Democracia em Portugal?: E o burro sou eu???

05-07-2011
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É a economia, estúpido. Eu, obcecado, me confessopor Carlos Ferreira Madeira, Publicado em 01 de Dezembro de 2010  |  Actualizado há 21 horasO mundo da loucura é fascinante. Agora, os jornalistas estão obcecados com a situação económica. De facto, são todos malucosUm homem às vezes tem o direito de perder a cabeça. Uma mulher também. Acontece. Não é bonito de se ver, mas acontece. Se a Cristina chegar a casa e encontrar o marido na cama com a empregada doméstica, perde a cabeça. Se o Joaquim quer o jantar na mesa e a mulher está numa reunião de tupperware, perde a cabeça. Se o simulador do portal das Finanças revela que o José vai receber 400 euros de devolução de IRS e, um dia qualquer, o Zé leva uma execução fiscal porque afinal tinha de pagar mais 400 euros de imposto, perde a cabeça. Se a câmara municipal decide cobrar a taxa de esgotos de uma casa que já não é propriedade da Maria há cinco anos, ela perde a cabeça. Se o centro de Saúde não aceita a sua inscrição com o cartão do cidadão e lhe exige uma cópia do contrato de arrendamento ou uma de factura da água, você perde a cabeça. E ainda por cima não tem médico de família. Há ainda quem perca a cabeça porque os jornalistas estão obcecados com a situação económica portuguesa. Então e o facto de 42% da factura de electricidade representar custos políticos? É ou não é de perder a cabeça? E eu, que não vejo a RTP (prefiro a CNN e esse é um direito que me assiste), tenho de pagar a taxa do audiovisual escondida na factura da electricidade. Perante um aumento de 30%, perco a cabeça.

Que o Estado utilize a golden share na PT para que os accionistas ganhem mais 350 milhões de euros (num total de 7,5 mil milhões) na venda da Vivo e a empresa não pague impostos em Portugal é coisa normal. Só os obcecados perdem a cabeça com isto.

O mundo da loucura é mesmo fascinante. Qualquer coisa pode fazer uma pessoa perder a cabeça. Por exemplo, aplicar impostos retroactivamente em clara violação da lei e da Constituição, com o beneplácito acordo dos zelotas do Tribunal Constitucional, é suficientemente neurótico para uma pessoa saudável perder a cabeça. Lançar três PEC num ano e cortar salários à bruta quando o Estado deixa a despesa derrapar dois mil milhões de euros é, mais ou menos, como estar de cabeça perdida.

Ao contrário do que se imagina, este não é um atributo exclusivo dos jornalistas. Se fosse, era só interná-los no Hospital Júlio de Matos e enchê-los de barbitúricos até que, com o adequado tratamento, vissem o mundo cor de rosa. Se alguém mencionar a enormidade que é pagar juros de 7,4% pelos títulos de dívida soberana, deverá ser imediatamente lobotomizado. Antes que perca a cabeça.

A técnica devia ser aplicada a todos os que se atrevem a falar da crise. A crise, meus amigos, não existe. Nunca existiu. É uma obsessão dos jornalistas que, tal como o euro, está a contagiar muita gente. Como aqueles senhores do Citigroup que defendem esta coisa horrosamente obsessiva: Portugal está insolvente e terá de pedir ajuda externa. O economista-chefe Willem Buiter é tão obcecado! O ministro irlandês da Justiça, Dermot Ahern, padece também deste mal: disse ontem que, tal como sucedeu com Dublin, Lisboa está a ser pressionada pelo BCE para atirar a toalha ao chão e aceitar um "regaste" da UE/FMI. Este homem perdeu a cabeça. Que 604 mil portugueses, 11% da população activa, estejam à procura de trabalho, eis um sinal de evidente obsessão que nada tem que ver com a situação económica. Perderam todos a cabeça.

Em 1992, Bill Clinton popularizou a frase: "É a economia, estúpido". Bill Clinton não era estúpido. Era obcecado.

