Importam-se de explicar o buraco da Segurança Social?

01-06-2015
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Importam-se de explicar o buraco da Segurança Social?

28 Mai 2015 Raul Vaz

Governo e PS já perceberam que há um buraco na Segurança Social. E sabem que estão obrigados a explicar ao país a verdade a que temos direito. Claro que os socialistas dirão que não - Vieira da Silva, que sabe da matéria, já falou em fazer mais um Livro Branco.

Mas o documento que António Costa encomendou a prestigiados economistas não precisa de ser a Bíblia para destapar a ponta do véu. Basta lê-lo para perceber: é preciso mexer a sério no sistema de pensões.

A direita - ou o passismo puro e duro - tem uma vantagem. Diz aos quatro ventos que o problema existe, que é grave, e que tem que ser resolvido. E até arrisca números: é preciso cortar 600 milhões nas pensões, segundo o Programa de Estabilidade entregue em Bruxelas.

Claro que quando a ministra das Finanças disse, preto no branco, que a solução para a sustentabilidade do sistema a curto prazo pode passar por cortar nas pensões em pagamento, caiu o Carmo e a Trindade. Caiu com ruído em plena campanha eleitoral.

Pedro Mota Soares, pelo CDS, e Marco António Costa, pelo PSD, saíram voluntários para apagar o fogo. Não, ninguém vai cortar nada sem um amplo consenso com o PS, sem um acordo na Concertação Social, sem uma proposta estruturada que ainda não existe, e sem ter em conta as linhas apontadas pelo acórdão do Tribunal Constitucional.

Este, recorde-se, não afastou liminarmente os cortes nas actuais pensões, desde que integrado numa reforma estrutural do sistema. Ou seja, falta coragem política. E já que todos os dias atormentam os mais de dois milhões de pensionistas com ameaças veladas - o documento dos economistas do PS, é bom que se diga, também admite cortar pensões no futuro para compensar a baixa da TSU - seria do mais elementar respeito pelo universo em causa dizerem com clareza ao que vêm.

Por quanto tempo pode o Estado assumir que cumpre os seus compromissos? O que significa ter de cortar 600 milhões em pensões no próximo Orçamento de Estado? Se o buraco existe, que sentido faz querer baixar as contribuições para a Segurança Social, como alguns socialistas pretendem? Pode-se ou não resolver o problema sem ter de rever a Constituição? O que pensa Cavaco do assunto? Será que o Presidente da República também vai esperar pelas eleições para exigir que os dois maiores partidos expliquem ao país de que é que estamos a falar?

Em vez da crítica à alegada aselhice política da ministra das Finanças, seria melhor que, por uma vez, se tivesse a coragem de puxar para o centro do ringue eleitoral um problema real. Aqui sim, o confronto de ideias vale a pena. E o país agradece. Não deve ser por masoquismo que Maria Luís Albuquerque vem, em vésperas de eleições, dizer que um dia pode ser tarde. Já agora, façam o favor de não "venderem" mais livros brancos.

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Importam-se de explicar o buraco da Segurança Social?

28 Mai 2015 Raul Vaz

Governo e PS já perceberam que há um buraco na Segurança Social. E sabem que estão obrigados a explicar ao país a verdade a que temos direito. Claro que os socialistas dirão que não - Vieira da Silva, que sabe da matéria, já falou em fazer mais um Livro Branco.

Mas o documento que António Costa encomendou a prestigiados economistas não precisa de ser a Bíblia para destapar a ponta do véu. Basta lê-lo para perceber: é preciso mexer a sério no sistema de pensões.

A direita - ou o passismo puro e duro - tem uma vantagem. Diz aos quatro ventos que o problema existe, que é grave, e que tem que ser resolvido. E até arrisca números: é preciso cortar 600 milhões nas pensões, segundo o Programa de Estabilidade entregue em Bruxelas.

Claro que quando a ministra das Finanças disse, preto no branco, que a solução para a sustentabilidade do sistema a curto prazo pode passar por cortar nas pensões em pagamento, caiu o Carmo e a Trindade. Caiu com ruído em plena campanha eleitoral.

Pedro Mota Soares, pelo CDS, e Marco António Costa, pelo PSD, saíram voluntários para apagar o fogo. Não, ninguém vai cortar nada sem um amplo consenso com o PS, sem um acordo na Concertação Social, sem uma proposta estruturada que ainda não existe, e sem ter em conta as linhas apontadas pelo acórdão do Tribunal Constitucional.

Este, recorde-se, não afastou liminarmente os cortes nas actuais pensões, desde que integrado numa reforma estrutural do sistema. Ou seja, falta coragem política. E já que todos os dias atormentam os mais de dois milhões de pensionistas com ameaças veladas - o documento dos economistas do PS, é bom que se diga, também admite cortar pensões no futuro para compensar a baixa da TSU - seria do mais elementar respeito pelo universo em causa dizerem com clareza ao que vêm.

Por quanto tempo pode o Estado assumir que cumpre os seus compromissos? O que significa ter de cortar 600 milhões em pensões no próximo Orçamento de Estado? Se o buraco existe, que sentido faz querer baixar as contribuições para a Segurança Social, como alguns socialistas pretendem? Pode-se ou não resolver o problema sem ter de rever a Constituição? O que pensa Cavaco do assunto? Será que o Presidente da República também vai esperar pelas eleições para exigir que os dois maiores partidos expliquem ao país de que é que estamos a falar?

Em vez da crítica à alegada aselhice política da ministra das Finanças, seria melhor que, por uma vez, se tivesse a coragem de puxar para o centro do ringue eleitoral um problema real. Aqui sim, o confronto de ideias vale a pena. E o país agradece. Não deve ser por masoquismo que Maria Luís Albuquerque vem, em vésperas de eleições, dizer que um dia pode ser tarde. Já agora, façam o favor de não "venderem" mais livros brancos.

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