outra é fugir com o rabo à seringa. Uma, permitiria aos senhores pintá-la de loura burra como andam por aí a fazer, a outra nao.Se eu morasse em Lisboa, acho que tinha votado PCP para votar na Rita Rato, mesmo que a entrevista tivesse sido antes das eleiçoes. Na inteligência, na integridade, no potencial.Entretanto, entre o Ricardo Araújo Pereira a enfiá-la numa gaveta de 'miúda gira', a boa sociedade portuguesa a chamar-lhe analfabeta ou negacionista e muito chocada porque no curso de Ciência Política nao dao a fundo os Gulags (se a boa sociedade portuguesa soubesse o que é ciência política, às vezes dava imenso jeito) e ataques complatamente disparatos como este, que nao se sabe exactamente ao que vêm, estao quase a silenciar a rapariga à partida, colando-lhe sobre a boca uma infinitude de etiquetas (será que era tao fácil se ela nao fosse mulher, jovem e gira?).Na verdade, conhecendo Portugal, acredito bem que funcione. Mas é pena, para o país mais do que para ela ou o PCP.

marcar artigo