“You Don’t Need A Weatherman To Know Which Way The Wind Blows” – A direita cada vez mais à direita e a esquerda ultrapassada pela esquerda

28-01-2012
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Mais breves notícias possíveis de um futuro impossível, na blogorgia da primeira edição do The Printed Blog.

Depois de ler o que se escreveu no final de 2010, em toda a imprensa nacional e internacional, sobre os prognósticos para 2011, do propalado fim da crise económica à imutabilidade dos regimes no Norte de África e no Médio Oriente, respondo de bom grado sempre que me desafiam para dar uma opinião sobre o futuro. Aconteça o que acontecer, escreva o que escrever, dificilmente errarei por maior margem do que a prestigiada Times, a assertiva Newsweek, o significativo Independent ou que o incontornável Público. Para qualquer uma destas publicações as eleições marcadas para a segunda metade do ano, no Egipto, dificilmente seriam mais do que um plebiscito a Mubarak ou, na melhor das hipóteses, ao seu primogénito tanso. Os mercados, esses, sempre geniais, depois de debelar o ano zero da retoma (algo que ainda não se percebeu muito bem o que foi), anunciavam, inchados, o primeiro ano de crescimento económico. Foram preciso poucas semanas para que todos estivessem errados e desde o final de Janeiro que, do Cairo a Tunes, de Atenas a Wisconsin, de Tripoli a Damasco, de Gaza a Pequim, em suma, de Wall Street a cada praça insurrecta, tudo tivesse que ser (r)escrito.

Neste contexto e recuperado o antagonismo que muitos académicos julgavam ter ficado nas gavetas do perigoso século XX, a política voltou a estar na ordem do dia mesmo entre aqueles que já nada esperavam da arte de mudar de vida.

Os levantamentos trouxeram resultados, quanto mais não seja porque estão a travar o passo das novas cortes, a gula dos velhos agiotas e a austeridade imposta directamente a dois terços da população mundial não está a ter capacidade de maximizar o suficiente a sua margem de lucro. Até ver, incapazes de concretizar a domesticação dos levantamentos feitos contra alguns dos seus principais aliados, incapazes de usufruir da recessão sobre o silêncio dos povos e sem grande margem para alargar a manta militar com que abraçaram o mundo, os explorados perceberam que têm uma palavra a dizer, ainda que na maioria dos casos continuem sem organizações capazes de concretizarem as suas esperanças. A resistência parece estar a vencer a barbárie mas a sua força não é ilimitada. Ao contrário do seu passado recente, a esquerda não se pode deixar seduzir pelo brilho das luzes de Bruxelas ou pelo veludo das alcatifas de Caracas, do Planalto de Brasília ou da Assembleia Nacional da 4 de Fevereiro, em Luanda. A repetição da conciliação, especialmente se for a troco de reformismo sem reformas, não será capaz de outra coisa além da repetição dos erros. Do colonialismo, hoje na sua farsa financeira, à guerra mundial entre nações, amanhã em ultrapassados choques de titãs, distam poucos passos de distância. Não nos resta outra alternativa a não ser correr violenta e radicalmente na direcção oposta.

Os arquitectos da dominação não são incompetentes sendo que para impedir o seu avanço vai ser preciso mais que abaixo-assinados, rondas de concertação social ou batalhas parlamentares tão inócuas como inconsequentes. O galope da agenda e dos negócios dos que ainda se agarram com unhas e dentes ao trono da democracia burguesa (ufa…), será mais do que suficiente para que o movimento social continue refém do medo, da preguiça, da resignação, do sectarismo, em suma, da desistência. Se não forem experimentadas novas formas de vida colectiva, reinventada a revolta e os indignados serem capazes de transformar o espontaneísmo do movimento em militância organizada, a resistência forjada por modernas vinhas da ira continuará distante do clássico do homem novo que teimosa e vagarosamente se arrasta no ventre das ideias generosas. O sabor das suas uvas fermentadas, lá para o fim do ano, vai poder ser (d)escrito com outra firmeza, mas há inevitáveis em que já ninguém acredita bem para lá dos próximos Agostos. A geração do basta está cansada de que todas as conquistas continuem a ser efémeras e de que as vitórias sejam sempre parciais. A hora é para mais do que aspirar conspirações. Não sei se assim será mas assim espero que seja.

