poesia: andré breton e paul éluard

30-06-2011
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Não leias. Olha as figuras brancas desenhadas pelos intervalos separando as palavras de várias linhas dos livros e inspira-te nelas.Dá aos outros a tua mão a guardar.Não te deites sobre as muralhas.Retoma a armadura que abandonaste na idade da razão.Põe a ordem no seu lugar, desarruma as pedras da estrada.Se sangras e és homem, apaga a última palavra na ardósia.Forma os teus olhos fechando-os.Dá aos sonhos que esqueceste o valor daquilo que não conheces.Conheci três lampistas, cinco guarda-barreiras mulheres, um guarda-barreira homem: e tu?Não prepares as palavras que gritas.Habita as casas abandonadas. Não foram habitadas senão por ti.Faz um leito de afagos aos teus afagos.Se eles batem à porta, escreve as tuas últimas vontades com a chave.Rouba o sentido ao som, existem tambores encobertos mesmo nos vestidos claros.Canta a grande piedade dos monstros. Evoca todas as mulheres de pé sobre o cavalo de Tróia.Não bebas água.Como a letra l e a letra m, pelo meio encontrarás a asa e a serpente.Fala consoante a loucura que te seduziu.Veste-te com cores cintilantes, não é hábito.O que encontras só te pertence enquanto a tua mão está estendida.Mente ao morder o arminho dos teus juízes.Enforca-te, bravo Crillon, eles te tirarão da forca com o seu Isso depende.Ata as pernas infiéis.Deixa a madrugada aumentar a ferrugem dos teus sonhos.Aprende a esperar, de pés para a frente. É assim que brevemente sairás, bem coberto.Acende as perspectivas da fadiga.Vende com que comer, compra com que morrer de fome.Faz-lhes a surpresa de não confundir o futuro do verbo ter com o passado do verbo ser.Sê o vidraceiro da pedra engastada no vidro novo.A quem peça para ver o interior da tua mão, mostra os planetas não descobertos do céu.Diz à luz, tu calcularás as dimensões encantadoras do insecto-folha.Para descobrir a nudez daquela que amas, olha as suas mãos. O seu rosto baixou.Separa o giz do carvão, as papoulas do sangue.Dá-me o prazer de entrar e sair nas pontas dos pés.Ponto e vírgula: vês, mesmo na pontuação, como eles são surpreendentes.Deita-te, levanta-te e agora deita-te.Até à nova ordem, até à nova ordem monástica, isto é até que as mulheres mais jovens e belas adoptem o decote em cruz: os dois ramos horizontais descobrindo os seios, o pé da cruz nua no baixo-ventre, ligeiramente avermelhado.Daquilo que tem a cabeça sobre os ombros, abstêm-te.Regula a tua marcha pela das tempestades.Nunca mates uma ave da noite.Olha a flor da campainha: ela não permite ouvir.Falha a finalidade aparente, quando tiveres que atravessar o teu coração com a flecha.Opera milagres para os negares.Tem a idade deste velho corvo que diz: Vinte anos.Tem cuidado com os carroceiros do bom gosto.Desenha na poeira os jogos desinteressados do teu tédio.Não escolhas o tempo de recomeçar.Sustenta que a tua cabeça, contrariamente às castanhas-da-índia é em absoluto sem peso, uma vez que ainda não caiu.Doura a pílula com a centelha sem isso negra pela bigorna.Faz para ti sem franzir as sobrancelhas uma ideia possível das andorinhas.Escreve o imperecível na areia.Corrige os teus pais.Não guardes em ti aquilo que não fira o bom senso.Imagina que esta mulher está contida em três palavras e que esta colina é um abismo.Lacra as verdadeiras cartas de amor que escreves com uma hóstia profanada.Não deixes de dizer ao revólver: Muito lisonjeado mas parece-me tê-lo já encontrado em qualquer lado.As borboletas do exterior não procuram mais do que alcançar as borboletas do interior; não substituas em ti, se vier a ser quebrado, um único espelho do revérbero.Amaldiçoa o que é puro, a pureza está amaldiçoada em ti.Observa a luz nos espelhos dos cegos.Queres ter ao mesmo tempo o mais pequeno e o mais inquietante livro do mundo? Pede para relerem os selos das tuas cartas de amor e chora; não obstante tudo, tens razão para isso.Nunca esperes por ti.Contempla bem estas duas casas: numa estás morto, na outra estás morto.Pensa em mim que te falo, põe-te no meu lugar para responderes.Receia passar demasiadamente perto das tapeçarias quando estás só e ouças chamar por ti.Torce o teu corpo com as tuas próprias mãos por cima dos outros corpos: aceita corajosamente este princípio de higiene.Come apenas aves em folhas: a árvore animal pode sofrer de Outono.A tua liberdade com a qual me fazes chorar a rir é a tua liberdade.Faz fugir o nevoeiro diante de ti mesmo.Considerando que a natureza mortal das coisas não te confere um poder excepcional de duração, pendura-te pela raiz.Deixa ao travesseiro idiota o cuidado de te acordar.Corta as árvores se quiseres, quebra também as pedras mas tem cuidado, tem cuidado com a luz lívida da utilidade.Só te fitas com um olho, fecha o outro.Não anules os raios vermelhos do Sol.Segues pela terceira rua à direita, depois pela primeira à esquerda, chegas a uma praça, voltas junto do café que conheces, segues a primeira rua à esquerda, depois a terceira rua à direita, lanças a tua estátua por terra e ficas.Sem saber o que irás fazer com ele, apanha o leque que esta mulher deixou cair.Bate à porta, grita: Entre, e não entres.Nada tens para fazer antes de morrer.andré breton e paul éluarda imaculada concepçãotradução franco de sousaestúdios cor1972


