Explicai-me, sff

24-11-2014
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Não havendo, em português europeu, qualquer razão para se escrever *direção em vez de direcção (ver explicações fastidiosas, lá em baixo, na Nótula I), é compreensível que o actual director do Expresso, Ricardo Costa, tenha infringido as “regras” adoptadas por uma direcção anterior à sua.

Em suma, Ricardo Costa escreve direcção porque é português. Se fosse brasileiro, escreveria direção. Contudo, até prova em contrário, o Expresso ainda não terá emigrado para o Brasil. Porque é que o Expresso determinou a adopção do AO90? Não sei. Qualquer dia, explicar-me-ão.

Quanto à imagem da entrevista a Nuno Crato, com a supressão do ‘p’ de excepção, a ocorrência de erros semelhantes àquele tenderá a aumentar — sim, a aumentar; exactamente, a aumentar (ver explicações fastidiosas, já a seguir, na Nótula II).

Ah! Podem (e devem) corrigir, como fizeram anteontem. Andam a esquecer-se é dos outros *contatos — sim, daqueles. Antes de passarmos às nótulas, aproveito para vos desejar um óptimo e espectacular fim-de-semana.

Nótula I: Encontrando-se, amiúde, em ortografias de base alfabética, como a ortografia portuguesa europeia, a estrutura grafémica associada à estrutura fonológica, é previsível e compreensível que um falante alfabetizado de português europeu parta do princípio de que, se a vogal pretónica de direcção é média baixa e se a de, por exemplo, deleção é central alta, não tem qualquer sentido escrever-se *direção em vez de direcção — ou seja, exactamente aquilo que acontece na direcção da leitura: *del[ɨ]ção porque <e> e dir[ɛ]ção porque <ec>. Ocorrências residuais na direcção da escrita – como *ilacção em vez de ilação – servem para confirmar a tese e não, ao contrário daquilo que possa eventualmente parecer à primeira vista (ou à vista desarmada), para infirmá-la.

Nótula II: Se o falante de português europeu deixa, na leitura, de distinguir as terminações -epção e -eção – como em excepção e excreção, sabendo-se que estas correspondem, respectivamente a [-ɛˈsɐ̃ũ̯] e a [-ɨˈsɐ̃ũ̯] e que a esta última corresponde igualmente a terminação -essão, como em expressão – tendo a forma ortográfica da primeira, por exemplo, mas não só, a tal “instrução que indica que se está perante um caso excepcional em que o timbre da vogal não é alterado” (Castro & Duarte, 1987: 35)–, aumenta a probabilidade de ocorrências de *excessão por excepção , devido a exceção [sic].

***

Actualização (19/11/2014): Ao regressar a este texto, senti-me obrigado a corrigir o título. Se bem me lembro, é a segunda vez que tal acontece (no caso de Machete, foi pior: título e conteúdo). Os meus agradecimentos a quem detectou o erro.

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Não havendo, em português europeu, qualquer razão para se escrever *direção em vez de direcção (ver explicações fastidiosas, lá em baixo, na Nótula I), é compreensível que o actual director do Expresso, Ricardo Costa, tenha infringido as “regras” adoptadas por uma direcção anterior à sua.

Em suma, Ricardo Costa escreve direcção porque é português. Se fosse brasileiro, escreveria direção. Contudo, até prova em contrário, o Expresso ainda não terá emigrado para o Brasil. Porque é que o Expresso determinou a adopção do AO90? Não sei. Qualquer dia, explicar-me-ão.

Quanto à imagem da entrevista a Nuno Crato, com a supressão do ‘p’ de excepção, a ocorrência de erros semelhantes àquele tenderá a aumentar — sim, a aumentar; exactamente, a aumentar (ver explicações fastidiosas, já a seguir, na Nótula II).

Ah! Podem (e devem) corrigir, como fizeram anteontem. Andam a esquecer-se é dos outros *contatos — sim, daqueles. Antes de passarmos às nótulas, aproveito para vos desejar um óptimo e espectacular fim-de-semana.

Nótula I: Encontrando-se, amiúde, em ortografias de base alfabética, como a ortografia portuguesa europeia, a estrutura grafémica associada à estrutura fonológica, é previsível e compreensível que um falante alfabetizado de português europeu parta do princípio de que, se a vogal pretónica de direcção é média baixa e se a de, por exemplo, deleção é central alta, não tem qualquer sentido escrever-se *direção em vez de direcção — ou seja, exactamente aquilo que acontece na direcção da leitura: *del[ɨ]ção porque <e> e dir[ɛ]ção porque <ec>. Ocorrências residuais na direcção da escrita – como *ilacção em vez de ilação – servem para confirmar a tese e não, ao contrário daquilo que possa eventualmente parecer à primeira vista (ou à vista desarmada), para infirmá-la.

Nótula II: Se o falante de português europeu deixa, na leitura, de distinguir as terminações -epção e -eção – como em excepção e excreção, sabendo-se que estas correspondem, respectivamente a [-ɛˈsɐ̃ũ̯] e a [-ɨˈsɐ̃ũ̯] e que a esta última corresponde igualmente a terminação -essão, como em expressão – tendo a forma ortográfica da primeira, por exemplo, mas não só, a tal “instrução que indica que se está perante um caso excepcional em que o timbre da vogal não é alterado” (Castro & Duarte, 1987: 35)–, aumenta a probabilidade de ocorrências de *excessão por excepção , devido a exceção [sic].

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Actualização (19/11/2014): Ao regressar a este texto, senti-me obrigado a corrigir o título. Se bem me lembro, é a segunda vez que tal acontece (no caso de Machete, foi pior: título e conteúdo). Os meus agradecimentos a quem detectou o erro.

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