Terramoto do Haiti: As imagens duras e frias merecem mais que um simples juízo de valor?

28-11-2014
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No Bitaites, o seu autor, Marco Santos, coloca “A velha discussão entre jornalismo e pornografia” em debate. Por causa de uma fotografia. Em causa, a ética e a moralidade de publicação de uma imagem dura, cruel, que ali é apelidade de pornográfica. É uma velha questão, de facto. Deve a imagem de Olivier Laban-Mattei, que venceu na categoria General News Stories, do World Press Photo, ser mostrada, seja onde for, num jornal, numa revista, num site, numa exposição? A fotografia foi tirada a 15 de Janeiro do ano passado, num dia normal das prolongadas operações de limpeza que se seguiram ao terramoto no Haiti.

Todos nós vimos imagens de momentos únicos de salvamentos no pós catástrofe no Haiti. Daqueles que nos fazem encolher o peito, embargar a voz e humedecer os olhos. Eram momentos felizes. Dos escombros saiam vidas, depois de horas, dias e até uma semana em suspenso. Gostamos dessas imagens. Proporcionam esperança. Sabemos que há milhares de mortos mas é nestas que obtemos mais uma recarga de humanidade.

Por isso, é tão duro olhar para a imagem do homem que efectua limpezas na morgue do repleto hospital central de Port-au-Prince. Ali, parece não haver humanidade.

Um corpo de uma criança voa em direcção a uma pilha onde já há outros cadáveres. Há um despejar literal, como se fosse um pedaço de madeira. Como se fosse nada. O nosso espanto é ainda maior porque se trata de uma criança.

Crédito: Olivier Laban-Mattei, França, Agence France-Presse

Não façamos juízos de valor. Não sabemos o que vai na cabeça daquele homem. Não sabemos o que o terramoto lhe terá tirado, não sabemos o que já lhe terá passado pelos olhos, pelos braços. O fotógrafo também não sabe, apenas especula. Olivier Laban-Mattei admite (no vídeo abaixo) que é uma fotografia dura mas acha que deve ser mostrada. E sublinha o homem, não os corpos. Estes são de pessoas mortas, o homem – diz – está vivo e tem de fazer a limpeza. É o trabalho dele.

Tal como é o trabalho de Olivier fazer fotografias. Ele, que já esteve em cenários de conflitos, como Faixa de Gaza, Iraque, Geórgia, sabe que a expressão “ganhar a vida” significa carregar no obturador.

Mas deve ou não ser publicada uma imagem destas? Acho que sim mas com o necessário enquadramento.

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No Bitaites, o seu autor, Marco Santos, coloca “A velha discussão entre jornalismo e pornografia” em debate. Por causa de uma fotografia. Em causa, a ética e a moralidade de publicação de uma imagem dura, cruel, que ali é apelidade de pornográfica. É uma velha questão, de facto. Deve a imagem de Olivier Laban-Mattei, que venceu na categoria General News Stories, do World Press Photo, ser mostrada, seja onde for, num jornal, numa revista, num site, numa exposição? A fotografia foi tirada a 15 de Janeiro do ano passado, num dia normal das prolongadas operações de limpeza que se seguiram ao terramoto no Haiti.

Todos nós vimos imagens de momentos únicos de salvamentos no pós catástrofe no Haiti. Daqueles que nos fazem encolher o peito, embargar a voz e humedecer os olhos. Eram momentos felizes. Dos escombros saiam vidas, depois de horas, dias e até uma semana em suspenso. Gostamos dessas imagens. Proporcionam esperança. Sabemos que há milhares de mortos mas é nestas que obtemos mais uma recarga de humanidade.

Por isso, é tão duro olhar para a imagem do homem que efectua limpezas na morgue do repleto hospital central de Port-au-Prince. Ali, parece não haver humanidade.

Um corpo de uma criança voa em direcção a uma pilha onde já há outros cadáveres. Há um despejar literal, como se fosse um pedaço de madeira. Como se fosse nada. O nosso espanto é ainda maior porque se trata de uma criança.

Crédito: Olivier Laban-Mattei, França, Agence France-Presse

Não façamos juízos de valor. Não sabemos o que vai na cabeça daquele homem. Não sabemos o que o terramoto lhe terá tirado, não sabemos o que já lhe terá passado pelos olhos, pelos braços. O fotógrafo também não sabe, apenas especula. Olivier Laban-Mattei admite (no vídeo abaixo) que é uma fotografia dura mas acha que deve ser mostrada. E sublinha o homem, não os corpos. Estes são de pessoas mortas, o homem – diz – está vivo e tem de fazer a limpeza. É o trabalho dele.

Tal como é o trabalho de Olivier fazer fotografias. Ele, que já esteve em cenários de conflitos, como Faixa de Gaza, Iraque, Geórgia, sabe que a expressão “ganhar a vida” significa carregar no obturador.

Mas deve ou não ser publicada uma imagem destas? Acho que sim mas com o necessário enquadramento.

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