Volkswagen: como gerir a crise do escândalo do software

23-09-2015
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"Fizemos uma asneira. Temos sido desonestos com a agência de protecção ambiental (EPA), com o conselho da agência que lida com o ar da Califórnia (ARB) e temos sido desonestos consigo", admitiu Michael Horn, presidente da Volkswagen (VW) nos EUA.

Assumir os erros e clarificar as dúvidas é o primeiro passo a tomar numa situação de crise resultante de falhas que são directamente imputáveis à empresa. Quem o diz sãos os especialistas em gestão de crises contactados pelo Económico que defendem que, depois de assumidas as culpas, torna-se fundamental "agir rapidamente e com transparência".

"A reputação demora anos a construir e minutos para destruir. Esta é uma máxima de gestão de crise que se aplica nesta situação. A queda em bolsa é um primeiro sinal para a quebra de confiança do mercado. No entanto, outros vão aparecer e exigir que a VW trabalhe de forma consistente e a longo prazo, o posicionamento a reputação quer local, quer global", refere Ana Margarida Ximenes, directora-geral da Atrevia Portugal.

A construtora alemã está a ser acusada nos EUA de adulterar o desempenho dos motores em termos de emissões para a atmosfera através de um ‘software' incorporado no veículo, enfrentando uma multa que pode ir até aos 15,9 mil milhões de euros.

"A estratégia da VW deverá passar por toda a clareza de informação, assente na sustentabilidade e, claro, definindo a questão ambiental como uma prioridade", acrescenta Luís Bernardo, administrador da WL Partners.

Em comunicado, o grupo esclarece que "os veículos novos com motores diesel UE 6 disponíveis na União Europeia, estão em conformidade com os requisitos legais e as normas ambientais", mas que os veículos "com motores tipo EA 189, envolvendo cerca de onze milhões de automóveis em todo o mundo", poderão ter discrepâncias nos dados das emissões.

Para Ricardo Rodrigues, CEO da Press Media, uma marca como a VW que "assume deliberadamente que mentiu, vê os seus princípios e valores afectados. Será difícil à marca VW voltar a andar sobre rodas'".

A VW afirmou que vai entregar a uma empresa externa a investigação para que seja realizado um inquérito exaustivo, mas até ao momento ainda não apontou qual a empresa. A chanceler alemã, Angela Merkel, já pediu ao grupo que garanta "transparência total" no caso da manipulação das emissões poluentes nos veículos. O Estado alemão, que detém 20% VW, terá consequências como qualquer outro accionista. Para já está a ter de lidar com a desvalorização do activo.

A razão que levou a empresa a avançar por este caminho sinuoso é ainda uma incógnita.Sabe-se que um dos objectivos da fabricante para os próximos anos era aumentar as vendas nos EUA, que representa 9,4% das vendas, muito pouco face à China (34,5%) ou à Europa (41,2%). Os motores a diesel, promovidos como limpos e potentes, eram uma das suas principais formas de penetração nos EUA. Desde segunda-feira passada, a VW está proibida de vender os seus automóveis a diesel nos EUA.

A Comissão Europeia não vai para já avançar com uma investigação europeia sobre a VW mas afirma estar a acompanhar o assunto. "Acredito que nos próximos dois a três meses o grupo VW esteja sobre auscultação do público, como tal o ‘timing' é essencial para a recuperação da empresa", sublinha Ricardo Rodrigues.

António Pinheiro, director-geral da Verbadixt, relembra o caso da BP em que o CEO foi demitido o que é "previsível" num caso destes e o que se espera que aconteça ainda esta semana. "Tem de ser enviada uma mensagem de confiança. O factor mais importante é o tempo. Normalmente estas situações não estão ligadas há marca, mas a pessoas".

Ana Margarida Ximenes não encontra justificação para que o CEO da VW se mantenha no exercício das suas funções. "A decisão é ilegal, uma ameaça à saúde pública, uma violação e um desrespeito pelo meio ambiente. Este CEO é responsável por uma decisão clara de interferir nos resultados de testes de emissões poluentes, um assunto crucial para o sector, população em geral". Apesar do pedido público de desculpas, Ana Margarida Ximenes acredita não existirem condições para que os colaboradores, clientes, investidores, parceiros, accionistas mantenham a confiança no grupo sob a liderança deste CEO.

* Noticia corrigida com alteração, no sétimo paragrafo, do nome da empresa.

