Costa ganhou depois de perder sempre

12-09-2015
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Um debate televisivo pode não servir para nada. Dificilmente vira o sentido de uma eleição. Facilmente é uma batalha retórica e cismada no passado. O debate de hoje podia não ter servido para nada. Mas serviu. Serviu para mostrar que António Costa não está derrotado. E que Passos Coelho não está vitorioso. Sim, António Costa ganhou este debate. E isso é relevante: ainda não tinha ganho nada. Esta noite, aquilo que não ia servir para nada serviu para alguma coisa.

A estratégia de Pedro Passos Coelho era não arriscar. Para não cometer erros. Isso não surpreendeu. Mas surpreendeu ser tão defensivo. E ser tão pouco ofensivo. Por falhar na descredibilização do programa económico do PS. Por socorrer-se sem convencimento na comparação com o Syriza, que é um ponto fraco de Costa que Passos falhou em aproveitar. Pela insistência na colagem a José Sócrates, o ausente mais presente no debate. Sócrates consumou um desastre em 2011. Mas já não estamos em 2011, estamos em 2015. E como disse António Costa, agora era com ele que Passos estava a debater. A insistência na colagem a Sócrates tornou descarada uma estratégia que até aqui era subliminar e que, por isso mesmo, estava a ser eficaz.

Numa frase: Costa quis mostrar que Passos falhou; Passos quis mostrar que Costa vai falhar.

Falou-se zero de esquerda e de direita, quase nada de Europa, pouco do que quer que fosse. Nem Costa nem Passos trouxeram nada de novo. Nada. Sobre temas específicos não aprendemos nada. Nem sobre saúde. Nem sobre impostos. Nem sobre políticas para a pobreza. Nem sequer sobre pensões. O futuro ficou para o futuro. É pena. É o que é.

Nas pensões: é dos temas mais importantes nestas eleições. Porque há um desequilíbrio financeiro perpétuo que só pode ser tapado de três formas, que nem são mutuamente exclusivas: ou se cortam pensões (em pagamento e/ou futuras), ou se transferem impostos para o sistema, ou se complementam as pensões com planos privados. Ora, a coligação e o PS defendem soluções diferentes. Mas quando ambos começaram a falar disso, falaram de plafonamentos e provavelmente ninguém percebeu. Nem aprendeu.

Onde António Costa teve sucesso foi no ataque à dose excessiva de austeridade, na derrapagem da dívida, até no velho recurso aos gráficos em papel, na assunção de uma imagem de líder que falhara até aqui. Mas sobretudo: António Costa aproveitou um velho truque: as expectativas sobre ele eram tão baixas, uma vez que a sua campanha tem sido tão fraca, que o que disse (e como disse) surpreendeu. Inesperadamente, Passos Coelho não soube responder. Também inesperadamente, Costa foi convincente. Mesmo quando se tornou impaciente. Ou sobretudo quando perdeu a paciência.

Outro exemplo: o programa VEM, anunciado para facilitar o regresso de emigrantes. Falar disso é falar de nada. O programa não existe, não é relevante, não é uma bandeira do governo, não é fracasso nem sucesso porque nunca foi coisa nenhuma. Costa falou disso e isso é mudar de assunto. É Como atacar a beleza de uma Miss Universo por ter uma ferida na palma do pé. Mas Passos ficou tão quedo que se deixou atingir, engolindo esse insucesso.

António Costa arribou as suas próprias hostes, que estavam de cara no chão depois das duas últimas sondagens, humilhantes para o PS e galvanizadoras para a coligação de direita. Claro que bastará Sócrates dar mais três frases nos jornais e a direita rejubilará com mais um "abraço de urso". Mas o debate de hoje pode reacender uma campanha que estava a ir por água abaixo na esquerda.

Se quisermos ser exigentes, o debate não foi nada de especial. Não teve sequer um caso, um momento, uma disputa especial que o marque para o futuro. Mas travou por hora e meia o declínio que parecia irreversível no PS. E se quiseremos continuar a ser exigentes, amanhã estaremos a falar e a ouvir falar dos programas eleitorais em vez de discutir se Sócrates viu o debate em 16X9 ou em 4X3; estaremos a exigir que falem de políticas em vez de de políticos; estaremos a exigir que, em vez de falarmos nós do futuro deles, falem eles do nosso.

