Schulz passeou por Lisboa entre as “duas realidades europeias”

10-05-2014
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Schulz passeou por Lisboa entre as “duas realidades europeias”

Filipe Garcia

07 Mai 2014

Candidato socialista à presidência da Comissão Europeia passeou em Lisboa. E deixou o aviso: a crise não acabou.

No Chiado, Martin Schulz não se fez rogado a cumprir a tradição dos turistas que por ali passam. Mesmo entre um batalhão de fotógrafos, operadores de câmara e o estado maior do Partido Socialista, o presidente do Parlamento Europeu sentou-se na mais célebre estátua de Fernando Pessoa e sorriu para a foto. Ao seu lado, os dois socialistas mais influentes, António José Seguro e António Costa, presidente da Câmara de Lisboa, e ainda o cabeça de lista às europeias, Francisco Assis. Carlos Zorrinho, Capoulas Santos, Pedro Farmhouse, Correia de Campos, Maria João Rodrigues, Ana Gomes, Elisa Ferreira e Edite Estrela foram apenas alguns dos que não perderam a visita do candidato socialista à presidência da Comissão Europeia. Schulz não desiludiu. Dizendo não se sentir estrangeiro em Portugal - "sou europeu" - o socialista alemão visitou "as duas realidades, não portuguesas, mas europeias": a Caritas, instituição de solidariedade social em Setúbal, e as novas instalações da Siemens na Amadora. "Acham que a crise já acabou? Visitem a Caritas. Os países terem voltado a conseguir financiar-se só quer dizer que os bancos decidiram comprar dívida. A minha crise são os 27 milhões de desempregados europeus", disse Schulz.

Sempre pontual, acompanhado de perto por um segurança e por um grupo de jornalistas alemães, Martin Schulz movimentou-se como se estivesse em casa na curta visita a Lisboa. E mostrou estar bem a par da realidade do país. Na visita à Caritas, deixou a sugestão para que a instituição recorra a fundos comunitários para reforçar o programa de apoio a mães adolescentes e vítimas de violência e pouco depois confessava a admiração pela História nacional - é uma ilustração da caravela de Bartolomeu Dias que decora o gabinete onde, nos últimos dez anos, lidera os socialistas europeus. "Os marinheiros portugueses eram homens extraordinários. Corajosos, sem medo e ansiosos por conhecer o mundo. Estavam enganados, pensavam que iam descobrir a Índia e descobriram mesmo um mundo novo", disse. Em campanha pelo lugar que Durão Barroso deixará vago no próximo mês, Schulz deixou um pedido a Seguro e Assis: "Se aqui tiverem os votos esperados, vou conseguir ser eleito", disse, antes de apresentar as linhas mestras do seu programa. "A disciplina orçamental é importante, mas não suficiente. Precisamos de investimento estratégico", defendeu o alemão para quem a "Europa precisa de mudar" e que elege o "desemprego jovem" como a sua principal batalha. Mas Schulz ainda apontou a mais um alvo: "Os especuladores não pagam impostos na Europa e ganham milhões. Quando falham são os contribuintes europeus quem paga e precisamos de manter esse dinheiro na Europa."

Ao final da manhã, já o político alemão dizia ter visto as "duas realidades, não portuguesas, mas europeias" - a "inovação e o futuro" na Siemens, a "pobreza e falta de esperança" na Caritas, uma instituição que lhe merece "grande admiração". A tarde seria passada na bem mais cosmopolita baixa pombalina. Da Brasileira no Chiado à Fundação José Saramago em Alfama, Schulz não deixou de visitar a mais antiga das livrarias Bertrand - onde o esperava Eduardo Lourenço - e o centro das Startups de Lisboa. Aí aproveitou para deixar mais duas mensagens: "A Europa precisa da criatividade dos jovens" e, caso vença, "o banco de investimento terá mecanismos para apoiar as startups".

Na Fundação José Saramago, e quando o relógio já aconselhava uma viagem rápida ao aeroporto, também não recusou a foto da praxe com os "companheiros e companheiras" que o tinham seguido durante o dia. As últimas palavras, ao microfone da TSF, foram sobre Saramago. "Para conhecer um país é preciso ler alguma coisa", disse. E provou que não era conversa de circunstância. À saída, entre as recordações oferecidas, entregaram-lhe dois livros do Nobel português - o primeiro já tinha e sobre as "As Pequenas Memórias" até um comentário: "A descrição que faz da vida na pequena aldeia é impressionante. Faz-me lembrar o sítio em que cresci", disse. Mas não houve tempo para discutir as semelhanças entre Eschweiler e a Azinhaga onde Saramago nasceu. Se Assis corre para vencer em Portugal, Schulz corre para vencer na Europa e a hora era de apanhar um avião rumo ao Porto.

