TLIX

21-01-2012
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College for the boys?
Parece que o Governo do rigor, da transparência e contenção mostrou o que qualquer idiota com estatuto e poder está autorizado a fazer.
A comprometer as regras, a dobrá-las de dentro para fora, a dar um exemplo de desonestidade e favoritismo perfeitamente inaceitáveis, principalmente para um curso como Medicina, onde as entradas são terrivelmente restritas.
Ou seja, os sacrifícios são para os outros, a frustração de expectativas para os idiotas que têm de ouvir o discurso da contenção, igualmente das vagas para a universidade.
E depois pergunto-me.
A filha do Ministro não tinha notas para Medicina. Se realmente entrar ao abrigo de um regime mal aplicado e distorcido, quem serão os seus pacientes no futuro? Onde está a exigência da excelência para Medicina?
Está no despotismo dos que governam.
Estamos a ser gozados há muito tempo, mas agora acho que chegamos ao limite do ridículo.
Leiam a notícia e abram a boca... ou então encolham os ombros. A mim apetece-me partir alguma coisa...
Abraços
Favor entre ministros
MARIA HENRIQUE ESPADA PEDRO CORREIA *
Uma investigação da SIC, difundida ontem no Jornal da Noite, revelou que o ministro do Ensino Superior, Pedro Lynce, «facilitou» indevidamente a entrada na Universidade da filha de um seu colega de Governo _ o titular dos Negócios Estrangeiros, Martins da Cruz. Ao princípio da noite de ontem, esta notícia estava a gerar perturbação no Governo e um coro de críticas por parte de alguns sectores da oposição. O Bloco de Esquerda prepara-se mesmo para exigir a demissão imediata de Pedro Lynce.
Segundo a SIC, a filha de Martins da Cruz entrou na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa ao abrigo de um regime legal de excepção que permite aos filhos dos diplomatas residentes no estrangeiro entrarem nos estabelecimentos de ensino público portugueses sem se submeterem ao numerus clausus. Acontece que a filha de Martins da Cruz reside já há mais de um ano em Portugal, desde que o pai cessou as funções de embaixador em Madrid para assumir o cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros. Além disso, não completou o ensino secundário fora do País _ outro requisito obrigatório previsto na lei.
Por parte do Governo, até ao fecho desta edição, só o gabinete de Lynce reagiu. Para dizer que «o processo foi conduzido de forma justa e dentro da estrita legalidade», Mais: «Estamos a assistir a uma pura tentativa de assassinato político.»
Os partidos que apoiam o Executivo _ PSD e CDS _ remeteram-se ao silêncio. Mas o DN sabe que o primeiro-ministro, Durão Barroso, está a reflectir sobre a situação, que pode tornar-se insustentável para os protagonistas, em particular para Pedro Lynce, numa altura em que milhares de jovens portugueses são impedidos de entrar nas universidades públicas.
REACÇÕES IMEDIATAS. O Bloco de Esquerda reagiu de imediato. Francisco Louçã afirmou que, a confirmarem-se os factos relatados, o BE irá «pedir a demissão do ministro do Ensino Superior». Mas o pedido de responsabilidades não se ficará por aqui. O BE quer ver os dois ministros envolvidos a prestar esclarecimentos na Comissão Parlamentar de Educação. Se não os houver, os bloquistas irão ponderar uma comissão de inquérito a todo o caso. Também o PCP vai chamar com urgência Pedro Lynce ao Parlamento. «Tem de explicar todo o processo», garantiu ao DN o comunista Lino de Carvalho.
Mais prudente foi a reacção dos socialistas. Mas Ana Benavente, da direcção do PS e ex-secretária de Estado da Educação, considerou «inacreditável», «lamentável», e dá uma imagem «muito pobre e muito triste de quem nos governa», ao recorrer a «entorses à lei para privilegiar um familiar». Ana Benavente, que conhece bem o regime invocado, recordou que noutras situações de regresso de diplomatas ao País, nomeadamente no êxodo de Macau, a prática adoptada foi a de deixar os estudantes terminar o ensino pré-universitário no território, já após o regresso das famílias a Portugal, para não perderem o acesso ao regime de excepção. E concluiu: «Não é argumento ter frequentado uma escola estrangeira.»
Dezoito a Medicina não dá para entrar
O último aluno a entrar este ano em Medicina, na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, tem 18,15 de média do 12.º ano. Mesmo assim, é a nota mais baixa dos sete cursos de Medicina existentes em Portugal. Mas esta é uma área onde os muito bons alunos ficam à porta por uma décima. A Faculdade de Ciências Médicas disponibilizou 160 vagas, mais dez que em 2002, ano em que o último aluno entrou com 18,43. Em 2003, as médias baixaram ligeiramente. O curso da Faculdade de Medicina, da Universidade do Porto, com 190 vagas, é o que exige notas de entrada mais elevadas, mais de 18,58.
* Com Céu Neves, João Pedro Oliveira e Susete Francisco

