poesia: primeiro poema do diário flagrante

30-06-2011
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Na ponta da minha caneta vem-me uma insóniae todos os mares rasteirose tudo que não vem com a tintafestas de luto.Pela ponta da minha caneta a precocidade dos céus dramáticosque me interrogam.Mas meu amor, eu não te interrogonem te chamoporquanto nasço contigo num mesmo berço:os poemas que queimei no fogão.Dos poemas fiquei eu que não me fui a queimar.Porque, tu sabe-lo, no sangue não há leilõese jamais deixarias de ser impossívelnum silêncio marinho como o do sangue.E pela noiteuma estátua desce do pedestal para espreitar nos bares,e pela noite(já não quero mais noite nem mais dia)conta milhões de vidas sobre mime quero-me lá vidro escaldantecriando uma superfícieonde os teus passos fiquem marcadoscomo problemas que do meu corpoe em sonosão todos o silêncio de uma praia.Faço uma bola negra para me divertir.Justamente uma bola que não faça conclusões.Prego alfinetes no meu tapetee deito-me no meio.Depoisé esperar-me a rolardespir o sobretudo e sair.Atravessar o rioe parar junto de um sapato que está na outra margem.Desse sapato farei mil coisas:vidros,casas arruinadas,animais sem vida,infinitos de avenidae líquidos de sabores variáveis(os alfinetes do meu tapete perguntam-me se amo)e os meus cabelos ficam alheadose as minhas mãos são a estrada de tanta resposta sem fito.Cama de mim mesmo não obstantenunca me quis medirsalvo em fumo,em horas de insóniaora em catorze horas de sono funâmbulo.…………………………………………………………………………Esta aparência de calma são gasese fico sem saber se estou em casa se na rua.São para mim as pancadas numa porta algures em Paris.São umas tantas esquinascorrerias e gritosbrincalhonas e alcoólicas umas tantas algibeiraspingando nesgas de noite.Faço rodas com os gatos numa rua geladae os ponteiros do relógioaudaciosos recolhem-se junto da maquinaria.Emocionados todos os meus objectosfalam de mares distantescomo me falava o pequeno buda de marfimque aguardava o dia de leilão para ser vendido…Era todo um mundo que se projectava atrás dos meus passos,um equívoco de que falavam,de telhado para telhado,todas as cidades.E no espaçoum campo de meteorosmuitas léguas para além dos cactos onde me pico por desdémassim como uma sede que me ataca durante uma conversa telefónica.Depois,um diário flagrante que deixo esquecido num túmulo.fernando alves dos santosdiário flagrante [poesia]edição perfecto e. cuadradoassírio & alvim2005


Na ponta da minha caneta vem-me uma insóniae todos os mares rasteirose tudo que não vem com a tintafestas de luto.Pela ponta da minha caneta a precocidade dos céus dramáticosque me interrogam.Mas meu amor, eu não te interrogonem te chamoporquanto nasço contigo num mesmo berço:os poemas que queimei no fogão.Dos poemas fiquei eu que não me fui a queimar.Porque, tu sabe-lo, no sangue não há leilõese jamais deixarias de ser impossívelnum silêncio marinho como o do sangue.E pela noiteuma estátua desce do pedestal para espreitar nos bares,e pela noite(já não quero mais noite nem mais dia)conta milhões de vidas sobre mime quero-me lá vidro escaldantecriando uma superfícieonde os teus passos fiquem marcadoscomo problemas que do meu corpoe em sonosão todos o silêncio de uma praia.Faço uma bola negra para me divertir.Justamente uma bola que não faça conclusões.Prego alfinetes no meu tapetee deito-me no meio.Depoisé esperar-me a rolardespir o sobretudo e sair.Atravessar o rioe parar junto de um sapato que está na outra margem.Desse sapato farei mil coisas:vidros,casas arruinadas,animais sem vida,infinitos de avenidae líquidos de sabores variáveis(os alfinetes do meu tapete perguntam-me se amo)e os meus cabelos ficam alheadose as minhas mãos são a estrada de tanta resposta sem fito.Cama de mim mesmo não obstantenunca me quis medirsalvo em fumo,em horas de insóniaora em catorze horas de sono funâmbulo.…………………………………………………………………………Esta aparência de calma são gasese fico sem saber se estou em casa se na rua.São para mim as pancadas numa porta algures em Paris.São umas tantas esquinascorrerias e gritosbrincalhonas e alcoólicas umas tantas algibeiraspingando nesgas de noite.Faço rodas com os gatos numa rua geladae os ponteiros do relógioaudaciosos recolhem-se junto da maquinaria.Emocionados todos os meus objectosfalam de mares distantescomo me falava o pequeno buda de marfimque aguardava o dia de leilão para ser vendido…Era todo um mundo que se projectava atrás dos meus passos,um equívoco de que falavam,de telhado para telhado,todas as cidades.E no espaçoum campo de meteorosmuitas léguas para além dos cactos onde me pico por desdémassim como uma sede que me ataca durante uma conversa telefónica.Depois,um diário flagrante que deixo esquecido num túmulo.fernando alves dos santosdiário flagrante [poesia]edição perfecto e. cuadradoassírio & alvim2005

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