A Ilha do Dia Antes: monarquia

24-01-2012
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No próximo sábado assinalam-se os cem anos do regicídio, do assassinato do rei D. Carlos e do príncipe real D. Luís Filipe (1). A efeméride será, essencialmente, assinalada pelas reais associações do país. No entanto, enquanto portugueses, devíamos prestar uma homenagem à figura de D. Carlos.Primeiro, porque enquanto democratas não nos podemos rever no modo como o monarca - e o seu legítimo descendente - foi afastado do trono português. Segundo, porque D. Carlos se revelou, durante o seu reinado, uma figura ímpar. Enquanto diplomata, foi um dos monarcas mais respeitados da Europa e um interlocutor privilegiado com as casas reais de uma Europa que, à época, era maioritariamente constituída por monarquias. Logo que sobe ao trono, enfrenta o Ultimato Inglês que o testa e confronta com a incapacidade portuguesa para contestar as pretensões britânicas, a maior potência à época (1, 2). Enquanto político, D. Carlos intervém, sem sucesso, para contrariar a alternância política que rapidamente se instala no poder político português (3). Aceita a criação de um Partido Republicano, o mesmo que tomara assentos na assembleia legislativa e presidirá, em 1908, à câmara de Lisboa. Mostrava-se atento às movimentações políticas em Portugal, preocupado com a falta de espírito empreendedor nos políticos. A sua dívida cresce, fruto de uma fazenda que permanece a mesma desde o reinado de D. João VI. O rei arrecada as culpas e, errando, não poupa. Enquanto artista e cientista, D. Carlos supera todas as outras dimensões. Foi o maior impulsionador nos estudos oceanográficos em Portugal, criador do Aquário Vasco da Gama e um apaixonado pelos oceanos e pela fauna marítima. Um habilidoso pintor e retratista e um dotado atirador e caçador (1). Um crítico da igreja, um reformador do exército. A nível pessoal, um homem tímido e reservado (2), uma figura talhada para a tragédia.O regicídio, a 1 de Fevereiro de 1908. A escolha dos bárbaros para vergonha dos democratas e justos.Penso que um grande estadista, como foi D. Carlos I, está acima de debates sobre a natureza republicana ou monárquica do regime. Uma pessoa, notável nos trabalhos que desenvolveu nas artes e ciências, merece uma referência elogiosa.Talvez Portugal precisasse de mais homens assim: cultos, informados, preocupados com a evolução dos destinos do país. Ou, eventualmente, apenas precisa de escutar os bons que tem. A História não responde a probabilidades. Mas, no final, fica-me a questão quanto ao que teria acontecido se D. Carlos tivesse abdicado em favor de D. Luís Filipe, figura conotada com os críticos do governo de João Franco (4) e extremamente popular (3, 5)? Estaríamos melhor?Nota: A camarada Mariana provavelmente não se revê nesta minha mensagem, pelo que a convido a um saudável contraditório.Pedro(1) Cf., Ramos, R. (2006). D. Carlos I. Lisboa: Círculo dos Leitores.(2) Cf., Pailler, J. (2001). D. Carlos I: Rei de Portugal. Lisboa: Bertrand Editora.(3) Cf., D. Carlos I (2006). Cartas D’El Rei D. Carlos I a João Franco. Lisboa: Betrand.(4) Facto desmentido por João Franco em Cartas D’El-Rei D. Carlos I, mas que permitiria ao príncipe herdeiro uma inversão na política da casa real portuguesa.(5) Cf., http://ww1.rtp.pt/noticias/?article=322626&visual=26&tema=5


No próximo sábado assinalam-se os cem anos do regicídio, do assassinato do rei D. Carlos e do príncipe real D. Luís Filipe (1). A efeméride será, essencialmente, assinalada pelas reais associações do país. No entanto, enquanto portugueses, devíamos prestar uma homenagem à figura de D. Carlos.Primeiro, porque enquanto democratas não nos podemos rever no modo como o monarca - e o seu legítimo descendente - foi afastado do trono português. Segundo, porque D. Carlos se revelou, durante o seu reinado, uma figura ímpar. Enquanto diplomata, foi um dos monarcas mais respeitados da Europa e um interlocutor privilegiado com as casas reais de uma Europa que, à época, era maioritariamente constituída por monarquias. Logo que sobe ao trono, enfrenta o Ultimato Inglês que o testa e confronta com a incapacidade portuguesa para contestar as pretensões britânicas, a maior potência à época (1, 2). Enquanto político, D. Carlos intervém, sem sucesso, para contrariar a alternância política que rapidamente se instala no poder político português (3). Aceita a criação de um Partido Republicano, o mesmo que tomara assentos na assembleia legislativa e presidirá, em 1908, à câmara de Lisboa. Mostrava-se atento às movimentações políticas em Portugal, preocupado com a falta de espírito empreendedor nos políticos. A sua dívida cresce, fruto de uma fazenda que permanece a mesma desde o reinado de D. João VI. O rei arrecada as culpas e, errando, não poupa. Enquanto artista e cientista, D. Carlos supera todas as outras dimensões. Foi o maior impulsionador nos estudos oceanográficos em Portugal, criador do Aquário Vasco da Gama e um apaixonado pelos oceanos e pela fauna marítima. Um habilidoso pintor e retratista e um dotado atirador e caçador (1). Um crítico da igreja, um reformador do exército. A nível pessoal, um homem tímido e reservado (2), uma figura talhada para a tragédia.O regicídio, a 1 de Fevereiro de 1908. A escolha dos bárbaros para vergonha dos democratas e justos.Penso que um grande estadista, como foi D. Carlos I, está acima de debates sobre a natureza republicana ou monárquica do regime. Uma pessoa, notável nos trabalhos que desenvolveu nas artes e ciências, merece uma referência elogiosa.Talvez Portugal precisasse de mais homens assim: cultos, informados, preocupados com a evolução dos destinos do país. Ou, eventualmente, apenas precisa de escutar os bons que tem. A História não responde a probabilidades. Mas, no final, fica-me a questão quanto ao que teria acontecido se D. Carlos tivesse abdicado em favor de D. Luís Filipe, figura conotada com os críticos do governo de João Franco (4) e extremamente popular (3, 5)? Estaríamos melhor?Nota: A camarada Mariana provavelmente não se revê nesta minha mensagem, pelo que a convido a um saudável contraditório.Pedro(1) Cf., Ramos, R. (2006). D. Carlos I. Lisboa: Círculo dos Leitores.(2) Cf., Pailler, J. (2001). D. Carlos I: Rei de Portugal. Lisboa: Bertrand Editora.(3) Cf., D. Carlos I (2006). Cartas D’El Rei D. Carlos I a João Franco. Lisboa: Betrand.(4) Facto desmentido por João Franco em Cartas D’El-Rei D. Carlos I, mas que permitiria ao príncipe herdeiro uma inversão na política da casa real portuguesa.(5) Cf., http://ww1.rtp.pt/noticias/?article=322626&visual=26&tema=5

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