Sinceramente, não há paciência. É de perder a cabeça.
 BIposta de pescada do Democracia em Portugal e do Via Justa



É a economia, estúpido. Eu, obcecado, me confessopor Carlos Ferreira Madeira, Publicado em 01 de Dezembro de 2010  |  Actualizado há 21 horasO mundo da loucura é fascinante. Agora, os jornalistas estão obcecados com a situação económica. De facto, são todos malucosUm homem às vezes tem o direito de perder a cabeça. Uma mulher também. Acontece. Não é bonito de se ver, mas acontece. Se a Cristina chegar a casa e encontrar o marido na cama com a empregada doméstica, perde a cabeça. Se o Joaquim quer o jantar na mesa e a mulher está numa reunião de tupperware, perde a cabeça. Se o simulador do portal das Finanças revela que o José vai receber 400 euros de devolução de IRS e, um dia qualquer, o Zé leva uma execução fiscal porque afinal tinha de pagar mais 400 euros de imposto, perde a cabeça. Se a câmara municipal decide cobrar a taxa de esgotos de uma casa que já não é propriedade da Maria há cinco anos, ela perde a cabeça. Se o centro de Saúde não aceita a sua inscrição com o cartão do cidadão e lhe exige uma cópia do contrato de arrendamento ou uma de factura da água, você perde a cabeça. E ainda por cima não tem médico de família. Há ainda quem perca a cabeça porque os jornalistas estão obcecados com a situação económica portuguesa. Então e o facto de 42% da factura de electricidade representar custos políticos? É ou não é de perder a cabeça? E eu, que não vejo a RTP (prefiro a CNN e esse é um direito que me assiste), tenho de pagar a taxa do audiovisual escondida na factura da electricidade. Perante um aumento de 30%, perco a cabeça.

Que o Estado utilize a golden share na PT para que os accionistas ganhem mais 350 milhões de euros (num total de 7,5 mil milhões) na venda da Vivo e a empresa não pague impostos em Portugal é coisa normal. Só os obcecados perdem a cabeça com isto.

O mundo da loucura é mesmo fascinante. Qualquer coisa pode fazer uma pessoa perder a cabeça. Por exemplo, aplicar impostos retroactivamente em clara violação da lei e da Constituição, com o beneplácito acordo dos zelotas do Tribunal Constitucional, é suficientemente neurótico para uma pessoa saudável perder a cabeça. Lançar três PEC num ano e cortar salários à bruta quando o Estado deixa a despesa derrapar dois mil milhões de euros é, mais ou menos, como estar de cabeça perdida.

Ao contrário do que se imagina, este não é um atributo exclusivo dos jornalistas. Se fosse, era só interná-los no Hospital Júlio de Matos e enchê-los de barbitúricos até que, com o adequado tratamento, vissem o mundo cor de rosa. Se alguém mencionar a enormidade que é pagar juros de 7,4% pelos títulos de dívida soberana, deverá ser imediatamente lobotomizado. Antes que perca a cabeça.

A técnica devia ser aplicada a todos os que se atrevem a falar da crise. A crise, meus amigos, não existe. Nunca existiu. É uma obsessão dos jornalistas que, tal como o euro, está a contagiar muita gente. Como aqueles senhores do Citigroup que defendem esta coisa horrosamente obsessiva: Portugal está insolvente e terá de pedir ajuda externa. O economista-chefe Willem Buiter é tão obcecado! O ministro irlandês da Justiça, Dermot Ahern, padece também deste mal: disse ontem que, tal como sucedeu com Dublin, Lisboa está a ser pressionada pelo BCE para atirar a toalha ao chão e aceitar um "regaste" da UE/FMI. Este homem perdeu a cabeça. Que 604 mil portugueses, 11% da população activa, estejam à procura de trabalho, eis um sinal de evidente obsessão que nada tem que ver com a situação económica. Perderam todos a cabeça.

Em 1992, Bill Clinton popularizou a frase: "É a economia, estúpido". Bill Clinton não era estúpido. Era obcecado.

Sinceramente, não há paciência. É de perder a cabeça.
 BIposta de pescada do Democracia em Portugal e do Via Justa

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