Schulz passeou por Lisboa entre as “duas realidades europeias”

Filipe Garcia

07 Mai 2014

Candidato socialista à presidência da Comissão Europeia passeou em Lisboa. E deixou o aviso: a crise não acabou.

No Chiado, Martin Schulz não se fez rogado a cumprir a tradição dos turistas que por ali passam. Mesmo entre um batalhão de fotógrafos, operadores de câmara e o estado maior do Partido Socialista, o presidente do Parlamento Europeu sentou-se na mais célebre estátua de Fernando Pessoa e sorriu para a foto. Ao seu lado, os dois socialistas mais influentes, António José Seguro e António Costa, presidente da Câmara de Lisboa, e ainda o cabeça de lista às europeias, Francisco Assis. Carlos Zorrinho, Capoulas Santos, Pedro Farmhouse, Correia de Campos, Maria João Rodrigues, Ana Gomes, Elisa Ferreira e Edite Estrela foram apenas alguns dos que não perderam a visita do candidato socialista à presidência da Comissão Europeia. Schulz não desiludiu. Dizendo não se sentir estrangeiro em Portugal - "sou europeu" - o socialista alemão visitou "as duas realidades, não portuguesas, mas europeias": a Caritas, instituição de solidariedade social em Setúbal, e as novas instalações da Siemens na Amadora. "Acham que a crise já acabou? Visitem a Caritas. Os países terem voltado a conseguir financiar-se só quer dizer que os bancos decidiram comprar dívida. A minha crise são os 27 milhões de desempregados europeus", disse Schulz.

Sempre pontual, acompanhado de perto por um segurança e por um grupo de jornalistas alemães, Martin Schulz movimentou-se como se estivesse em casa na curta visita a Lisboa. E mostrou estar bem a par da realidade do país. Na visita à Caritas, deixou a sugestão para que a instituição recorra a fundos comunitários para reforçar o programa de apoio a mães adolescentes e vítimas de violência e pouco depois confessava a admiração pela História nacional - é uma ilustração da caravela de Bartolomeu Dias que decora o gabinete onde, nos últimos dez anos, lidera os socialistas europeus. "Os marinheiros portugueses eram homens extraordinários. Corajosos, sem medo e ansiosos por conhecer o mundo. Estavam enganados, pensavam que iam descobrir a Índia e descobriram mesmo um mundo novo", disse. Em campanha pelo lugar que Durão Barroso deixará vago no próximo mês, Schulz deixou um pedido a Seguro e Assis: "Se aqui tiverem os votos esperados, vou conseguir ser eleito", disse, antes de apresentar as linhas mestras do seu programa. "A disciplina orçamental é importante, mas não suficiente. Precisamos de investimento estratégico", defendeu o alemão para quem a "Europa precisa de mudar" e que elege o "desemprego jovem" como a sua principal batalha. Mas Schulz ainda apontou a mais um alvo: "Os especuladores não pagam impostos na Europa e ganham milhões. Quando falham são os contribuintes europeus quem paga e precisamos de manter esse dinheiro na Europa."

Ao final da manhã, já o político alemão dizia ter visto as "duas realidades, não portuguesas, mas europeias" - a "inovação e o futuro" na Siemens, a "pobreza e falta de esperança" na Caritas, uma instituição que lhe merece "grande admiração". A tarde seria passada na bem mais cosmopolita baixa pombalina. Da Brasileira no Chiado à Fundação José Saramago em Alfama, Schulz não deixou de visitar a mais antiga das livrarias Bertrand - onde o esperava Eduardo Lourenço - e o centro das Startups de Lisboa. Aí aproveitou para deixar mais duas mensagens: "A Europa precisa da criatividade dos jovens" e, caso vença, "o banco de investimento terá mecanismos para apoiar as startups".

Na Fundação José Saramago, e quando o relógio já aconselhava uma viagem rápida ao aeroporto, também não recusou a foto da praxe com os "companheiros e companheiras" que o tinham seguido durante o dia. As últimas palavras, ao microfone da TSF, foram sobre Saramago. "Para conhecer um país é preciso ler alguma coisa", disse. E provou que não era conversa de circunstância. À saída, entre as recordações oferecidas, entregaram-lhe dois livros do Nobel português - o primeiro já tinha e sobre as "As Pequenas Memórias" até um comentário: "A descrição que faz da vida na pequena aldeia é impressionante. Faz-me lembrar o sítio em que cresci", disse. Mas não houve tempo para discutir as semelhanças entre Eschweiler e a Azinhaga onde Saramago nasceu. Se Assis corre para vencer em Portugal, Schulz corre para vencer na Europa e a hora era de apanhar um avião rumo ao Porto.

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