ESTRAGO DA NAÇÃO: O defensor de Sócrates

30-06-2011
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Dos vários defensores da legalidade de procedimentos na aprovação do Freeport em vésperas das eleições legislativas de 2002, surgiu Rui Gonçalves, então secretário de Estado do Ambiente, que assinou a declaração de impacte ambiental. Tanto ele como Sócrates têm tentado fazer passar a mensagem que o então ministro do Ambiente (Sócrates) estaria, digamos assim, a leste da situação do estudo de impacte ambiental, por haver uma delegação de competência para esta área. Ou seja, que Rui Gonçalves decidira um mero assunto de expediente, sem que Sócrates estivesse ao corrente do assunto.Ora, quem como eu acompanhou os assuntos do Ministério do Ambiente - e o consulado de Sócrates - desde 1995 (quando ele era ainda um obscuro político), apenas pode esboçar um sorriso. Vale a pena tecer algumas considerações, à laia de nota biográfica, do percurso de Rui Gonçalves e das relações com Sócrates.Rui Gonçalves foi, durante anos, o mentor de Sócrates nas lides ambientais, como seu chefe de gabinete. Mentor no sentido de lhe ensinar quase o bê-a-bá em matérias ambientais e tinha mesmo um papel de destaque em muitas das iniciativas que Sócrates fez na sua primeira passagem pelo Ministério do Ambiente, ainda como secretário de Estado-adjunto da então ministra do Ambiente, Elisa Ferreira.Tanto eram unha com carne que Sócrates o haveria de levar para seu chefe de gabinete aquando da sua passagem, a partir de 1997, para ministro-adjunto de Guterres até ao fim da primeira legislatura de Guterres. Depois, no regresso ao Ministério do Ambiente, em 1999, já como ministro, Sócrates promoveu o seu chefe de gabinete a secretário de Estado do Ambiente. Tal como promoveu um outro seu assessor de anos - Pedro Silva Pereira - à outra secretaria de Estado, a do Ordenamento do Território. Rui Gonçalves, durante todos estes anos, foi assim uma espécie de alter ego de Sócrates.No entanto, algo se terá passado na relação entre os dois, porque aos poucos Rui Gonçalves foi perdendo peso no Ministério e acredito que houve mesmo uma completa perda de confiança por parte do seu ministro. Neste entretanto Pedro Silva Pereira passou a ser o alter ego de Sócrates (dizem que tanto que PSP ganhou os tiques de Sócrates, embora eu ache que foi Sócrates a ganhar os tiques de PSP).Por tudo isto. aquilo que Rui Gonçalves fazia, nos últimos tempos, estaria a ser controlado por Sócrates. Donde se conclui que a ordem de aprovação da declaração de impacte ambiental de um projecto tão importante como o Freeport - e jamais Sócrates pode dizer que não o era, pois se assim não fosse jamais teria sido aprovado em tempo recorde - nunca poderia ser feita sem conhecimento (e admito que por imposição) de Sócrates.Certo é que os dois saíram zangados do Ministério do Ambiente, «mau ambiente» que se notou logo pelo simples facto de, ao contrário de Pedro Silva Pereira, Sócrates (já então com grande peso político no PS) não ter incluído Rui Gonçalves nas listas para a Assembleia da República. Entre 2002 e 2005, Rui Gonçalves regressou, como simples técnico para o Instituto do Ambiente, ocupando a quase inexistente direcção de Serviços de Participação do Cidadão.Com o o regresso do PS ao Governo, e com Sócrates como primeiro-ministro, o seu ex-braço direito foi «reabilitado». Numa linha que eu classificaria como maquiavélica (não menosprezes os teus ex-amigos e confidentes), Rui Gonçalves foi nomeado para secretário de Estado de Estado do Desenvolvimento Rural e das Florestas, uma função secundária e para a qual nem tinha perfil. Certo é que, pelo que sei, as relações entre Rui Gonçalves e Jaime Silva, ministro da Agricultura, nunca foram as melhores. E por isso, no ano passado, aproveitou-se uma remodelação ministerial - que nem abrangeu a Agricutura - para «o chutar para cima» (também outro princípio maquiavélico). Assim, Rui Gonçalves foi logo nomeado, em Abril de 2008, para vogal do Conselho de Administração da Empresa Geral do Fomento e, por inerência, assumiu os cargos de presidente do Conselho de Administração da Valnor, da Rebat, da Resat, da Residouro e ainda de vogal da Valorsul, passando ainda a presidir, a partir de Setembro, à Resiestrela (tudo universo de empresas multimunicipais da área do saneamento básico criadas por José Sócrates, quando ministro do Ambiente).Em suma, Rui Gonçalves passou de «amado» de Sócrates a «mal-amado», mas aquele nunca o deixou cair completamente em desgraça. Veio agora Rui Gonçalves, talvez agradecido, dar o peito às balas por José Sócrates.Etiquetas: Freeport, política

