Fiel Inimigo: À mesa do café e atrás do computador...

21-01-2012
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À mesa do café

por Daniel Oliveira

O otimismo de Passos Coelho, que acha que irá
a eleições em 2015 e espera por esse ano mágico para baixar os impostos; o seu
conselho aos professores, para que estes emigrem (e Paulo Rangel quer a coisa
organizada por uma agência de exportação de portugueses); e a fé de que as
nossas exportações vão aumentar porque a crise internacional vai acabar
brevemente eram um bolo a precisar de uma cereja. Na sucessão de disparates que
o desnorteado primeiro-ministro nos tem oferecido, veio mais uma: daqui a vinte
anos as reformas vão valer metade.

Primeira dúvida: em que estudo se baseou Pedro
Passos Coelho para fazer esta afirmação que, como é evidente, cria angústia em
milhões de cidadãos? Não sabemos. E confesso que, do que fui lendo sobre a
matéria, não encontro rigorosamente nada que autorize esta previsão. Ou seja, o
primeiro-ministro de Portugal faz, com um assunto tão sério e delicado,
conversa de café.

O que Passos Coelho consegue com estas
infelizes declarações é fácil de imaginar: instalar o sentimento de
insegurança. Um medo que pode resultar, perante tão deprimente cenário, num
aumento da fuga aos descontos para a segurança social. É que o sistema vive de
uma ideia simples: pagamos as reformas de hoje porque acreditamos que pagarão
as nossas no futuro. Se essa confiança se quebra com umas "bocas"
irresponsáveis de um primeiro-ministro o sistema fica em risco.

Vem então a segunda dúvida: o que
pretende o primeiro-ministro com esta declaração? Três possibilidades. A simples:
respondeu a uma pergunta de um jornalista sem pensar nas suas consequências. A
absurda: Passos Coelho não se contenta em preparar os portugueses para o pior,
precisa de os deprimir para as próximas décadas. Mesmo na parte que não
dependerá dele e sobre a qual não tem condições para fazer previsões à
distância de duas décadas. Não é apenas incapaz de apontar para um horizonte
próximo de esperança. Prepara o País para décadas de miséria. A cínica: o
primeiro-ministro está apostado em instalar o medo para que todas as medidas
que impõe ao País pareçam inevitáveis e até excelentes, quando comparadas com o
futuro que nos espera. É provável que seja um pouco das três. E todas elas são
coerentes com a sucessão de declarações estapafúrdias que tem feito.

Atrás do computador

por Carmo da Rosa

Certamente que não ocorreu a Daniel Oliveira,
mas talvez o nosso PM quisesse apenas dizer a verdade!

Apesar da Holanda ter a taxa mais baixa de
desemprego da Europa e um dos melhores sistemas de reformas do mundo (até os
chineses querem implementar o sistema holandês), ouvi frequentemente nos
últimos dois anos os economistas e os políticos cá da praça alertarem a
população para o problema das reformas. Segundo eles, se nada for feito
(trabalhar mais tempo e descontar mais) não vai haver dinheiro que chegue para
as próximas gerações.

Em contrapartida, sempre achei muito estranho
que em Portugal, e no mesmo período, ninguém (à excepção do incansável Medina
Carreira), e muito menos o ex-PM socialista, abordasse o assunto! Já não digo
alertar, porque isso, como diz Daniel Oliveira “vai criar “angústia em milhões
de cidadãos” ou “instalar o sentimento de insegurança” ou mesmo “os deprimir
para as próximas décadas.”

Aqui está a explicação para o
nosso silêncio, que faz com que, ao mesmo tempo, eu compreenda melhor e veja
com mais simpatia a actuação do Eng. José Sócrates: os portugueses são como as
crianças, o melhor é não lhes dizer a verdade que é feio… e muito menos à mesa
do café. 

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À mesa do café

por Daniel Oliveira

O otimismo de Passos Coelho, que acha que irá
a eleições em 2015 e espera por esse ano mágico para baixar os impostos; o seu
conselho aos professores, para que estes emigrem (e Paulo Rangel quer a coisa
organizada por uma agência de exportação de portugueses); e a fé de que as
nossas exportações vão aumentar porque a crise internacional vai acabar
brevemente eram um bolo a precisar de uma cereja. Na sucessão de disparates que
o desnorteado primeiro-ministro nos tem oferecido, veio mais uma: daqui a vinte
anos as reformas vão valer metade.

Primeira dúvida: em que estudo se baseou Pedro
Passos Coelho para fazer esta afirmação que, como é evidente, cria angústia em
milhões de cidadãos? Não sabemos. E confesso que, do que fui lendo sobre a
matéria, não encontro rigorosamente nada que autorize esta previsão. Ou seja, o
primeiro-ministro de Portugal faz, com um assunto tão sério e delicado,
conversa de café.

O que Passos Coelho consegue com estas
infelizes declarações é fácil de imaginar: instalar o sentimento de
insegurança. Um medo que pode resultar, perante tão deprimente cenário, num
aumento da fuga aos descontos para a segurança social. É que o sistema vive de
uma ideia simples: pagamos as reformas de hoje porque acreditamos que pagarão
as nossas no futuro. Se essa confiança se quebra com umas "bocas"
irresponsáveis de um primeiro-ministro o sistema fica em risco.

Vem então a segunda dúvida: o que
pretende o primeiro-ministro com esta declaração? Três possibilidades. A simples:
respondeu a uma pergunta de um jornalista sem pensar nas suas consequências. A
absurda: Passos Coelho não se contenta em preparar os portugueses para o pior,
precisa de os deprimir para as próximas décadas. Mesmo na parte que não
dependerá dele e sobre a qual não tem condições para fazer previsões à
distância de duas décadas. Não é apenas incapaz de apontar para um horizonte
próximo de esperança. Prepara o País para décadas de miséria. A cínica: o
primeiro-ministro está apostado em instalar o medo para que todas as medidas
que impõe ao País pareçam inevitáveis e até excelentes, quando comparadas com o
futuro que nos espera. É provável que seja um pouco das três. E todas elas são
coerentes com a sucessão de declarações estapafúrdias que tem feito.

Atrás do computador

por Carmo da Rosa

Certamente que não ocorreu a Daniel Oliveira,
mas talvez o nosso PM quisesse apenas dizer a verdade!

Apesar da Holanda ter a taxa mais baixa de
desemprego da Europa e um dos melhores sistemas de reformas do mundo (até os
chineses querem implementar o sistema holandês), ouvi frequentemente nos
últimos dois anos os economistas e os políticos cá da praça alertarem a
população para o problema das reformas. Segundo eles, se nada for feito
(trabalhar mais tempo e descontar mais) não vai haver dinheiro que chegue para
as próximas gerações.

Em contrapartida, sempre achei muito estranho
que em Portugal, e no mesmo período, ninguém (à excepção do incansável Medina
Carreira), e muito menos o ex-PM socialista, abordasse o assunto! Já não digo
alertar, porque isso, como diz Daniel Oliveira “vai criar “angústia em milhões
de cidadãos” ou “instalar o sentimento de insegurança” ou mesmo “os deprimir
para as próximas décadas.”

Aqui está a explicação para o
nosso silêncio, que faz com que, ao mesmo tempo, eu compreenda melhor e veja
com mais simpatia a actuação do Eng. José Sócrates: os portugueses são como as
crianças, o melhor é não lhes dizer a verdade que é feio… e muito menos à mesa
do café. 

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