Não leias. Olha as figuras brancas desenhadas pelos intervalos separando as palavras de várias linhas dos livros e inspira-te nelas.Dá aos outros a tua mão a guardar.Não te deites sobre as muralhas.Retoma a armadura que abandonaste na idade da razão.Põe a ordem no seu lugar, desarruma as pedras da estrada.Se sangras e és homem, apaga a última palavra na ardósia.Forma os teus olhos fechando-os.Dá aos sonhos que esqueceste o valor daquilo que não conheces.Conheci três lampistas, cinco guarda-barreiras mulheres, um guarda-barreira homem: e tu?Não prepares as palavras que gritas.Habita as casas abandonadas. Não foram habitadas senão por ti.Faz um leito de afagos aos teus afagos.Se eles batem à porta, escreve as tuas últimas vontades com a chave.Rouba o sentido ao som, existem tambores encobertos mesmo nos vestidos claros.Canta a grande piedade dos monstros. Evoca todas as mulheres de pé sobre o cavalo de Tróia.Não bebas água.Como a letra l e a letra m, pelo meio encontrarás a asa e a serpente.Fala consoante a loucura que te seduziu.Veste-te com cores cintilantes, não é hábito.O que encontras só te pertence enquanto a tua mão está estendida.Mente ao morder o arminho dos teus juízes.Enforca-te, bravo Crillon, eles te tirarão da forca com o seu Isso depende.Ata as pernas infiéis.Deixa a madrugada aumentar a ferrugem dos teus sonhos.Aprende a esperar, de pés para a frente. É assim que brevemente sairás, bem coberto.Acende as perspectivas da fadiga.Vende com que comer, compra com que morrer de fome.Faz-lhes a surpresa de não confundir o futuro do verbo ter com o passado do verbo ser.Sê o vidraceiro da pedra engastada no vidro novo.A quem peça para ver o interior da tua mão, mostra os planetas não descobertos do céu.Diz à luz, tu calcularás as dimensões encantadoras do insecto-folha.Para descobrir a nudez daquela que amas, olha as suas mãos. O seu rosto baixou.Separa o giz do carvão, as papoulas do sangue.Dá-me o prazer de entrar e sair nas pontas dos pés.Ponto e vírgula: vês, mesmo na pontuação, como eles são surpreendentes.Deita-te, levanta-te e agora deita-te.Até à nova ordem, até à nova ordem monástica, isto é até que as mulheres mais jovens e belas adoptem o decote em cruz: os dois ramos horizontais descobrindo os seios, o pé da cruz nua no baixo-ventre, ligeiramente avermelhado.Daquilo que tem a cabeça sobre os ombros, abstêm-te.Regula a tua marcha pela das tempestades.Nunca mates uma ave da noite.Olha a flor da campainha: ela não permite ouvir.Falha a finalidade aparente, quando tiveres que atravessar o teu coração com a flecha.Opera milagres para os negares.Tem a idade deste velho corvo que diz: Vinte anos.Tem cuidado com os carroceiros do bom gosto.Desenha na poeira os jogos desinteressados do teu tédio.Não escolhas o tempo de recomeçar.Sustenta que a tua cabeça, contrariamente às castanhas-da-índia é em absoluto sem peso, uma vez que ainda não caiu.Doura a pílula com a centelha sem isso negra pela bigorna.Faz para ti sem franzir as sobrancelhas uma ideia possível das andorinhas.Escreve o imperecível na areia.Corrige os teus pais.Não guardes em ti aquilo que não fira o bom senso.Imagina que esta mulher está contida em três palavras e que esta colina é um abismo.Lacra as verdadeiras cartas de amor que escreves com uma hóstia profanada.Não deixes de dizer ao revólver: Muito lisonjeado mas parece-me tê-lo já encontrado em qualquer lado.As borboletas do exterior não procuram mais do que alcançar as borboletas do interior; não substituas em ti, se vier a ser quebrado, um único espelho do revérbero.Amaldiçoa o que é puro, a pureza está amaldiçoada em ti.Observa a luz nos espelhos dos cegos.Queres ter ao mesmo tempo o mais pequeno e o mais inquietante livro do mundo? Pede para relerem os selos das tuas cartas de amor e chora; não obstante tudo, tens razão para isso.Nunca esperes por ti.Contempla bem estas duas casas: numa estás morto, na outra estás morto.Pensa em mim que te falo, põe-te no meu lugar para responderes.Receia passar demasiadamente perto das tapeçarias quando estás só e ouças chamar por ti.Torce o teu corpo com as tuas próprias mãos por cima dos outros corpos: aceita corajosamente este princípio de higiene.Come apenas aves em folhas: a árvore animal pode sofrer de Outono.A tua liberdade com a qual me fazes chorar a rir é a tua liberdade.Faz fugir o nevoeiro diante de ti mesmo.Considerando que a natureza mortal das coisas não te confere um poder excepcional de duração, pendura-te pela raiz.Deixa ao travesseiro idiota o cuidado de te acordar.Corta as árvores se quiseres, quebra também as pedras mas tem cuidado, tem cuidado com a luz lívida da utilidade.Só te fitas com um olho, fecha o outro.Não anules os raios vermelhos do Sol.Segues pela terceira rua à direita, depois pela primeira à esquerda, chegas a uma praça, voltas junto do café que conheces, segues a primeira rua à esquerda, depois a terceira rua à direita, lanças a tua estátua por terra e ficas.Sem saber o que irás fazer com ele, apanha o leque que esta mulher deixou cair.Bate à porta, grita: Entre, e não entres.Nada tens para fazer antes de morrer.andré breton e paul éluarda imaculada concepçãotradução franco de sousaestúdios cor1972

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