Margens de erro: Sondagens presidenciais: comentários

23-11-2019
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1. Importa começar por notar que as duas sondagens publicadas hoje são sobre coisas diferentes. A primeira apresenta um cenário de 1ª volta com 4 candidatos presidenciais, três certos e um provável. A segunda apresenta um cenário de 2ª volta, com Cavaco e Soares. As comparações possíveis são, portanto, altamente limitadas. Contudo, a sondagem da Católica colocou também os eleitores perante um possível cenário de 2ª volta, o que já permite comparação com a sondagem Aximage. Assim, temos:Cavaco, 2ª volta, após redistribuição de indecisosCatólica: 64%Aximage: 60%Soares, 2ª volta, após redistribuição de indecisosCatólica: 36%Aximage: 40%As diferenças estão dentro da margem de erro. Há ainda várias coisas parecidas nas duas sondagens, em particular o facto (à primeira vista surpreendente) de a maior parte do eleitorado de Louçã (na Católica) e BE (Aximage) declarar tencionar votar Cavaco na 2ª volta, ao passo que a maior parte do eleitorado Jerónimo (Católica) e CDU (Aximage) afirma que tenciona abster-se.2. Dito isto, os resultados de uma possível 2ª volta são o que menos interessa. Soares não é o candidato nem do BE nem do PCP, e uma 2ª volta não passa de um cenário hipotético. Só quando Soares se tornar o candidato desses dois partidos - quando e se houver uma segunda volta - é que se pode ter uma ideia mais clara do que esses eleitorados irão fazer. Para já, Soares surge, com toda a probabilidade, muito subestimado nestas sondagens no que respeita a uma 2ª volta.3. Muito mais interessante é perceber o que se passa na 1ª volta. Tenho vindo a defender em vários posts que a natureza destas eleições - eleições que não servem para eleger um governo - favorece, por parte dos eleitorado do PS, a sua utilização para castigar o partido de governo, ao passo que desincentiva eleitores "sinceros" de outros partidos, que terão votado útil no PS nas legislativas, de repetir a façanha em eleições presidenciais. E assim parece acontecer: em ambas as sondagens, os eleitores do PS encontram-se menos motivados para votar Soares que os eleitores PSD para votar Cavaco, e os eleitores à esquerda do PS hesitantes em passar para Soares numa segunda volta (pelo menos para já).4. Para mim, perturbante: que a maioria dos eleitores (quer os que tencionam votar Cavaco, quer Soares, quer todos os outros) achem que o Presidente deva ter mais poderes ou que deva intervir na vida política do dia-a-dia para "ajudar a resolver os problemas do país" (72%). Quando se acha que os problemas do país se resolvem de Belém, isso significa que se acha que as instituições que de facto deviam governar e legislar estão bloqueadas. A importância inusitada que a comunicação social e os comentadores têm vindo a dar as presidenciais de há dois anos para cá é sintoma disto. Mas que isto fosse assim durante o consulado de Santana Lopes, ou mesmo antes, não me surpreende muito. Agora que se continue a achar isso quando um governo dispõe de uma maioria absoluta só posso ver como mau sinal.


1. Importa começar por notar que as duas sondagens publicadas hoje são sobre coisas diferentes. A primeira apresenta um cenário de 1ª volta com 4 candidatos presidenciais, três certos e um provável. A segunda apresenta um cenário de 2ª volta, com Cavaco e Soares. As comparações possíveis são, portanto, altamente limitadas. Contudo, a sondagem da Católica colocou também os eleitores perante um possível cenário de 2ª volta, o que já permite comparação com a sondagem Aximage. Assim, temos:Cavaco, 2ª volta, após redistribuição de indecisosCatólica: 64%Aximage: 60%Soares, 2ª volta, após redistribuição de indecisosCatólica: 36%Aximage: 40%As diferenças estão dentro da margem de erro. Há ainda várias coisas parecidas nas duas sondagens, em particular o facto (à primeira vista surpreendente) de a maior parte do eleitorado de Louçã (na Católica) e BE (Aximage) declarar tencionar votar Cavaco na 2ª volta, ao passo que a maior parte do eleitorado Jerónimo (Católica) e CDU (Aximage) afirma que tenciona abster-se.2. Dito isto, os resultados de uma possível 2ª volta são o que menos interessa. Soares não é o candidato nem do BE nem do PCP, e uma 2ª volta não passa de um cenário hipotético. Só quando Soares se tornar o candidato desses dois partidos - quando e se houver uma segunda volta - é que se pode ter uma ideia mais clara do que esses eleitorados irão fazer. Para já, Soares surge, com toda a probabilidade, muito subestimado nestas sondagens no que respeita a uma 2ª volta.3. Muito mais interessante é perceber o que se passa na 1ª volta. Tenho vindo a defender em vários posts que a natureza destas eleições - eleições que não servem para eleger um governo - favorece, por parte dos eleitorado do PS, a sua utilização para castigar o partido de governo, ao passo que desincentiva eleitores "sinceros" de outros partidos, que terão votado útil no PS nas legislativas, de repetir a façanha em eleições presidenciais. E assim parece acontecer: em ambas as sondagens, os eleitores do PS encontram-se menos motivados para votar Soares que os eleitores PSD para votar Cavaco, e os eleitores à esquerda do PS hesitantes em passar para Soares numa segunda volta (pelo menos para já).4. Para mim, perturbante: que a maioria dos eleitores (quer os que tencionam votar Cavaco, quer Soares, quer todos os outros) achem que o Presidente deva ter mais poderes ou que deva intervir na vida política do dia-a-dia para "ajudar a resolver os problemas do país" (72%). Quando se acha que os problemas do país se resolvem de Belém, isso significa que se acha que as instituições que de facto deviam governar e legislar estão bloqueadas. A importância inusitada que a comunicação social e os comentadores têm vindo a dar as presidenciais de há dois anos para cá é sintoma disto. Mas que isto fosse assim durante o consulado de Santana Lopes, ou mesmo antes, não me surpreende muito. Agora que se continue a achar isso quando um governo dispõe de uma maioria absoluta só posso ver como mau sinal.

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