O Excel, o Word e os próximos tempos

30-09-2014
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O Excel, o Word e os próximos tempos

Paulo Ferreira

00:05

O novo líder socialista fez uma campanha verdadeiramente ‘low cost’ - ou mesmo ‘no cost’ - no que toca a compromissos políticos concretos. Fixou-se na chamada “Agenda para a década”. Sentiu que não precisava de mais do que isso e estava certo.

Como disse uma vez Pedro Santana Lopes noutro contexto e noutro partido, "estava escrito nas estrelas".

António Costa havia de lá chegar. Chegou este domingo. Daqui a dois dias já ninguém recordará a discussão sobre a forma. Se foi por um "imperativo de consciência" ou por "mero oportunismo e sede de poder" é um debate que fica para trás.

O que temos agora é a promessa de uma oposição mais eficaz ao governo. E, a seu tempo, espera-se o aparecimento de uma alternativa política. Não confundamos uma com a outra.

António Costa tem as expectativas e as percepções a seu favor. E a política é, em boa parte, a arte da criação de percepções e da gestão de expectativas.

O novo líder socialista fez uma campanha verdadeiramente ‘low cost' - ou mesmo ‘no cost' - no que toca a compromissos políticos concretos. Fixou-se na chamada "Agenda para a década", onde define uma estratégia de desenvolvimento económico e social com a qual poucos se atreverão a discordar. São objectivos e caminhos que encontramos, aliás, em muitos programas eleitorais e de governo passados, do PS ou do PSD. Sentiu que não precisava de mais do que isso e estava certo. Esta eleição tinha mais a ver com a forma do que com o conteúdo.

Mas a partir de agora exige-se mais. Quem quer que vá para o Governo daqui a um ano vai precisar muito mais da folha de cálculo do que do processador de texto. As equações do défice, dívida, despesa pública, receita fiscal, pensões, contribuições para a Segurança Social continuam a merecer muito trabalho, muitos cálculos. O crescimento económico que possa aparecer ajuda, mas não resolve.

A manter-se o calendário eleitoral, António Costa tem alguns meses para fazer o seu trabalho de casa para que daqui a um ano possa dizer claramente ao país ao que vem e quais são as linhas gerais do Orçamento do Estado que pretende apresentar para 2016 se for eleito.

Ninguém no seu perfeito juízo é a favor da austeridade pela austeridade, da austeridade como modelo de desenvolvimento económico e social. Mais importante do que ser contra políticas de austeridade é estar disponível para as aplicar quando são necessárias - Mário Soares foi um exemplo disso em 83-85 - enquanto se criam condições duradouras para que ela não se torne vital para evitar que o país chegue à banca rota, como já aconteceu por três vezes nos 40 anos que levamos de democracia.

A passagem do modo "oposição eficaz" para o modo "alternativa credível" requer obriga-toriamente que se mostrem os números para os próximos dois anos.

O passado recente está cheio de governantes que prometeram em campanha aquilo que já sabiam que não podiam cumprir quando chegassem ao poder. Que iludiram o eleitorado com uma realidade que não existia.

Não precisamos de recorrer ao caso flagrante de Françoise Hollande, que foi eleito a prometer acabar com a "política de Angela Merkel" para agora governar com sucessivos pacotes de cortes. Temos os nossos próprios exemplos: todos os primeiros-ministros elei-tos neste século - Durão Barroso, José Sócrates e Pedro Passos Coelho - demoraram poucas semanas até começarem a fazer o contrário do que haviam prometido na campa-nha eleitoral. Já tivemos a nossa dose. Se vamos ver "As Vinhas da Ira" não nos anunciem "Alice no País das Maravilhas"

O Excel, o Word e os próximos tempos

Paulo Ferreira

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O novo líder socialista fez uma campanha verdadeiramente ‘low cost’ - ou mesmo ‘no cost’ - no que toca a compromissos políticos concretos. Fixou-se na chamada “Agenda para a década”. Sentiu que não precisava de mais do que isso e estava certo.

Como disse uma vez Pedro Santana Lopes noutro contexto e noutro partido, "estava escrito nas estrelas".

António Costa havia de lá chegar. Chegou este domingo. Daqui a dois dias já ninguém recordará a discussão sobre a forma. Se foi por um "imperativo de consciência" ou por "mero oportunismo e sede de poder" é um debate que fica para trás.

O que temos agora é a promessa de uma oposição mais eficaz ao governo. E, a seu tempo, espera-se o aparecimento de uma alternativa política. Não confundamos uma com a outra.

António Costa tem as expectativas e as percepções a seu favor. E a política é, em boa parte, a arte da criação de percepções e da gestão de expectativas.

O novo líder socialista fez uma campanha verdadeiramente ‘low cost' - ou mesmo ‘no cost' - no que toca a compromissos políticos concretos. Fixou-se na chamada "Agenda para a década", onde define uma estratégia de desenvolvimento económico e social com a qual poucos se atreverão a discordar. São objectivos e caminhos que encontramos, aliás, em muitos programas eleitorais e de governo passados, do PS ou do PSD. Sentiu que não precisava de mais do que isso e estava certo. Esta eleição tinha mais a ver com a forma do que com o conteúdo.

Mas a partir de agora exige-se mais. Quem quer que vá para o Governo daqui a um ano vai precisar muito mais da folha de cálculo do que do processador de texto. As equações do défice, dívida, despesa pública, receita fiscal, pensões, contribuições para a Segurança Social continuam a merecer muito trabalho, muitos cálculos. O crescimento económico que possa aparecer ajuda, mas não resolve.

A manter-se o calendário eleitoral, António Costa tem alguns meses para fazer o seu trabalho de casa para que daqui a um ano possa dizer claramente ao país ao que vem e quais são as linhas gerais do Orçamento do Estado que pretende apresentar para 2016 se for eleito.

Ninguém no seu perfeito juízo é a favor da austeridade pela austeridade, da austeridade como modelo de desenvolvimento económico e social. Mais importante do que ser contra políticas de austeridade é estar disponível para as aplicar quando são necessárias - Mário Soares foi um exemplo disso em 83-85 - enquanto se criam condições duradouras para que ela não se torne vital para evitar que o país chegue à banca rota, como já aconteceu por três vezes nos 40 anos que levamos de democracia.

A passagem do modo "oposição eficaz" para o modo "alternativa credível" requer obriga-toriamente que se mostrem os números para os próximos dois anos.

O passado recente está cheio de governantes que prometeram em campanha aquilo que já sabiam que não podiam cumprir quando chegassem ao poder. Que iludiram o eleitorado com uma realidade que não existia.

Não precisamos de recorrer ao caso flagrante de Françoise Hollande, que foi eleito a prometer acabar com a "política de Angela Merkel" para agora governar com sucessivos pacotes de cortes. Temos os nossos próprios exemplos: todos os primeiros-ministros elei-tos neste século - Durão Barroso, José Sócrates e Pedro Passos Coelho - demoraram poucas semanas até começarem a fazer o contrário do que haviam prometido na campa-nha eleitoral. Já tivemos a nossa dose. Se vamos ver "As Vinhas da Ira" não nos anunciem "Alice no País das Maravilhas"

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