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29-03-2015
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São muitos milhões (24), muitos esquemas (telefonemas cifrados, contas bancárias, offshores), mas apenas dois lados: a acusação e a defesa. A SÁBADO publica na sua edição impressa de 5 de Março as principais conclusões da investigação e também os argumentos da defesa. Tudo o que é contado aos leitores é baseado na consulta dos próprios documentos do processo.

Os dados recolhidos pela equipa do procurador Rosário Teixeira, e validadas como prova pelo juiz de instrução Carlos Alexandre, ilustram para as autoridades judiciais, um esquema em que os dois amigos, José Sócrates e Carlos santos Silva, construíram um acervo conjunto de perto de 24 milhões de euros, que ao longo do tempo foram tentando, por um lado, legalizar, por outro, fazer chegar ao ex-primeiro-ministro sem levantar suspeitas. O capital teve, para o MP, terá tido origem sobretudo no grupo Lena.

Conheça as principais conclusões da acusação.

1 –Compra de um apartamento de luxo em Paris

Esteve sempre em nome de Santos Silva, é certo. Mas só Sócrates lá viveu. Também o emprestou (o filho de Pedro Silva Pereira chegou a compartilhar a casa com o ex-primeiro-ministro), fez obras, escolheu os materiais, a decoração, esteve presente em contactos com arquitectos, e quando não pôde estar presente indicou a ex-mulher, Sofia Fava, para o fazer por si. A decisão de venda da casa, de acordo com o MP, também foi de Sócrates.

2- Venda das casas da mãe de Sócrates: um esquema para fazer chegar dinheiro a Sócrates.

Santos Silva adquiriu à mãe de José Sócrates vários imóveis. Mas o dinheiro, fruto das transacções, que chegada às contas bancárias de Maria Adelaide, era imediatamente transferido para as contas do filho José Sócrates, sob uma aparência totalmente legal. O MP vê Santos Silva como um mero "gestor fiduciário" . O dinheiro destas transacções saía da conta do BES que o MP considera ser de Sócrates (embora titulada por Santos Silva) para uma conta de Santos Silva, daí para a conta de Maria Adelaide, para finalmente transitar para a conta de Sócrates na CGD – a única que este admitiu ser sua.

3- Entregas de "fotocópias"

As conversas sobre dinheiro entre Santos Silva e Sócrates eram cifradas e o MP considera que isso não seria necessário de se tratassem de normais "empréstimos" entre amigos, como diz a defesa do ex-primeiro-ministro. Este exigia (não pedia, outro ponto em destaque na acusação) 'fotocópias' ou 'folhas de dossiê'. O amigo encarregava-se dos procedimentos para lhe fazer em seguida entregas de dinheiro, quase sempre através de João Perna, o motorista. A 27 de Novembro de 2013, por exemplo, o MP identificou uma entrega de 50 mil euros, destinada a André Figueiredo (seu ex-chefe de gabinete no partido). As quantias eram regra geral acima de cinco mil euros e com frequência acima de 15 mil.

4-O destino das "fotocópias"

Além da linguagem cifrada, os dois amigos recorriam a um esquema pouco aberto (não há transferências directas de Santos Silva para as contas de Sócrates, por exemplo) para que o ex-primeiro-ministro recebesse as verbas, ou "fotocópias", com que sustentava depois o seu dia a dia: roupa, rendas, condomínios, viagens (por exemplo as férias em Formentera em Julho de 2014) e até presentes de Natal

5-Mobilizações de fundos para aquisição de livros:

O livro A Confiança no Mundo, da autoria de Sócrates, foi publicado em Outubro de 2013 e manteve-se nos tops das livrarias com vendas expressivas. Sócrates angariou uma rede de amigos para lhe comprarem livros (às dezenas ou centenas) pelo País, para alimentar artificialmente os números de venda. A defesa de santos Silva não contesta a veracidade deste expediente, admite mesmo que possa ser censurável, mas considera que "não é crime."