Um debate televisivo pode não servir para nada. Dificilmente vira o sentido de uma eleição. Facilmente é uma batalha retórica e cismada no passado. O debate de hoje podia não ter servido para nada. Mas serviu. Serviu para mostrar que António Costa não está derrotado. E que Passos Coelho não está vitorioso. Sim, António Costa ganhou este debate. E isso é relevante: ainda não tinha ganho nada. Esta noite, aquilo que não ia servir para nada serviu para alguma coisa.

A estratégia de Pedro Passos Coelho era não arriscar. Para não cometer erros. Isso não surpreendeu. Mas surpreendeu ser tão defensivo. E ser tão pouco ofensivo. Por falhar na descredibilização do programa económico do PS. Por socorrer-se sem convencimento na comparação com o Syriza, que é um ponto fraco de Costa que Passos falhou em aproveitar. Pela insistência na colagem a José Sócrates, o ausente mais presente no debate. Sócrates consumou um desastre em 2011. Mas já não estamos em 2011, estamos em 2015. E como disse António Costa, agora era com ele que Passos estava a debater. A insistência na colagem a Sócrates tornou descarada uma estratégia que até aqui era subliminar e que, por isso mesmo, estava a ser eficaz.

Numa frase: Costa quis mostrar que Passos falhou; Passos quis mostrar que Costa vai falhar.

Falou-se zero de esquerda e de direita, quase nada de Europa, pouco do que quer que fosse. Nem Costa nem Passos trouxeram nada de novo. Nada. Sobre temas específicos não aprendemos nada. Nem sobre saúde. Nem sobre impostos. Nem sobre políticas para a pobreza. Nem sequer sobre pensões. O futuro ficou para o futuro. É pena. É o que é.

Nas pensões: é dos temas mais importantes nestas eleições. Porque há um desequilíbrio financeiro perpétuo que só pode ser tapado de três formas, que nem são mutuamente exclusivas: ou se cortam pensões (em pagamento e/ou futuras), ou se transferem impostos para o sistema, ou se complementam as pensões com planos privados. Ora, a coligação e o PS defendem soluções diferentes. Mas quando ambos começaram a falar disso, falaram de plafonamentos e provavelmente ninguém percebeu. Nem aprendeu.

Onde António Costa teve sucesso foi no ataque à dose excessiva de austeridade, na derrapagem da dívida, até no velho recurso aos gráficos em papel, na assunção de uma imagem de líder que falhara até aqui. Mas sobretudo: António Costa aproveitou um velho truque: as expectativas sobre ele eram tão baixas, uma vez que a sua campanha tem sido tão fraca, que o que disse (e como disse) surpreendeu. Inesperadamente, Passos Coelho não soube responder. Também inesperadamente, Costa foi convincente. Mesmo quando se tornou impaciente. Ou sobretudo quando perdeu a paciência.

Outro exemplo: o programa VEM, anunciado para facilitar o regresso de emigrantes. Falar disso é falar de nada. O programa não existe, não é relevante, não é uma bandeira do governo, não é fracasso nem sucesso porque nunca foi coisa nenhuma. Costa falou disso e isso é mudar de assunto. É Como atacar a beleza de uma Miss Universo por ter uma ferida na palma do pé. Mas Passos ficou tão quedo que se deixou atingir, engolindo esse insucesso.

António Costa arribou as suas próprias hostes, que estavam de cara no chão depois das duas últimas sondagens, humilhantes para o PS e galvanizadoras para a coligação de direita. Claro que bastará Sócrates dar mais três frases nos jornais e a direita rejubilará com mais um "abraço de urso". Mas o debate de hoje pode reacender uma campanha que estava a ir por água abaixo na esquerda.

Se quisermos ser exigentes, o debate não foi nada de especial. Não teve sequer um caso, um momento, uma disputa especial que o marque para o futuro. Mas travou por hora e meia o declínio que parecia irreversível no PS. E se quiseremos continuar a ser exigentes, amanhã estaremos a falar e a ouvir falar dos programas eleitorais em vez de discutir se Sócrates viu o debate em 16X9 ou em 4X3; estaremos a exigir que falem de políticas em vez de de políticos; estaremos a exigir que, em vez de falarmos nós do futuro deles, falem eles do nosso.

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