A queda e as quedas: de Bas Jan Ader ao degradante Orçamento teixeiresco

10-07-2011
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BAS JAN ADER. Fall 1.

BAS JAN ADER. Fall 2.

Vejamos a situação actual nacional. Agora agora.

O chamado diálogo sobre o Orçamento 2011 entre o PS e o seu gémeo serial killer da nossa vida colectiva, o PSD. Para quê o diálogo, este chamado “diálogo”, e o que está em causa? Bom, em primeiro lugar, um e outro partido trabalham neste momento para se desresponsabilizarem do desastre que nestes anos passados causaram com as suas políticas de matriz agressivamente liberal. Agora, receiam ambos este Orçamento, que para toda a gente lúcida (inclusivamente para Teixeira dos Santos, acreditem) é um Orçamento inclassificavelmente péssimo – para Daniel Bessa, para toda a oposição de esquerda, para o FMI, para as agências de rating, e para quem sistematicamente, todos os anos invariavelmente, classifica Teixeira dos Santos como o pior Ministro das Finanças da União Europeia, o que é fácil de aceitar e compreender.

O que quer o PSD e o que quer de diferente o PS nesta chamada (apesar da desmedida hipocrisia nisto metida) “ronda de negociações” é obscuro, obscurantista mesmo: o PSD quer maiores cortes na despesa e diz recusar o aumento da carga fiscal, bem como os cortes de salários propostos pelo PS (falo sem cábulas e de memória). O PS quer atingir a meta do défice a partir do aumento de IVA e IRS, propõe cortes nas prestações sociais (e o abalo que isto trará para certas famílias é incomensurável – muitas nem filhos ou outros familiares vão poder pôr na escola, pois a ASE vai em muitos casos desaparecer-lhes), e quer cortes salariais cegos. Serão assim tão diferentes os dois irmãos? Desde há muito que não são. Ora, o que pretendem nestas ditas negociações sem objectivo que não uma mediática prenunciação tenebrista que nos deixe sem argumentos (a não ser o da “inevitabilidade” que nos silenciaria)? Minorar a farsa disto tudo e os seus efeitos eleitorais a médio prazo, o prazo que ambos sabem ser o de novas eleições antecipadas. Porque Portugal não vai suportar este orçamento, e depois de existir novo PR o governo deverá (terá de) ser derrubado.

Mas há um problema: o que quer o PSD com este aparente esforço titânico que parece estar a fazer para viabilizar o Orçamento? Quer talvez (quem sabe?) poder votar contra o monstro com o mínimo de riscos, quer demonstrar que fez tudo o que estava ao seu alcance para que saísse daqui um acordo que não foi possível por causa da intransigência do PS. Entretanto, se o dito “acordo” for alcançado, o PSD terá de se debater com o seguinte tiro no próprio pé e respectivas consequências: é corresponsabilizado pelo desastre, e, depois, que vai fazer na Assembleia?

Vai abster-se num documento de que é co-autor? Absurdo. Vai votar favoravelmente, sabendo que o desastre se anuncia? Também não. Então que vai fazer? Talvez abandonar as negociações e, apesar de tudo, viabilizar a coisa em nome de um chamado (e vago) “interesse nacional”, isto proclamado talvez numa pesarosa conferência de imprensa. Talvez seja o mais provável. Votar contra não o pode fazer, porque isso é só para os homens livres (à esquerda e à direita, mesmo). O PS vai empurrar o PSD até às tábuas que imagina tacticamente insuportáveis, como tem feito: não vai ceder (quase) nada, para que o PSD saia cabisbaixo disto, e se o PSD não aceitar o jogo, o PS vai culpabilizá-lo. Se o PS aceitar parte do jogo, o PSD também não se sairá bem, pois qualquer derrapagem ser-lhe-á atribuída, o PS irá acusar o seu parceiro de ter desfigurado o documento. Bom, chega. Paro aqui. Esta não é a minha vida nem profissão. Talvez Manuela Ferreira Leite tenha razão: estes vigaristas deviam ser encarcerados. Mas como?

