O regresso do senhor economista

23-12-2011
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Desta vez sem a capa de ministro - que tanto lhe pesou - Teixeira dos Santos regressou. Para falar do Orçamento de Estado de 2012, mas também de um futuro orçamento federal - única forma de salvar o euro do atoleiro em que se meteu.

Fernando Teixeira dos Santos é economista desde 1973, categoria a que ascendeu vinte e muito poucos anos depois de, em 13 de Setembro de 1951, ter nascido na Maia. É claro que não é um economista qualquer que chega a ministro das Finanças - pasta que ocupou depois de ter debutado, entre Outubro de 1995 e Outubro de 1999, como secretário de Estado do Tesouro e das Finanças de um governo de António Guterres.

Mas nem todos os economistas que chegam a ministros da Finanças são economistas como poucos mais. Fernando Teixeira dos Santos é economista como poucos mais: não são todos os economistas - e principalmente não são todos os economistas portugueses - que fazem parte de ‘think tanks' internacionais imensamente restritos, ouvidos com todas as atenções e com o maior respeito por quem tem o dever de comandar as economias nacionais. Com o seu ar levemente bonacheirão de quem está mais à vontade a soltar uma gargalhada que a fazer o ar sério de quem tem de aparecer em público, Fernando Teixeira dos Santos é dos poucos economistas europeus cujas opiniões são respeitadas e ouvidas pelos seus pares de todo o mundo.

No mercado interno, como é costume, Teixeira dos Santos não foi capaz de vencer a batalha do critério sobre o espalhafato, nem da realidade sobre cenários fabricados em material plástico. Mas tudo isso já passou. O que importa é que Teixeira dos Santos, o economista de facto e gravata (mas podia ser em ‘t-shirt') e já não o ministro em camisa de forças, reapareceu. Continua a não ser do PS, felizmente para nós continua a não vincular as suas posições pelo PS - e infelizmente para o PS, o PS continua a com ele não poder contar para se transformar num partido mais esclarecido.

Fernando Teixeira dos Santos esteve esta semana numa conferência - por acaso organizada pelo Diário Económico (e pela Ernest & Young) - em que esclareceu todo o lado esquerdo do Parlamento: é impossível produzir ao mesmo tempo um Orçamento de Estado restritivo (que combata o aumento do défice) e expansivo (que promova a retoma da economia). Nesse capítulo, o PS, se quis, ficou esclarecido: não vale a pena andar a afirmar que, se estivesse no Governo, faria e aconteceria; porque não faria nem aconteceria coisa nenhuma: limitar-se-ia a produzir um orçamento em tudo semelhante ao que foi apresentado por Pedro Passos Coelho e Vítor Gaspar.

Mas talvez que o mais importante das declarações de Teixeira dos Santos não tenha sido o seu apoio - que nem sequer é inesperado - ao OE de 2012. O mais importante foi o que Teixeira dos Santos disse relativamente à forma - a única que ele conhece - como é possível ‘safar' o euro deste aperto.

E lá voltamos ao orçamento. Porque, o que Teixeira dos Santos disse - ter-se-á limitado a recordar, dado que com certeza não foi a primeira vez que o disse em público - foi que a base de sustentação comum da moeda única tem um pilar a menos: o pilar orçamental. "O euro está sustentado por 17 estacas amarradas pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento. Não chega", disse. Talvez não seja necessário um orçamento conjunto aos 17 ou aos 27 - ficou no ar que a ideia não desagradaria totalmente ao antigo ministro das Finanças - mas um documento, apetrechos e mecanismos que permitam à zona euro ser um conjunto estruturado, obviamente autónomo e coeso de países a rumarem todos para o mesmo lado. Sem isso, disse, nada feito: tudo o que for produzido em torno do salvamento do euro que não redunde no aprofundamento do federalismo orçamental, não levará qualquer esforço a lado nenhum.

No rol de muitas outras indicações importantes - que se espera tenham tido bom acolhimento no Ministério das Finanças - Teixeira dos Santos acabou a sua intervenção chamando a atenção para outro ponto nevrálgico - e este inesperado: o ministro da tutela tem, apesar de tudo, uma falta grave de controlo tanto na produção como na execução de um Orçamento de Estado. E disse porquê: porque as parcerias público-privadas e as empresas do grupo Estado são um sorvedouro desenfreado e incontrolável de fundos financeiros públicos. Teixeira dos Santos não disse, mas também se sabe que aqueles dois blocos são o buraco certo de drenagem ilícita e principalmente imoral de dinheiro público para a órbita privada.

Teixeira dos Santos prometeu voltar para de onde vinha: para a sua vida privada, preenchida com o que quer que seja que lhe dê gosto. Mas fica-se à espera que não o faça por períodos de tempo longos, dado que o país precisa dos seus melhores economistas. Até porque, como sucede no caso mais tradicional dos chapéus, economistas há muitos.