Mais breves notícias possíveis de um futuro impossível, na blogorgia da primeira edição do The Printed Blog.

Depois de ler o que se escreveu no final de 2010, em toda a imprensa nacional e internacional, sobre os prognósticos para 2011, do propalado fim da crise económica à imutabilidade dos regimes no Norte de África e no Médio Oriente, respondo de bom grado sempre que me desafiam para dar uma opinião sobre o futuro. Aconteça o que acontecer, escreva o que escrever, dificilmente errarei por maior margem do que a prestigiada Times, a assertiva Newsweek, o significativo Independent ou que o incontornável Público. Para qualquer uma destas publicações as eleições marcadas para a segunda metade do ano, no Egipto, dificilmente seriam mais do que um plebiscito a Mubarak ou, na melhor das hipóteses, ao seu primogénito tanso. Os mercados, esses, sempre geniais, depois de debelar o ano zero da retoma (algo que ainda não se percebeu muito bem o que foi), anunciavam, inchados, o primeiro ano de crescimento económico. Foram preciso poucas semanas para que todos estivessem errados e desde o final de Janeiro que, do Cairo a Tunes, de Atenas a Wisconsin, de Tripoli a Damasco, de Gaza a Pequim, em suma, de Wall Street a cada praça insurrecta, tudo tivesse que ser (r)escrito.

Neste contexto e recuperado o antagonismo que muitos académicos julgavam ter ficado nas gavetas do perigoso século XX, a política voltou a estar na ordem do dia mesmo entre aqueles que já nada esperavam da arte de mudar de vida.

Os levantamentos trouxeram resultados, quanto mais não seja porque estão a travar o passo das novas cortes, a gula dos velhos agiotas e a austeridade imposta directamente a dois terços da população mundial não está a ter capacidade de maximizar o suficiente a sua margem de lucro. Até ver, incapazes de concretizar a domesticação dos levantamentos feitos contra alguns dos seus principais aliados, incapazes de usufruir da recessão sobre o silêncio dos povos e sem grande margem para alargar a manta militar com que abraçaram o mundo, os explorados perceberam que têm uma palavra a dizer, ainda que na maioria dos casos continuem sem organizações capazes de concretizarem as suas esperanças. A resistência parece estar a vencer a barbárie mas a sua força não é ilimitada. Ao contrário do seu passado recente, a esquerda não se pode deixar seduzir pelo brilho das luzes de Bruxelas ou pelo veludo das alcatifas de Caracas, do Planalto de Brasília ou da Assembleia Nacional da 4 de Fevereiro, em Luanda. A repetição da conciliação, especialmente se for a troco de reformismo sem reformas, não será capaz de outra coisa além da repetição dos erros. Do colonialismo, hoje na sua farsa financeira, à guerra mundial entre nações, amanhã em ultrapassados choques de titãs, distam poucos passos de distância. Não nos resta outra alternativa a não ser correr violenta e radicalmente na direcção oposta.

Os arquitectos da dominação não são incompetentes sendo que para impedir o seu avanço vai ser preciso mais que abaixo-assinados, rondas de concertação social ou batalhas parlamentares tão inócuas como inconsequentes. O galope da agenda e dos negócios dos que ainda se agarram com unhas e dentes ao trono da democracia burguesa (ufa…), será mais do que suficiente para que o movimento social continue refém do medo, da preguiça, da resignação, do sectarismo, em suma, da desistência. Se não forem experimentadas novas formas de vida colectiva, reinventada a revolta e os indignados serem capazes de transformar o espontaneísmo do movimento em militância organizada, a resistência forjada por modernas vinhas da ira continuará distante do clássico do homem novo que teimosa e vagarosamente se arrasta no ventre das ideias generosas. O sabor das suas uvas fermentadas, lá para o fim do ano, vai poder ser (d)escrito com outra firmeza, mas há inevitáveis em que já ninguém acredita bem para lá dos próximos Agostos. A geração do basta está cansada de que todas as conquistas continuem a ser efémeras e de que as vitórias sejam sempre parciais. A hora é para mais do que aspirar conspirações. Não sei se assim será mas assim espero que seja.

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