BAS JAN ADER. Fall 1.

BAS JAN ADER. Fall 2.

Vejamos a situação actual nacional. Agora agora.

O chamado diálogo sobre o Orçamento 2011 entre o PS e o seu gémeo serial killer da nossa vida colectiva, o PSD. Para quê o diálogo, este chamado “diálogo”, e o que está em causa? Bom, em primeiro lugar, um e outro partido trabalham neste momento para se desresponsabilizarem do desastre que nestes anos passados causaram com as suas políticas de matriz agressivamente liberal. Agora, receiam ambos este Orçamento, que para toda a gente lúcida (inclusivamente para Teixeira dos Santos, acreditem) é um Orçamento inclassificavelmente péssimo – para Daniel Bessa, para toda a oposição de esquerda, para o FMI, para as agências de rating, e para quem sistematicamente, todos os anos invariavelmente, classifica Teixeira dos Santos como o pior Ministro das Finanças da União Europeia, o que é fácil de aceitar e compreender.

O que quer o PSD e o que quer de diferente o PS nesta chamada (apesar da desmedida hipocrisia nisto metida) “ronda de negociações” é obscuro, obscurantista mesmo: o PSD quer maiores cortes na despesa e diz recusar o aumento da carga fiscal, bem como os cortes de salários propostos pelo PS (falo sem cábulas e de memória). O PS quer atingir a meta do défice a partir do aumento de IVA e IRS, propõe cortes nas prestações sociais (e o abalo que isto trará para certas famílias é incomensurável – muitas nem filhos ou outros familiares vão poder pôr na escola, pois a ASE vai em muitos casos desaparecer-lhes), e quer cortes salariais cegos. Serão assim tão diferentes os dois irmãos? Desde há muito que não são. Ora, o que pretendem nestas ditas negociações sem objectivo que não uma mediática prenunciação tenebrista que nos deixe sem argumentos (a não ser o da “inevitabilidade” que nos silenciaria)? Minorar a farsa disto tudo e os seus efeitos eleitorais a médio prazo, o prazo que ambos sabem ser o de novas eleições antecipadas. Porque Portugal não vai suportar este orçamento, e depois de existir novo PR o governo deverá (terá de) ser derrubado.

Mas há um problema: o que quer o PSD com este aparente esforço titânico que parece estar a fazer para viabilizar o Orçamento? Quer talvez (quem sabe?) poder votar contra o monstro com o mínimo de riscos, quer demonstrar que fez tudo o que estava ao seu alcance para que saísse daqui um acordo que não foi possível por causa da intransigência do PS. Entretanto, se o dito “acordo” for alcançado, o PSD terá de se debater com o seguinte tiro no próprio pé e respectivas consequências: é corresponsabilizado pelo desastre, e, depois, que vai fazer na Assembleia?

Vai abster-se num documento de que é co-autor? Absurdo. Vai votar favoravelmente, sabendo que o desastre se anuncia? Também não. Então que vai fazer? Talvez abandonar as negociações e, apesar de tudo, viabilizar a coisa em nome de um chamado (e vago) “interesse nacional”, isto proclamado talvez numa pesarosa conferência de imprensa. Talvez seja o mais provável. Votar contra não o pode fazer, porque isso é só para os homens livres (à esquerda e à direita, mesmo). O PS vai empurrar o PSD até às tábuas que imagina tacticamente insuportáveis, como tem feito: não vai ceder (quase) nada, para que o PSD saia cabisbaixo disto, e se o PSD não aceitar o jogo, o PS vai culpabilizá-lo. Se o PS aceitar parte do jogo, o PSD também não se sairá bem, pois qualquer derrapagem ser-lhe-á atribuída, o PS irá acusar o seu parceiro de ter desfigurado o documento. Bom, chega. Paro aqui. Esta não é a minha vida nem profissão. Talvez Manuela Ferreira Leite tenha razão: estes vigaristas deviam ser encarcerados. Mas como?

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