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10-07-2011
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No concurso dos “Grandes Portugueses”, promovido pela RTP, gosto de Pessoa e de Camões. Afinal, estamos num país de políticos muito pequenos. Simpatizo com Aristides Sousa Mendes, mas vou votar em Álvaro Cunhal. Não é voto útil contra Salazar, é convicção. Estou farto de meias tintas, de gente sem coragem, nem inteligência. O concurso serve para pouca coisa, mas numa sociedade que se rendeu à injustiça, pode lembrar gente que, numa altura em que muitos preferiram dobrar a cerviz, disse: “não”. Álvaro Cunhal ajudou-nos a conquistar a liberdade. Enganou-se (enganou-nos) sobre a União Soviética, mas não renegou as promessas da Revolução de Outubro. Foi prisioneiro de muitos dos sonhos do Século XX, mas nunca deixou de acreditar que era possível vivermos num mundo melhor. Muito desse Século está preso nesta dialéctica sangrenta. Nas palavras do poeta Ossip Mandelstam, “para arrancar o Século à sua prisão, para começar um mundo novo” era preciso fazer “correr o sangue das vértebras de duas épocas”. Num debate de Cunhal com alunos da Faculdade de Direito de Lisboa, houve quem lhe perguntasse se achava que a sua vida tinha valido a pena, depois da queda da União Soviética. O dirigente comunista respondeu, contando uma história de um homem revoltado da antiga Grécia, a quem os Deuses tinham castigado com inúmeras desgraças, que tinha atirado uma flecha aos céus contra a adversidade. A flecha subiu, subiu e quando caiu vinha com sangue. Sangue dos Deuses.

Nota pequenina: Para “advogado de defesa” de Cunhal mais valia terem convidado Pacheco Pereira e terem deixado de fora aquela espécime de PCP tablóide, que torna qualquer causa num diálogo de teatro de revista mal declamado. Mas bem vistas as coisas, havia pior: podia ser o Morais e Castro.

Nota grande: não tinha ainda lido o Bruno no Avatares. Recomendo vivamente os textos que escreveu sobre o assunto.

No concurso dos “Grandes Portugueses”, promovido pela RTP, gosto de Pessoa e de Camões. Afinal, estamos num país de políticos muito pequenos. Simpatizo com Aristides Sousa Mendes, mas vou votar em Álvaro Cunhal. Não é voto útil contra Salazar, é convicção. Estou farto de meias tintas, de gente sem coragem, nem inteligência. O concurso serve para pouca coisa, mas numa sociedade que se rendeu à injustiça, pode lembrar gente que, numa altura em que muitos preferiram dobrar a cerviz, disse: “não”. Álvaro Cunhal ajudou-nos a conquistar a liberdade. Enganou-se (enganou-nos) sobre a União Soviética, mas não renegou as promessas da Revolução de Outubro. Foi prisioneiro de muitos dos sonhos do Século XX, mas nunca deixou de acreditar que era possível vivermos num mundo melhor. Muito desse Século está preso nesta dialéctica sangrenta. Nas palavras do poeta Ossip Mandelstam, “para arrancar o Século à sua prisão, para começar um mundo novo” era preciso fazer “correr o sangue das vértebras de duas épocas”. Num debate de Cunhal com alunos da Faculdade de Direito de Lisboa, houve quem lhe perguntasse se achava que a sua vida tinha valido a pena, depois da queda da União Soviética. O dirigente comunista respondeu, contando uma história de um homem revoltado da antiga Grécia, a quem os Deuses tinham castigado com inúmeras desgraças, que tinha atirado uma flecha aos céus contra a adversidade. A flecha subiu, subiu e quando caiu vinha com sangue. Sangue dos Deuses.

Nota pequenina: Para “advogado de defesa” de Cunhal mais valia terem convidado Pacheco Pereira e terem deixado de fora aquela espécime de PCP tablóide, que torna qualquer causa num diálogo de teatro de revista mal declamado. Mas bem vistas as coisas, havia pior: podia ser o Morais e Castro.

Nota grande: não tinha ainda lido o Bruno no Avatares. Recomendo vivamente os textos que escreveu sobre o assunto.

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