Livre dedica último dia de campanha aos “afetos” para contrariar “tempos de ódio”

23-06-2020
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Num último dia de campanha marcado pelo incidente de António Costa, o Livre foi buscar inspiração a uma outra figura da política portuguesa. “Optámos por um dia não institucional, mas de afetos, como faz o Presidente da República”, ri-se Joacine Moreira, a cabeça de lista do partido mais próxima de se eleger. Para a candidata por Lisboa, a política é feita de ideias, mas “neste tempo de ódio” exige proximidade. “Nós já não nos olhamos nos olhos.” Se o fizéssemos, acredita, “o ódio que há nas redes sociais não existiria”. Não é nas pessoas que ele está, reflete — “o ódio está no excesso de informação, que faz com que a informação útil tenha de competir com a informação inútil.”

Além de um olhar sobre o tempo, o comentário de Joacine Moreira tem uma origem muito próxima: depois de a gaguez ter ocupado parte do discurso sobre a candidata, surgiram nos últimos dias acusações de que Joacine não seria gaga, mas estaria a usar o facto como arma de campanha. “Bastaria a essas pessoas escreverem uma palavra no Google, o que aparentemente está ao alcance de todos: gaguez. Perceberiam o que ela é”, afirma ao Expresso, acrescentando que casos destes mostram que “a internet não é verdadeiramente democrática”. “O que ela democratizou foi o que não nos une, as ansiedades, as neuroses.” Para o mudar, “é preciso mais investimento na educação”.

Não é essa a única bandeira que o Livre tem agitado nos últimos dias. Na sexta-feira final, antes do dia de reflexão, o partido esteve numa ação de campanha no bairro Novo do Pinhal, em São João do Estoril, onde conversou com os moradores sobre outras duas: habitação e imigração. Também os ouviu, nuns casos a lamentarem o aumento da renda das casas e, noutros, a ver um encolher de ombros. Aos 67 anos, um dos moradores diz mesmo que pouco mais quer do que “ganhar o pão do dia a dia”. Joacine interrompe: “Esta era a retórica dos meus pais, deixarmo-nos ficar no nosso canto a ganhar o pão. Não é a retórica da minha geração, nem das mais novas.” A lei da nacionalidade e a representatividade, na política e nos cargos de poder, são temas recorrentes na campanha que a candidata tem feito. No bairro também conhecido por Fim do Mundo, Joacine não viu nada de muito diferente do que conhece da Arcena,onde cresceu e onde também tinha estado com o Expresso. As barracas, as demolições, a habitação social, a construção para venda, e “as pessoas a ser empurradas, afastadas.” É por isso, remata, que “nenhum imigrante consegue verdadeiramente sair do ciclo de pobreza.”

A figura de Joacine Moreira entrou com tal força na campanha que não é raro ouvir nas ruas “eu não voto no partido: eu voto na senhora”. Rafael Martins, membro do Livre e um dos mais ativos nas arruadas, reconhece “o perigo de uma política feita de emoções”, mas garante que a abordagem tem sido “genuína” “Vivo em Queluz e jamais vi isto. Houve sempre uma separação entre as pessoas. E agora, mesmo as que estavam marginalizadas em relação à política, interessam-se a partir da figura dela.” A candidata de quem se fala acha que “as pessoas não estão habituadas a ver alguém que não entra no espectro do político tradicional.” E que isso, “como qualquer ação, gera reação”. Nem sempre positiva, o que é também um sinal dos tempos — “está a acontecer o mesmo no resto da Europa”.

O passeio de Joacine Moreira pelo Fim do Mundo incluiu uma visita à associação guineense “Filhos e Amigos da Ilha de Jeta” e foi feito em marcha lenta, às vezes parada. Tinha começado na praça central do bairro, que está de frente para um prédio onde se vê um desenho em toda a fachada, com o dizer: “não há fim sem início”. O caminho feito durante a campanha, sobretudo nas sondagens, foi dando ao Livre uma esperança crescente de chegar ao fim com um deputado na Assembleia da República. Mas nada garante que esse seja o fim desta história. “Não ser eleita não seria uma desilusão”, garante a candidata. “Mas não ser eleita para deixar entrar um deputado não democrático seria uma desilusão enorme.”

Depois da festa de encerramento na noite de quinta-feira, o Livre fecha definitivamente a campanha esta noite, no Marquês de Pombal.

