Passos seguiu o pior caminho

05-03-2015
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Passos seguiu o pior caminho

António Costa

antonio.costa@economico.pt

Ontem 14:42

O primeiro-ministro não tem, nem pode ter, em matéria fiscal, o direito à privacidade. É um titular de cargo público, além de ser um primeiro-ministro que impôs, por necessidade, um programa de ajustamento brutal.

Pedro Passos Coelho está a cometer os mesmos erros que cometeu quando foi noticiado o caso Tecnoforma, responde tarde e mal e, agora, na linha de José Sócrates, só falta mesmo falar numa campanha negra.

O primeiro-ministro não tem, nem pode ter, em matéria fiscal, o direito à privacidade, é um titular de cargo público, além de ser um primeiro-ministro que impôs, por necessidade, um programa de ajustamento brutal e uma agressividade da máquina fiscal sem paralelo. O seu comportamento em relação às suas obrigações fiscais não são de carácter íntimo ou privado, são e devem ser escrutinadas, sem demagogias e populismos, mas ainda assim, passíveis de análise. É lamentável que se saiba dessas falhas por acesso indevido a bases de dados, sim, mas as falhas em si mesmo são ainda mais lamentáveis. Ora, quando abre um processo de intenções políticas por detrás das notícias, está a desviar-se a atenção do essencial.

Se as notícias fossem falsas, Passos teria razão, mas já se sabe que o cidadão Passos Coelho não pagou as suas obrigações parafiscais a tempo e horas. Não foi o PS a inventar isso, foi o primeiro-ministro o responsável por essas dívidas. E agora até já se sabe, pelo próprio, que entregou declarações de rendimento fora de prazo, coisa obviamente menor.

Não, não há pessoas perfeitas, e Pedro Passos Coelho é português, não é alemão. Aliás, a sua conduta é mesmo essa, e isso é um problema. Por feitio e convicção, mas também por razões políticas, fez questão de construir a imagem de um primeiro-ministro que era igual a qualquer um de nós, com uma vida normal antes e que promete voltar a ser normal depois. Ninguém colocava isso em causa. A referência implícita a Sócrates, a comparação que o próprio faz dos dois casos, é desnecessária e escusada, e cria suspeitas. Se é assim, e Passos disse-nos que é assim, tem falhas, não é perfeito. O problema não é esse. O problema é que, cometendo as falhas por desconhecimento, tem obrigação de as corrigir no momento em que delas toma conhecimento. E não o fez em relação às dívidas à Segurança Social. Fê-las depois de ser contactado por ‘um senhor jornalista' do Público.

O salto em frente que quer dar, a tese da campanha negra que está aí para vir, não ajuda a resolver o problema, aumenta-o.

Conteúdo publicado no Económico à Uma. Subscreva aqui.

Passos seguiu o pior caminho

António Costa

antonio.costa@economico.pt

Ontem 14:42

O primeiro-ministro não tem, nem pode ter, em matéria fiscal, o direito à privacidade. É um titular de cargo público, além de ser um primeiro-ministro que impôs, por necessidade, um programa de ajustamento brutal.

Pedro Passos Coelho está a cometer os mesmos erros que cometeu quando foi noticiado o caso Tecnoforma, responde tarde e mal e, agora, na linha de José Sócrates, só falta mesmo falar numa campanha negra.

O primeiro-ministro não tem, nem pode ter, em matéria fiscal, o direito à privacidade, é um titular de cargo público, além de ser um primeiro-ministro que impôs, por necessidade, um programa de ajustamento brutal e uma agressividade da máquina fiscal sem paralelo. O seu comportamento em relação às suas obrigações fiscais não são de carácter íntimo ou privado, são e devem ser escrutinadas, sem demagogias e populismos, mas ainda assim, passíveis de análise. É lamentável que se saiba dessas falhas por acesso indevido a bases de dados, sim, mas as falhas em si mesmo são ainda mais lamentáveis. Ora, quando abre um processo de intenções políticas por detrás das notícias, está a desviar-se a atenção do essencial.

Se as notícias fossem falsas, Passos teria razão, mas já se sabe que o cidadão Passos Coelho não pagou as suas obrigações parafiscais a tempo e horas. Não foi o PS a inventar isso, foi o primeiro-ministro o responsável por essas dívidas. E agora até já se sabe, pelo próprio, que entregou declarações de rendimento fora de prazo, coisa obviamente menor.

Não, não há pessoas perfeitas, e Pedro Passos Coelho é português, não é alemão. Aliás, a sua conduta é mesmo essa, e isso é um problema. Por feitio e convicção, mas também por razões políticas, fez questão de construir a imagem de um primeiro-ministro que era igual a qualquer um de nós, com uma vida normal antes e que promete voltar a ser normal depois. Ninguém colocava isso em causa. A referência implícita a Sócrates, a comparação que o próprio faz dos dois casos, é desnecessária e escusada, e cria suspeitas. Se é assim, e Passos disse-nos que é assim, tem falhas, não é perfeito. O problema não é esse. O problema é que, cometendo as falhas por desconhecimento, tem obrigação de as corrigir no momento em que delas toma conhecimento. E não o fez em relação às dívidas à Segurança Social. Fê-las depois de ser contactado por ‘um senhor jornalista' do Público.

O salto em frente que quer dar, a tese da campanha negra que está aí para vir, não ajuda a resolver o problema, aumenta-o.

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