portugal dos pequeninos: PASSOS COELHO E VIRGINIA WOOLF

30-06-2011
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Reparem na "originalidade" do título da entrevista como se o entrevistado tivesse chegado a Portugal, hoje de manhã, num voo low cost proveniente da Lua. Reparem na "clareza" dos lugares-comuns facilmente parafraseáveis por um qualquer secretário de Estado da nomenclatura de Sócrates. Reparem no "momento postal de natal Worten": «precisamos de ter um rumo e uma esperança em que possamos confiar.» Reparem na subtileza digna de um mediano treinador de futebol, "medidas pela negativa" e "medidas pela positiva". Reparem no jargão partilhável por qualquer frequentador habitual de "seminários" de "empreendedorismo" e pelo dr. Carrapatoso, o da "dinamização" e o do "potencial". E, finalmente, reparem não tanto no político mas no homem. O homem que chegou «a fazer um casting para participar num musical do Filipe La Féria, no Teatro Politeama» mas que, pelos vistos, não chegou aos calcanhares de uma Anabela ou de uma Wanda Stuart. O homem que fumou «haxixe com uns amigos e, por acaso, só posteriormente [percebeu] realmente o que tinha fumado» porque ter experimentado psicotrópicos é condição necessária para exibir um currículo político "correcto". Não sei se, no meio de tanta recorrência, Passos Coelho leu Voltaire ou um Voltaire qualquer que exista na sua prolixa imaginação. Ou, no limite, Virginia Woolf. Esta "ideia" de recorte político autobiográfico, apesar de se referir ao governo, parece sugerir que, algures, ainda vai chegar a saber como é que ela decidiu acabar. «Seria como estar a atar um enorme pedra aos tornozelos para saltar de uma ponte.» Alguma lucidez, finalmente.


Reparem na "originalidade" do título da entrevista como se o entrevistado tivesse chegado a Portugal, hoje de manhã, num voo low cost proveniente da Lua. Reparem na "clareza" dos lugares-comuns facilmente parafraseáveis por um qualquer secretário de Estado da nomenclatura de Sócrates. Reparem no "momento postal de natal Worten": «precisamos de ter um rumo e uma esperança em que possamos confiar.» Reparem na subtileza digna de um mediano treinador de futebol, "medidas pela negativa" e "medidas pela positiva". Reparem no jargão partilhável por qualquer frequentador habitual de "seminários" de "empreendedorismo" e pelo dr. Carrapatoso, o da "dinamização" e o do "potencial". E, finalmente, reparem não tanto no político mas no homem. O homem que chegou «a fazer um casting para participar num musical do Filipe La Féria, no Teatro Politeama» mas que, pelos vistos, não chegou aos calcanhares de uma Anabela ou de uma Wanda Stuart. O homem que fumou «haxixe com uns amigos e, por acaso, só posteriormente [percebeu] realmente o que tinha fumado» porque ter experimentado psicotrópicos é condição necessária para exibir um currículo político "correcto". Não sei se, no meio de tanta recorrência, Passos Coelho leu Voltaire ou um Voltaire qualquer que exista na sua prolixa imaginação. Ou, no limite, Virginia Woolf. Esta "ideia" de recorte político autobiográfico, apesar de se referir ao governo, parece sugerir que, algures, ainda vai chegar a saber como é que ela decidiu acabar. «Seria como estar a atar um enorme pedra aos tornozelos para saltar de uma ponte.» Alguma lucidez, finalmente.

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