Dos vários defensores da legalidade de procedimentos na aprovação do Freeport em vésperas das eleições legislativas de 2002, surgiu Rui Gonçalves, então secretário de Estado do Ambiente, que assinou a declaração de impacte ambiental. Tanto ele como Sócrates têm tentado fazer passar a mensagem que o então ministro do Ambiente (Sócrates) estaria, digamos assim, a leste da situação do estudo de impacte ambiental, por haver uma delegação de competência para esta área. Ou seja, que Rui Gonçalves decidira um mero assunto de expediente, sem que Sócrates estivesse ao corrente do assunto.Ora, quem como eu acompanhou os assuntos do Ministério do Ambiente - e o consulado de Sócrates - desde 1995 (quando ele era ainda um obscuro político), apenas pode esboçar um sorriso. Vale a pena tecer algumas considerações, à laia de nota biográfica, do percurso de Rui Gonçalves e das relações com Sócrates.Rui Gonçalves foi, durante anos, o mentor de Sócrates nas lides ambientais, como seu chefe de gabinete. Mentor no sentido de lhe ensinar quase o bê-a-bá em matérias ambientais e tinha mesmo um papel de destaque em muitas das iniciativas que Sócrates fez na sua primeira passagem pelo Ministério do Ambiente, ainda como secretário de Estado-adjunto da então ministra do Ambiente, Elisa Ferreira.Tanto eram unha com carne que Sócrates o haveria de levar para seu chefe de gabinete aquando da sua passagem, a partir de 1997, para ministro-adjunto de Guterres até ao fim da primeira legislatura de Guterres. Depois, no regresso ao Ministério do Ambiente, em 1999, já como ministro, Sócrates promoveu o seu chefe de gabinete a secretário de Estado do Ambiente. Tal como promoveu um outro seu assessor de anos - Pedro Silva Pereira - à outra secretaria de Estado, a do Ordenamento do Território. Rui Gonçalves, durante todos estes anos, foi assim uma espécie de alter ego de Sócrates.No entanto, algo se terá passado na relação entre os dois, porque aos poucos Rui Gonçalves foi perdendo peso no Ministério e acredito que houve mesmo uma completa perda de confiança por parte do seu ministro. Neste entretanto Pedro Silva Pereira passou a ser o alter ego de Sócrates (dizem que tanto que PSP ganhou os tiques de Sócrates, embora eu ache que foi Sócrates a ganhar os tiques de PSP).Por tudo isto. aquilo que Rui Gonçalves fazia, nos últimos tempos, estaria a ser controlado por Sócrates. Donde se conclui que a ordem de aprovação da declaração de impacte ambiental de um projecto tão importante como o Freeport - e jamais Sócrates pode dizer que não o era, pois se assim não fosse jamais teria sido aprovado em tempo recorde - nunca poderia ser feita sem conhecimento (e admito que por imposição) de Sócrates.Certo é que os dois saíram zangados do Ministério do Ambiente, «mau ambiente» que se notou logo pelo simples facto de, ao contrário de Pedro Silva Pereira, Sócrates (já então com grande peso político no PS) não ter incluído Rui Gonçalves nas listas para a Assembleia da República. Entre 2002 e 2005, Rui Gonçalves regressou, como simples técnico para o Instituto do Ambiente, ocupando a quase inexistente direcção de Serviços de Participação do Cidadão.Com o o regresso do PS ao Governo, e com Sócrates como primeiro-ministro, o seu ex-braço direito foi «reabilitado». Numa linha que eu classificaria como maquiavélica (não menosprezes os teus ex-amigos e confidentes), Rui Gonçalves foi nomeado para secretário de Estado de Estado do Desenvolvimento Rural e das Florestas, uma função secundária e para a qual nem tinha perfil. Certo é que, pelo que sei, as relações entre Rui Gonçalves e Jaime Silva, ministro da Agricultura, nunca foram as melhores. E por isso, no ano passado, aproveitou-se uma remodelação ministerial - que nem abrangeu a Agricutura - para «o chutar para cima» (também outro princípio maquiavélico). Assim, Rui Gonçalves foi logo nomeado, em Abril de 2008, para vogal do Conselho de Administração da Empresa Geral do Fomento e, por inerência, assumiu os cargos de presidente do Conselho de Administração da Valnor, da Rebat, da Resat, da Residouro e ainda de vogal da Valorsul, passando ainda a presidir, a partir de Setembro, à Resiestrela (tudo universo de empresas multimunicipais da área do saneamento básico criadas por José Sócrates, quando ministro do Ambiente).Em suma, Rui Gonçalves passou de «amado» de Sócrates a «mal-amado», mas aquele nunca o deixou cair completamente em desgraça. Veio agora Rui Gonçalves, talvez agradecido, dar o peito às balas por José Sócrates.Etiquetas: Freeport, política

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