6-Utilização da conta de João Perna para a circulação dos fundos

Entre Agosto de 2011 e Julho de 2014, João Perna recebeu na sua conta bancária 1200 euros por mês (parte deles não declarados em sede fiscal). Mas havia "trânsito" de importâncias de maior valor, pontuais. Em Outubro de 2011, por exemplo, caíram 25 mil euros na conta de Perna, usados para liquidar o condomínio de Sócrates no prédio da Heron Castilho, em Lisboa, e contas de agências de viagens também de Sócrates. Mas quem "abastecia" a conta de Perna era Santos Silva.

7-Pagamentos realizados por Carlos Santos Silva a uma amiga de Sócrates:

É o maior mistério da investigação: Carlos Santos Silva entregou a uma mulher chamada Sandra Sousa, "do relacionamento pessoal" de José Sócrates que vive na Suíça, valores que ascendem a quase 100 mil euros entre 2008 e 2014. Sandra terá chegado a passar férias com José Sócrates e deslocou-se várias vezes a Portugal.

8-Pagamento de despesas de viagens

Sócrates viajou com grande frequência ao longo dos últimos anos. Era Santos Silva a fazer os pagamentos das despesas inerentes. Mesmo quando passavam férias juntos (em casas alugadas separadas), era o amigo a pagar. Ainda que fosse Sócrates a escolher os destinos.

9-Simulação de uma segunda remuneração

Para a investigação, o contrato entre Sócrates e a Dynamicspharma, que lhe garantia uma soma de 12.500 euros mensais, como salário, era apenas uma artimanha para fazer chegar dinheiro a Sócrates de forma legal, para evitar os riscos das constantes entregas em dinheiro.

10-Decisão sobre investimentos imobiliários

O ex-primeiro-ministro queria comprar uma casa no Algarve, em Tavira, e já tinha identificado o imóvel. Sócrates chegou a fazer uma oferta, em seu nome e no d Carlos Santos Silva, no valor de 900 mil euros. Ora, na única conta que reconhece como legalmente sua, a da CGD, Sócrates não disporia desse tipo de verba, o que demonstra, para o MP "a disponibilidade dos fundos que se encontravam em nome de Carlos Santos Silva".

São muitos milhões (24), muitos esquemas (telefonemas cifrados, contas bancárias, offshores), mas apenas dois lados: a acusação e a defesa. A SÁBADO publica na sua edição impressa de 5 de Março as principais conclusões da investigação e também os argumentos da defesa. Tudo o que é contado aos leitores é baseado na consulta dos próprios documentos do processo.

Os dados recolhidos pela equipa do procurador Rosário Teixeira, e validadas como prova pelo juiz de instrução Carlos Alexandre, ilustram para as autoridades judiciais, um esquema em que os dois amigos, José Sócrates e Carlos santos Silva, construíram um acervo conjunto de perto de 24 milhões de euros, que ao longo do tempo foram tentando, por um lado, legalizar, por outro, fazer chegar ao ex-primeiro-ministro sem levantar suspeitas. O capital teve, para o MP, terá tido origem sobretudo no grupo Lena.

Conheça as principais conclusões da acusação.

1 –Compra de um apartamento de luxo em Paris

Esteve sempre em nome de Santos Silva, é certo. Mas só Sócrates lá viveu. Também o emprestou (o filho de Pedro Silva Pereira chegou a compartilhar a casa com o ex-primeiro-ministro), fez obras, escolheu os materiais, a decoração, esteve presente em contactos com arquitectos, e quando não pôde estar presente indicou a ex-mulher, Sofia Fava, para o fazer por si. A decisão de venda da casa, de acordo com o MP, também foi de Sócrates.

2- Venda das casas da mãe de Sócrates: um esquema para fazer chegar dinheiro a Sócrates.

Santos Silva adquiriu à mãe de José Sócrates vários imóveis. Mas o dinheiro, fruto das transacções, que chegada às contas bancárias de Maria Adelaide, era imediatamente transferido para as contas do filho José Sócrates, sob uma aparência totalmente legal. O MP vê Santos Silva como um mero "gestor fiduciário" . O dinheiro destas transacções saía da conta do BES que o MP considera ser de Sócrates (embora titulada por Santos Silva) para uma conta de Santos Silva, daí para a conta de Maria Adelaide, para finalmente transitar para a conta de Sócrates na CGD – a única que este admitiu ser sua.

