poesia: antónio josé forte (1931-1988)

30-06-2011
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azulianteEste poemacomeça com um homem de tronco nuà sua mesa de trabalho e hiantea esta hora em que de oriente a ocidentese acendem lâmpadas trémulas e bárbaras e ferozese o mar é o teu nome a esta hora pétala a pétalaem que subirei de avião para ir beijar-te os olhose ver no meio do deserto o únicoo magnífico devorador de rosas a comer um pãoenquanto do Oceano resta apenaso silêncio de uma lágrima caindo nos joelhos de uma criançaEspera-me onde um nome há no Ar escrito com saliva azulcom raiva azulcomo a urina violenta dos amantescom a sua flor azul à superfície onde crepita a morteChoverá muito eu sei choverá muitoe não porei uma pedra branca sobre o assunto digosobre o tremor de terra em que tu dançasna tua roda de cigarros cada vez mais depressa cada vez mais depressae lento o peixe de plumas de águia letra a letradá a volta ao mundo dos teus olhosenquanto a dentadura cintilante pronuncia o grande uivode oriente a ocidenteCertas palavras muito duras quando a noite cainão devem ter outra origem sabem tão bem quanto euporque agora a lava das lágrimas ao crepúsculosão as rosas com que o poeta falaà multidão em volta do crocodilo o animal repugnantede costas para a luz contra o grande uivo:de oriente a ocidente a mesma flor podre o estadoos segredos de estado as razões de estado a segurança do estadoo terrorismo de estado os crimes contra o estadoe o equilíbrio do terrorde oriente a ocidente meu amor de oriente a ocidenteDigo não Eu digo nãodigo o teu nome que diz nãoNo entanto às portas da cidade e ao pé de cada árvoreà espera que tu chegues ou passes simplesmenteestão os grandes do império com o chapéu na mão para cumprimentar-teEntão passas tu com a lua no peitodividindo distribuindo os alimentospassas tu devagar atirando as moedasque os dias não aceitam e gastamos depressanoite mil e uma noites de quem esperaMeu amor países pátrias têm todos um nomede letras imundas que não é para escreverSe ainda podes ouvir o búzio da infânciaouvirás com certeza o sinal de partirNo comboio multicor sobre carris ferozes e azuisque há mil anos dá a volta ao mundosou eu o homem que viaja nu porque eu souo arco-íris e a rosa no trapézioe tu toda a paisagem que atravessocomo se fosse de bicicletacomo se fosse sílaba a sílabaa primeira frase da terratu com as tuas luvas de amianto ao lado do vulcãocom a tua máscara de olhar a aurora borealde me olhares para sempre nua eu a tempestadede coração a coraçãoRoda sórdida da razão cínica e canto de galosdepenados vivos que cantam nos intervalos da morteno meu livro de horas deste séculoestá escrito que o homem livre fará o seu aparecimentosob a forma de um cometa de cauda fascinanteque arrastará os amorosos até ao centro do mundodonde partirão na rosa-dos-ventos e este será o sinalantónio josé forteuma faca nos dentesparceria a. m . pereiralisboa 2003


azulianteEste poemacomeça com um homem de tronco nuà sua mesa de trabalho e hiantea esta hora em que de oriente a ocidentese acendem lâmpadas trémulas e bárbaras e ferozese o mar é o teu nome a esta hora pétala a pétalaem que subirei de avião para ir beijar-te os olhose ver no meio do deserto o únicoo magnífico devorador de rosas a comer um pãoenquanto do Oceano resta apenaso silêncio de uma lágrima caindo nos joelhos de uma criançaEspera-me onde um nome há no Ar escrito com saliva azulcom raiva azulcomo a urina violenta dos amantescom a sua flor azul à superfície onde crepita a morteChoverá muito eu sei choverá muitoe não porei uma pedra branca sobre o assunto digosobre o tremor de terra em que tu dançasna tua roda de cigarros cada vez mais depressa cada vez mais depressae lento o peixe de plumas de águia letra a letradá a volta ao mundo dos teus olhosenquanto a dentadura cintilante pronuncia o grande uivode oriente a ocidenteCertas palavras muito duras quando a noite cainão devem ter outra origem sabem tão bem quanto euporque agora a lava das lágrimas ao crepúsculosão as rosas com que o poeta falaà multidão em volta do crocodilo o animal repugnantede costas para a luz contra o grande uivo:de oriente a ocidente a mesma flor podre o estadoos segredos de estado as razões de estado a segurança do estadoo terrorismo de estado os crimes contra o estadoe o equilíbrio do terrorde oriente a ocidente meu amor de oriente a ocidenteDigo não Eu digo nãodigo o teu nome que diz nãoNo entanto às portas da cidade e ao pé de cada árvoreà espera que tu chegues ou passes simplesmenteestão os grandes do império com o chapéu na mão para cumprimentar-teEntão passas tu com a lua no peitodividindo distribuindo os alimentospassas tu devagar atirando as moedasque os dias não aceitam e gastamos depressanoite mil e uma noites de quem esperaMeu amor países pátrias têm todos um nomede letras imundas que não é para escreverSe ainda podes ouvir o búzio da infânciaouvirás com certeza o sinal de partirNo comboio multicor sobre carris ferozes e azuisque há mil anos dá a volta ao mundosou eu o homem que viaja nu porque eu souo arco-íris e a rosa no trapézioe tu toda a paisagem que atravessocomo se fosse de bicicletacomo se fosse sílaba a sílabaa primeira frase da terratu com as tuas luvas de amianto ao lado do vulcãocom a tua máscara de olhar a aurora borealde me olhares para sempre nua eu a tempestadede coração a coraçãoRoda sórdida da razão cínica e canto de galosdepenados vivos que cantam nos intervalos da morteno meu livro de horas deste séculoestá escrito que o homem livre fará o seu aparecimentosob a forma de um cometa de cauda fascinanteque arrastará os amorosos até ao centro do mundodonde partirão na rosa-dos-ventos e este será o sinalantónio josé forteuma faca nos dentesparceria a. m . pereiralisboa 2003

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