Desta vez sem a capa de ministro - que tanto lhe pesou - Teixeira dos Santos regressou. Para falar do Orçamento de Estado de 2012, mas também de um futuro orçamento federal - única forma de salvar o euro do atoleiro em que se meteu.

Fernando Teixeira dos Santos é economista desde 1973, categoria a que ascendeu vinte e muito poucos anos depois de, em 13 de Setembro de 1951, ter nascido na Maia. É claro que não é um economista qualquer que chega a ministro das Finanças - pasta que ocupou depois de ter debutado, entre Outubro de 1995 e Outubro de 1999, como secretário de Estado do Tesouro e das Finanças de um governo de António Guterres.

Mas nem todos os economistas que chegam a ministros da Finanças são economistas como poucos mais. Fernando Teixeira dos Santos é economista como poucos mais: não são todos os economistas - e principalmente não são todos os economistas portugueses - que fazem parte de ‘think tanks' internacionais imensamente restritos, ouvidos com todas as atenções e com o maior respeito por quem tem o dever de comandar as economias nacionais. Com o seu ar levemente bonacheirão de quem está mais à vontade a soltar uma gargalhada que a fazer o ar sério de quem tem de aparecer em público, Fernando Teixeira dos Santos é dos poucos economistas europeus cujas opiniões são respeitadas e ouvidas pelos seus pares de todo o mundo.

No mercado interno, como é costume, Teixeira dos Santos não foi capaz de vencer a batalha do critério sobre o espalhafato, nem da realidade sobre cenários fabricados em material plástico. Mas tudo isso já passou. O que importa é que Teixeira dos Santos, o economista de facto e gravata (mas podia ser em ‘t-shirt') e já não o ministro em camisa de forças, reapareceu. Continua a não ser do PS, felizmente para nós continua a não vincular as suas posições pelo PS - e infelizmente para o PS, o PS continua a com ele não poder contar para se transformar num partido mais esclarecido.

Fernando Teixeira dos Santos esteve esta semana numa conferência - por acaso organizada pelo Diário Económico (e pela Ernest & Young) - em que esclareceu todo o lado esquerdo do Parlamento: é impossível produzir ao mesmo tempo um Orçamento de Estado restritivo (que combata o aumento do défice) e expansivo (que promova a retoma da economia). Nesse capítulo, o PS, se quis, ficou esclarecido: não vale a pena andar a afirmar que, se estivesse no Governo, faria e aconteceria; porque não faria nem aconteceria coisa nenhuma: limitar-se-ia a produzir um orçamento em tudo semelhante ao que foi apresentado por Pedro Passos Coelho e Vítor Gaspar.

Mas talvez que o mais importante das declarações de Teixeira dos Santos não tenha sido o seu apoio - que nem sequer é inesperado - ao OE de 2012. O mais importante foi o que Teixeira dos Santos disse relativamente à forma - a única que ele conhece - como é possível ‘safar' o euro deste aperto.

E lá voltamos ao orçamento. Porque, o que Teixeira dos Santos disse - ter-se-á limitado a recordar, dado que com certeza não foi a primeira vez que o disse em público - foi que a base de sustentação comum da moeda única tem um pilar a menos: o pilar orçamental. "O euro está sustentado por 17 estacas amarradas pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento. Não chega", disse. Talvez não seja necessário um orçamento conjunto aos 17 ou aos 27 - ficou no ar que a ideia não desagradaria totalmente ao antigo ministro das Finanças - mas um documento, apetrechos e mecanismos que permitam à zona euro ser um conjunto estruturado, obviamente autónomo e coeso de países a rumarem todos para o mesmo lado. Sem isso, disse, nada feito: tudo o que for produzido em torno do salvamento do euro que não redunde no aprofundamento do federalismo orçamental, não levará qualquer esforço a lado nenhum.

No rol de muitas outras indicações importantes - que se espera tenham tido bom acolhimento no Ministério das Finanças - Teixeira dos Santos acabou a sua intervenção chamando a atenção para outro ponto nevrálgico - e este inesperado: o ministro da tutela tem, apesar de tudo, uma falta grave de controlo tanto na produção como na execução de um Orçamento de Estado. E disse porquê: porque as parcerias público-privadas e as empresas do grupo Estado são um sorvedouro desenfreado e incontrolável de fundos financeiros públicos. Teixeira dos Santos não disse, mas também se sabe que aqueles dois blocos são o buraco certo de drenagem ilícita e principalmente imoral de dinheiro público para a órbita privada.

Teixeira dos Santos prometeu voltar para de onde vinha: para a sua vida privada, preenchida com o que quer que seja que lhe dê gosto. Mas fica-se à espera que não o faça por períodos de tempo longos, dado que o país precisa dos seus melhores economistas. Até porque, como sucede no caso mais tradicional dos chapéus, economistas há muitos.

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