3- Entregas de "fotocópias"

As conversas sobre dinheiro entre Santos Silva e Sócrates eram cifradas e o MP considera que isso não seria necessário de se tratassem de normais "empréstimos" entre amigos, como diz a defesa do ex-primeiro-ministro. Este exigia (não pedia, outro ponto em destaque na acusação) 'fotocópias' ou 'folhas de dossiê'. O amigo encarregava-se dos procedimentos para lhe fazer em seguida entregas de dinheiro, quase sempre através de João Perna, o motorista. A 27 de Novembro de 2013, por exemplo, o MP identificou uma entrega de 50 mil euros, destinada a André Figueiredo (seu ex-chefe de gabinete no partido). As quantias eram regra geral acima de cinco mil euros e com frequência acima de 15 mil.

4-O destino das "fotocópias"

Além da linguagem cifrada, os dois amigos recorriam a um esquema pouco aberto (não há transferências directas de Santos Silva para as contas de Sócrates, por exemplo) para que o ex-primeiro-ministro recebesse as verbas, ou "fotocópias", com que sustentava depois o seu dia a dia: roupa, rendas, condomínios, viagens (por exemplo as férias em Formentera em Julho de 2014) e até presentes de Natal

5-Mobilizações de fundos para aquisição de livros:

O livro A Confiança no Mundo, da autoria de Sócrates, foi publicado em Outubro de 2013 e manteve-se nos tops das livrarias com vendas expressivas. Sócrates angariou uma rede de amigos para lhe comprarem livros (às dezenas ou centenas) pelo País, para alimentar artificialmente os números de venda. A defesa de santos Silva não contesta a veracidade deste expediente, admite mesmo que possa ser censurável, mas considera que "não é crime."

6-Utilização da conta de João Perna para a circulação dos fundos

Entre Agosto de 2011 e Julho de 2014, João Perna recebeu na sua conta bancária 1200 euros por mês (parte deles não declarados em sede fiscal). Mas havia "trânsito" de importâncias de maior valor, pontuais. Em Outubro de 2011, por exemplo, caíram 25 mil euros na conta de Perna, usados para liquidar o condomínio de Sócrates no prédio da Heron Castilho, em Lisboa, e contas de agências de viagens também de Sócrates. Mas quem "abastecia" a conta de Perna era Santos Silva.

7-Pagamentos realizados por Carlos Santos Silva a uma amiga de Sócrates:

É o maior mistério da investigação: Carlos Santos Silva entregou a uma mulher chamada Sandra Sousa, "do relacionamento pessoal" de José Sócrates que vive na Suíça, valores que ascendem a quase 100 mil euros entre 2008 e 2014. Sandra terá chegado a passar férias com José Sócrates e deslocou-se várias vezes a Portugal.

8-Pagamento de despesas de viagens

Sócrates viajou com grande frequência ao longo dos últimos anos. Era Santos Silva a fazer os pagamentos das despesas inerentes. Mesmo quando passavam férias juntos (em casas alugadas separadas), era o amigo a pagar. Ainda que fosse Sócrates a escolher os destinos.

9-Simulação de uma segunda remuneração

Para a investigação, o contrato entre Sócrates e a Dynamicspharma, que lhe garantia uma soma de 12.500 euros mensais, como salário, era apenas uma artimanha para fazer chegar dinheiro a Sócrates de forma legal, para evitar os riscos das constantes entregas em dinheiro.

10-Decisão sobre investimentos imobiliários

O ex-primeiro-ministro queria comprar uma casa no Algarve, em Tavira, e já tinha identificado o imóvel. Sócrates chegou a fazer uma oferta, em seu nome e no d Carlos Santos Silva, no valor de 900 mil euros. Ora, na única conta que reconhece como legalmente sua, a da CGD, Sócrates não disporia desse tipo de verba, o que demonstra, para o MP "a disponibilidade dos fundos que se encontravam em nome de Carlos Santos Silva".

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