MEDITAÇÃO NA PASTELARIA: A book a day keeps the doctor away: "Contra a Literatice e Afins", João Gonçalves

02-07-2011
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Terminada a leitura de Contra a Literatice e Afins, uma conclusão se impõe (entre outras): a objectividade pode ser, às vezes, muito subjectiva. Dito isto, acrescente-se que a frase anterior não tem carácter epistemológico mas tão-só idiossincrático: João Gonçalves zurze no que não gosta e exalta o que gosta de um modo que não deixa margem para dúvidas. O poeta-padre José Tolentino Mendonça, por ex., Não [o] aquece nem arrefece com os seus rodriguinhos que deixam muita gente eminentemente respeitável em êxtase; já Manuel Teixeira Gomes lhe merece um texto compassivo e perspicaz: Era um sensualista que amava os prazeres indistintos que a vida lhe proporciona e que talvez se tivesse enganado, como outros, no lugar onde nasceu. João Gonçalves, jurista, colaborador do defunto Semanário e autor do blogue Portugal dos Pequeninos, esclarece a abrir que fez um livro de breves notas e não de teses, no pressuposto elementar de que a literatura não é democrática. Aquilo que condena à cabeça é a literatice pela literatice, mal que reputa ter atacado em doses decididamente não homeopáticas o que passa por literatura portuguesa contemporânea. Pugna pelo gozo estético, citando Nabokov, e esgrime contra a proliferação das más ideias em torno da literatura. O programa será vasto mas, posto assim, absolutamente consensual. E será também por isso que o seu livro, cuja irreverência se presume, acaba por saber a pouco. Se era para “bater”, uns eram desnecessários e outros faltam. Mas não fora para ler o seu argumento contra o acordo ortográfico valeria a pena: um ‘intelectual’ que fala em ‘uniformização da língua’ não é um intelectual. É uma besta. Contra a Literatice e Afins, João Gonçalves, Guerra & Paz, 2011


Terminada a leitura de Contra a Literatice e Afins, uma conclusão se impõe (entre outras): a objectividade pode ser, às vezes, muito subjectiva. Dito isto, acrescente-se que a frase anterior não tem carácter epistemológico mas tão-só idiossincrático: João Gonçalves zurze no que não gosta e exalta o que gosta de um modo que não deixa margem para dúvidas. O poeta-padre José Tolentino Mendonça, por ex., Não [o] aquece nem arrefece com os seus rodriguinhos que deixam muita gente eminentemente respeitável em êxtase; já Manuel Teixeira Gomes lhe merece um texto compassivo e perspicaz: Era um sensualista que amava os prazeres indistintos que a vida lhe proporciona e que talvez se tivesse enganado, como outros, no lugar onde nasceu. João Gonçalves, jurista, colaborador do defunto Semanário e autor do blogue Portugal dos Pequeninos, esclarece a abrir que fez um livro de breves notas e não de teses, no pressuposto elementar de que a literatura não é democrática. Aquilo que condena à cabeça é a literatice pela literatice, mal que reputa ter atacado em doses decididamente não homeopáticas o que passa por literatura portuguesa contemporânea. Pugna pelo gozo estético, citando Nabokov, e esgrime contra a proliferação das más ideias em torno da literatura. O programa será vasto mas, posto assim, absolutamente consensual. E será também por isso que o seu livro, cuja irreverência se presume, acaba por saber a pouco. Se era para “bater”, uns eram desnecessários e outros faltam. Mas não fora para ler o seu argumento contra o acordo ortográfico valeria a pena: um ‘intelectual’ que fala em ‘uniformização da língua’ não é um intelectual. É uma besta. Contra a Literatice e Afins, João Gonçalves, Guerra & Paz, 2011

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