Num último dia de campanha marcado pelo incidente de António Costa, o Livre foi buscar inspiração a uma outra figura da política portuguesa. “Optámos por um dia não institucional, mas de afetos, como faz o Presidente da República”, ri-se Joacine Moreira, a cabeça de lista do partido mais próxima de se eleger. Para a candidata por Lisboa, a política é feita de ideias, mas “neste tempo de ódio” exige proximidade. “Nós já não nos olhamos nos olhos.” Se o fizéssemos, acredita, “o ódio que há nas redes sociais não existiria”. Não é nas pessoas que ele está, reflete — “o ódio está no excesso de informação, que faz com que a informação útil tenha de competir com a informação inútil.”

Além de um olhar sobre o tempo, o comentário de Joacine Moreira tem uma origem muito próxima: depois de a gaguez ter ocupado parte do discurso sobre a candidata, surgiram nos últimos dias acusações de que Joacine não seria gaga, mas estaria a usar o facto como arma de campanha. “Bastaria a essas pessoas escreverem uma palavra no Google, o que aparentemente está ao alcance de todos: gaguez. Perceberiam o que ela é”, afirma ao Expresso, acrescentando que casos destes mostram que “a internet não é verdadeiramente democrática”. “O que ela democratizou foi o que não nos une, as ansiedades, as neuroses.” Para o mudar, “é preciso mais investimento na educação”.

Não é essa a única bandeira que o Livre tem agitado nos últimos dias. Na sexta-feira final, antes do dia de reflexão, o partido esteve numa ação de campanha no bairro Novo do Pinhal, em São João do Estoril, onde conversou com os moradores sobre outras duas: habitação e imigração. Também os ouviu, nuns casos a lamentarem o aumento da renda das casas e, noutros, a ver um encolher de ombros. Aos 67 anos, um dos moradores diz mesmo que pouco mais quer do que “ganhar o pão do dia a dia”. Joacine interrompe: “Esta era a retórica dos meus pais, deixarmo-nos ficar no nosso canto a ganhar o pão. Não é a retórica da minha geração, nem das mais novas.” A lei da nacionalidade e a representatividade, na política e nos cargos de poder, são temas recorrentes na campanha que a candidata tem feito. No bairro também conhecido por Fim do Mundo, Joacine não viu nada de muito diferente do que conhece da Arcena,onde cresceu e onde também tinha estado com o Expresso. As barracas, as demolições, a habitação social, a construção para venda, e “as pessoas a ser empurradas, afastadas.” É por isso, remata, que “nenhum imigrante consegue verdadeiramente sair do ciclo de pobreza.”

A figura de Joacine Moreira entrou com tal força na campanha que não é raro ouvir nas ruas “eu não voto no partido: eu voto na senhora”. Rafael Martins, membro do Livre e um dos mais ativos nas arruadas, reconhece “o perigo de uma política feita de emoções”, mas garante que a abordagem tem sido “genuína” “Vivo em Queluz e jamais vi isto. Houve sempre uma separação entre as pessoas. E agora, mesmo as que estavam marginalizadas em relação à política, interessam-se a partir da figura dela.” A candidata de quem se fala acha que “as pessoas não estão habituadas a ver alguém que não entra no espectro do político tradicional.” E que isso, “como qualquer ação, gera reação”. Nem sempre positiva, o que é também um sinal dos tempos — “está a acontecer o mesmo no resto da Europa”.

O passeio de Joacine Moreira pelo Fim do Mundo incluiu uma visita à associação guineense “Filhos e Amigos da Ilha de Jeta” e foi feito em marcha lenta, às vezes parada. Tinha começado na praça central do bairro, que está de frente para um prédio onde se vê um desenho em toda a fachada, com o dizer: “não há fim sem início”. O caminho feito durante a campanha, sobretudo nas sondagens, foi dando ao Livre uma esperança crescente de chegar ao fim com um deputado na Assembleia da República. Mas nada garante que esse seja o fim desta história. “Não ser eleita não seria uma desilusão”, garante a candidata. “Mas não ser eleita para deixar entrar um deputado não democrático seria uma desilusão enorme.”

Depois da festa de encerramento na noite de quinta-feira, o Livre fecha definitivamente a campanha esta noite, no Marquês de Pombal.

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