"Fizemos uma asneira. Temos sido desonestos com a agência de protecção ambiental (EPA), com o conselho da agência que lida com o ar da Califórnia (ARB) e temos sido desonestos consigo", admitiu Michael Horn, presidente da Volkswagen (VW) nos EUA.

Assumir os erros e clarificar as dúvidas é o primeiro passo a tomar numa situação de crise resultante de falhas que são directamente imputáveis à empresa. Quem o diz sãos os especialistas em gestão de crises contactados pelo Económico que defendem que, depois de assumidas as culpas, torna-se fundamental "agir rapidamente e com transparência".

"A reputação demora anos a construir e minutos para destruir. Esta é uma máxima de gestão de crise que se aplica nesta situação. A queda em bolsa é um primeiro sinal para a quebra de confiança do mercado. No entanto, outros vão aparecer e exigir que a VW trabalhe de forma consistente e a longo prazo, o posicionamento a reputação quer local, quer global", refere Ana Margarida Ximenes, directora-geral da Atrevia Portugal.

A construtora alemã está a ser acusada nos EUA de adulterar o desempenho dos motores em termos de emissões para a atmosfera através de um ‘software' incorporado no veículo, enfrentando uma multa que pode ir até aos 15,9 mil milhões de euros.

"A estratégia da VW deverá passar por toda a clareza de informação, assente na sustentabilidade e, claro, definindo a questão ambiental como uma prioridade", acrescenta Luís Bernardo, administrador da WL Partners.

Em comunicado, o grupo esclarece que "os veículos novos com motores diesel UE 6 disponíveis na União Europeia, estão em conformidade com os requisitos legais e as normas ambientais", mas que os veículos "com motores tipo EA 189, envolvendo cerca de onze milhões de automóveis em todo o mundo", poderão ter discrepâncias nos dados das emissões.

Para Ricardo Rodrigues, CEO da Press Media, uma marca como a VW que "assume deliberadamente que mentiu, vê os seus princípios e valores afectados. Será difícil à marca VW voltar a andar sobre rodas'".

A VW afirmou que vai entregar a uma empresa externa a investigação para que seja realizado um inquérito exaustivo, mas até ao momento ainda não apontou qual a empresa. A chanceler alemã, Angela Merkel, já pediu ao grupo que garanta "transparência total" no caso da manipulação das emissões poluentes nos veículos. O Estado alemão, que detém 20% VW, terá consequências como qualquer outro accionista. Para já está a ter de lidar com a desvalorização do activo.

A razão que levou a empresa a avançar por este caminho sinuoso é ainda uma incógnita.Sabe-se que um dos objectivos da fabricante para os próximos anos era aumentar as vendas nos EUA, que representa 9,4% das vendas, muito pouco face à China (34,5%) ou à Europa (41,2%). Os motores a diesel, promovidos como limpos e potentes, eram uma das suas principais formas de penetração nos EUA. Desde segunda-feira passada, a VW está proibida de vender os seus automóveis a diesel nos EUA.

A Comissão Europeia não vai para já avançar com uma investigação europeia sobre a VW mas afirma estar a acompanhar o assunto. "Acredito que nos próximos dois a três meses o grupo VW esteja sobre auscultação do público, como tal o ‘timing' é essencial para a recuperação da empresa", sublinha Ricardo Rodrigues.

António Pinheiro, director-geral da Verbadixt, relembra o caso da BP em que o CEO foi demitido o que é "previsível" num caso destes e o que se espera que aconteça ainda esta semana. "Tem de ser enviada uma mensagem de confiança. O factor mais importante é o tempo. Normalmente estas situações não estão ligadas há marca, mas a pessoas".

Ana Margarida Ximenes não encontra justificação para que o CEO da VW se mantenha no exercício das suas funções. "A decisão é ilegal, uma ameaça à saúde pública, uma violação e um desrespeito pelo meio ambiente. Este CEO é responsável por uma decisão clara de interferir nos resultados de testes de emissões poluentes, um assunto crucial para o sector, população em geral". Apesar do pedido público de desculpas, Ana Margarida Ximenes acredita não existirem condições para que os colaboradores, clientes, investidores, parceiros, accionistas mantenham a confiança no grupo sob a liderança deste CEO.

* Noticia corrigida com alteração, no sétimo paragrafo, do nome da empresa.

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