MEDITAÇÃO NA PASTELARIA: A estranha aritmética do partido socialista

02-07-2011
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Ponto prévio. Nunca me casei, não sou homossexual e os temas fracturantes não me dizem grande coisa. Posto isto. Há homossexuais que gostariam de dar o nó e não podem. Não podem, porque a instituição casamento é um exclusivo, em Portugal, dos heterossexuais. Ora bem. A Assembleia da República decidiu discutir o assunto, fazendo-o a partir de uma proposta dos Verdes e do Bloco de Esquerda que visa alargar a possibilidade do «sim» a pares do mesmo sexo.Embora não pertencendo a nenhum dos partidos com assento na referida Assembleia, e sem sequer me dizer grande coisa a referida matéria, como já deixei claro no ponto prévio, gostaria de dizer 4 coisas.1. Não tendo por hábito meter-me na vida dos outros, acho basicamente ― e concedo que de forma muito básica ― que se os homossexuais se querem casar é com eles. Não vindo daí qualquer mal ao mundo, talvez apenas mais divórcios, porque raio é que os heterossexuais têm, não só de opinar, como de decidir contrariamente à vontade de um clube de que não são membros?2. Independentemente da declaração anterior, fez-me particular espécie a agitação socialista. Sobretudo a história da disciplina de voto. E, sobretudo, a aritmética do seu líder parlamentar.3. Senão vejamos. Segundo notícia veiculada pela LUSA, e cito, «uma maioria dos deputados socialistas aprovou hoje a disciplina de voto contra os projectos sobre casamentos homossexuais». A contagem deu «47 votos favoráveis» e «cerca de duas dezenas contra». Ainda segundo a LUSA, «o grupo parlamentar do PS é composto por 121 deputados». Regressando às contas temos que: 47+20 (quanto aos «cerca» podiam ir de 1 a 9, mas deixemo-los de lado...) dá 67. Faltam, portanto, outros tantos que não se pronunciaram, o que poderia, caso se tivessem pronunciado, fazer subir o número de apoiantes da proposta da direcção parlamentar, mas também diminuí-lo ou igualá-lo ao dos seus opositores.Não se percebe, assim, a declaração heróica do líder parlamentar do PS, Alberto Martins: «a maioria, de forma muito expressiva, aprovou a disciplina de voto». É uma frase para a qual só encontro uma explicação: ele não sabe fazer contas.4. Mais surpreendida fiquei ainda com a conclusão que o mesmo Alberto Martins retirou do facto de o PS vir permitir a Pedro Nuno Santos votar em consciência (ou seja, a favor do casamento entre homossexuais, apesar do não a que obriga a disciplina de voto). Afirmou ele que essa decisão foi uma «afirmação de pluralismo». Mas onde é que uma unidade (neste caso, Pedro Nuno Santos) pode ser ao mesmo tempo plural?A não ser que Martins, apesar de péssimo em números, seja senhor de uma complexidade filosófica que me ultrapassa. O que é uma contradição nos termos, como saberá qualquer pessoa que tenha lido Platão.


Ponto prévio. Nunca me casei, não sou homossexual e os temas fracturantes não me dizem grande coisa. Posto isto. Há homossexuais que gostariam de dar o nó e não podem. Não podem, porque a instituição casamento é um exclusivo, em Portugal, dos heterossexuais. Ora bem. A Assembleia da República decidiu discutir o assunto, fazendo-o a partir de uma proposta dos Verdes e do Bloco de Esquerda que visa alargar a possibilidade do «sim» a pares do mesmo sexo.Embora não pertencendo a nenhum dos partidos com assento na referida Assembleia, e sem sequer me dizer grande coisa a referida matéria, como já deixei claro no ponto prévio, gostaria de dizer 4 coisas.1. Não tendo por hábito meter-me na vida dos outros, acho basicamente ― e concedo que de forma muito básica ― que se os homossexuais se querem casar é com eles. Não vindo daí qualquer mal ao mundo, talvez apenas mais divórcios, porque raio é que os heterossexuais têm, não só de opinar, como de decidir contrariamente à vontade de um clube de que não são membros?2. Independentemente da declaração anterior, fez-me particular espécie a agitação socialista. Sobretudo a história da disciplina de voto. E, sobretudo, a aritmética do seu líder parlamentar.3. Senão vejamos. Segundo notícia veiculada pela LUSA, e cito, «uma maioria dos deputados socialistas aprovou hoje a disciplina de voto contra os projectos sobre casamentos homossexuais». A contagem deu «47 votos favoráveis» e «cerca de duas dezenas contra». Ainda segundo a LUSA, «o grupo parlamentar do PS é composto por 121 deputados». Regressando às contas temos que: 47+20 (quanto aos «cerca» podiam ir de 1 a 9, mas deixemo-los de lado...) dá 67. Faltam, portanto, outros tantos que não se pronunciaram, o que poderia, caso se tivessem pronunciado, fazer subir o número de apoiantes da proposta da direcção parlamentar, mas também diminuí-lo ou igualá-lo ao dos seus opositores.Não se percebe, assim, a declaração heróica do líder parlamentar do PS, Alberto Martins: «a maioria, de forma muito expressiva, aprovou a disciplina de voto». É uma frase para a qual só encontro uma explicação: ele não sabe fazer contas.4. Mais surpreendida fiquei ainda com a conclusão que o mesmo Alberto Martins retirou do facto de o PS vir permitir a Pedro Nuno Santos votar em consciência (ou seja, a favor do casamento entre homossexuais, apesar do não a que obriga a disciplina de voto). Afirmou ele que essa decisão foi uma «afirmação de pluralismo». Mas onde é que uma unidade (neste caso, Pedro Nuno Santos) pode ser ao mesmo tempo plural?A não ser que Martins, apesar de péssimo em números, seja senhor de uma complexidade filosófica que me ultrapassa. O que é uma contradição nos termos, como saberá qualquer pessoa que tenha lido Platão.

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