College for the boys?
Parece que o Governo do rigor, da transparência e contenção mostrou o que qualquer idiota com estatuto e poder está autorizado a fazer.
A comprometer as regras, a dobrá-las de dentro para fora, a dar um exemplo de desonestidade e favoritismo perfeitamente inaceitáveis, principalmente para um curso como Medicina, onde as entradas são terrivelmente restritas.
Ou seja, os sacrifícios são para os outros, a frustração de expectativas para os idiotas que têm de ouvir o discurso da contenção, igualmente das vagas para a universidade.
E depois pergunto-me.
A filha do Ministro não tinha notas para Medicina. Se realmente entrar ao abrigo de um regime mal aplicado e distorcido, quem serão os seus pacientes no futuro? Onde está a exigência da excelência para Medicina?
Está no despotismo dos que governam.
Estamos a ser gozados há muito tempo, mas agora acho que chegamos ao limite do ridículo.
Leiam a notícia e abram a boca... ou então encolham os ombros. A mim apetece-me partir alguma coisa...
Abraços
Favor entre ministros
MARIA HENRIQUE ESPADA PEDRO CORREIA *
Uma investigação da SIC, difundida ontem no Jornal da Noite, revelou que o ministro do Ensino Superior, Pedro Lynce, «facilitou» indevidamente a entrada na Universidade da filha de um seu colega de Governo _ o titular dos Negócios Estrangeiros, Martins da Cruz. Ao princípio da noite de ontem, esta notícia estava a gerar perturbação no Governo e um coro de críticas por parte de alguns sectores da oposição. O Bloco de Esquerda prepara-se mesmo para exigir a demissão imediata de Pedro Lynce.
Segundo a SIC, a filha de Martins da Cruz entrou na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa ao abrigo de um regime legal de excepção que permite aos filhos dos diplomatas residentes no estrangeiro entrarem nos estabelecimentos de ensino público portugueses sem se submeterem ao numerus clausus. Acontece que a filha de Martins da Cruz reside já há mais de um ano em Portugal, desde que o pai cessou as funções de embaixador em Madrid para assumir o cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros. Além disso, não completou o ensino secundário fora do País _ outro requisito obrigatório previsto na lei.
Por parte do Governo, até ao fecho desta edição, só o gabinete de Lynce reagiu. Para dizer que «o processo foi conduzido de forma justa e dentro da estrita legalidade», Mais: «Estamos a assistir a uma pura tentativa de assassinato político.»
Os partidos que apoiam o Executivo _ PSD e CDS _ remeteram-se ao silêncio. Mas o DN sabe que o primeiro-ministro, Durão Barroso, está a reflectir sobre a situação, que pode tornar-se insustentável para os protagonistas, em particular para Pedro Lynce, numa altura em que milhares de jovens portugueses são impedidos de entrar nas universidades públicas.
REACÇÕES IMEDIATAS. O Bloco de Esquerda reagiu de imediato. Francisco Louçã afirmou que, a confirmarem-se os factos relatados, o BE irá «pedir a demissão do ministro do Ensino Superior». Mas o pedido de responsabilidades não se ficará por aqui. O BE quer ver os dois ministros envolvidos a prestar esclarecimentos na Comissão Parlamentar de Educação. Se não os houver, os bloquistas irão ponderar uma comissão de inquérito a todo o caso. Também o PCP vai chamar com urgência Pedro Lynce ao Parlamento. «Tem de explicar todo o processo», garantiu ao DN o comunista Lino de Carvalho.
Mais prudente foi a reacção dos socialistas. Mas Ana Benavente, da direcção do PS e ex-secretária de Estado da Educação, considerou «inacreditável», «lamentável», e dá uma imagem «muito pobre e muito triste de quem nos governa», ao recorrer a «entorses à lei para privilegiar um familiar». Ana Benavente, que conhece bem o regime invocado, recordou que noutras situações de regresso de diplomatas ao País, nomeadamente no êxodo de Macau, a prática adoptada foi a de deixar os estudantes terminar o ensino pré-universitário no território, já após o regresso das famílias a Portugal, para não perderem o acesso ao regime de excepção. E concluiu: «Não é argumento ter frequentado uma escola estrangeira.»
Dezoito a Medicina não dá para entrar
O último aluno a entrar este ano em Medicina, na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, tem 18,15 de média do 12.º ano. Mesmo assim, é a nota mais baixa dos sete cursos de Medicina existentes em Portugal. Mas esta é uma área onde os muito bons alunos ficam à porta por uma décima. A Faculdade de Ciências Médicas disponibilizou 160 vagas, mais dez que em 2002, ano em que o último aluno entrou com 18,43. Em 2003, as médias baixaram ligeiramente. O curso da Faculdade de Medicina, da Universidade do Porto, com 190 vagas, é o que exige notas de entrada mais elevadas, mais de 18,58.
* Com Céu Neves, João Pedro Oliveira e Susete Francisco

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