Irene Pimentel publicou no Simplex um cartoon de Rui Pimentel em que este não hesitava na hora de associar Manuela Ferreira Leite ao salazarismo. A fundamentação da acusação residia no facto da lÃder do PSD estar contra o TGV e o novo aeroporto. Não vou discutir agora a impertinência da associação, apenas dizer que ela acompanha a tendência do PS acusar o PSD de estar enfeitiçado pelo salazarismo, caminho que não me parece muito interessante e acerca do qual já falei em post anterior. (Neste caso especÃfico, acrescentaria apenas que a redução do salazarismo à sua dimensão “ruralistaâ€, orgulhosa do paÃs pequeno e pobre, não parece sequer muito recomendável do ponto de vista histórico). Entretanto, sucede que na entrevista que concedeu à RTP, há uns dias atrás, Manuela Ferreira Leite não só não teceu louvores a Salazar, como ainda se pôs a dissertar acerca de um suposto clima de «asfixia democrática» que pairará sobre Portugal. Algo que, há alguns anos atrás, com mais ou com menos fundamento, todos os lÃderes de partidos da oposição costumavam dizer, em jeito de balanço, a propósito dos governos PSD de maioria absoluta.
Ora, o que nos diz Irene Pimentel acerca disto? Pois Irene Pimentel vem agora criticar Manuela Ferreira Leite por esta referir que vivemos num clima de «asfixia democrática». Diz ainda que as declarações de Ferreira Leite, não sendo justificadas, servem apenas para relativizar «situações de falta de liberdade», caucionando objectivamente o perÃodo da ditadura. Isto é: Ferreira Leite fala contra um suposto perigo de «asfixia democrática» e Pimentel comenta isso classificando as declarações como um possÃvel contributo de Ferreira Leite para a legitimação de um clima ditatorial. O post da Irene Pimentel é parte de uma tendência de simplificação, que eu não esperava ver alimentada pela Irene Pimentel, e que é frequente assolar o Simplex. E o raciocÃnio subjacente ao post é caracterÃstico de todos os que se julgam iluminados pelo dom que lhes permite sentirem-se donos e senhores de uma História em que todas as relações são reduzidas a relações de causa e efeito e a cujo sentido os iluminados podem aceder de forma categórica. Pode até ser raro o cientista polÃtico ou o comentador polÃtico que não julgue habitar este reino do objectivamente, mas qualquer acto de militância (a começar no apoio de Pimentel a Sócrates, com o qual não concordo, mas que obviamente respeito) é suposto tratar de fazer a polÃtica descer desse reino até cá baixo. Não é aceitável que o Simplex insista no argumento do “voto útil”, reduzindo uma e outra vez a complexidade do eleitorado e da polÃtica em democracia a relações todas elas muito mecânicas e lineares, do género: não votas PS e votas PCP/BE, logo favoreces objectivamente o PSD. Seria bom que o Simplex começasse a discutir polÃtica com os comuns mortais.  A menos que por lá alguém tenha contactos privilegiados com um Além qualquer. Ou andam todos a dar na Dialéctica da Natureza?
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Irene Pimentel publicou no Simplex um cartoon de Rui Pimentel em que este não hesitava na hora de associar Manuela Ferreira Leite ao salazarismo. A fundamentação da acusação residia no facto da lÃder do PSD estar contra o TGV e o novo aeroporto. Não vou discutir agora a impertinência da associação, apenas dizer que ela acompanha a tendência do PS acusar o PSD de estar enfeitiçado pelo salazarismo, caminho que não me parece muito interessante e acerca do qual já falei em post anterior. (Neste caso especÃfico, acrescentaria apenas que a redução do salazarismo à sua dimensão “ruralistaâ€, orgulhosa do paÃs pequeno e pobre, não parece sequer muito recomendável do ponto de vista histórico). Entretanto, sucede que na entrevista que concedeu à RTP, há uns dias atrás, Manuela Ferreira Leite não só não teceu louvores a Salazar, como ainda se pôs a dissertar acerca de um suposto clima de «asfixia democrática» que pairará sobre Portugal. Algo que, há alguns anos atrás, com mais ou com menos fundamento, todos os lÃderes de partidos da oposição costumavam dizer, em jeito de balanço, a propósito dos governos PSD de maioria absoluta.
Ora, o que nos diz Irene Pimentel acerca disto? Pois Irene Pimentel vem agora criticar Manuela Ferreira Leite por esta referir que vivemos num clima de «asfixia democrática». Diz ainda que as declarações de Ferreira Leite, não sendo justificadas, servem apenas para relativizar «situações de falta de liberdade», caucionando objectivamente o perÃodo da ditadura. Isto é: Ferreira Leite fala contra um suposto perigo de «asfixia democrática» e Pimentel comenta isso classificando as declarações como um possÃvel contributo de Ferreira Leite para a legitimação de um clima ditatorial. O post da Irene Pimentel é parte de uma tendência de simplificação, que eu não esperava ver alimentada pela Irene Pimentel, e que é frequente assolar o Simplex. E o raciocÃnio subjacente ao post é caracterÃstico de todos os que se julgam iluminados pelo dom que lhes permite sentirem-se donos e senhores de uma História em que todas as relações são reduzidas a relações de causa e efeito e a cujo sentido os iluminados podem aceder de forma categórica. Pode até ser raro o cientista polÃtico ou o comentador polÃtico que não julgue habitar este reino do objectivamente, mas qualquer acto de militância (a começar no apoio de Pimentel a Sócrates, com o qual não concordo, mas que obviamente respeito) é suposto tratar de fazer a polÃtica descer desse reino até cá baixo. Não é aceitável que o Simplex insista no argumento do “voto útil”, reduzindo uma e outra vez a complexidade do eleitorado e da polÃtica em democracia a relações todas elas muito mecânicas e lineares, do género: não votas PS e votas PCP/BE, logo favoreces objectivamente o PSD. Seria bom que o Simplex começasse a discutir polÃtica com os comuns mortais.  A menos que por lá alguém tenha contactos privilegiados com um Além qualquer. Ou andam todos a dar na Dialéctica da Natureza?