Tabu de Costa leva direita e esquerda a afinar estratégias

28-10-2014
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Tabu de Costa leva direita e esquerda a afinar estratégias

Márcia Galrão, Inês David Bastos e Mariana Adam

02 Out 2014

Esquerda e direita vão insistir que Costa clarifique para que lado do espectro político vai pender. Mas o autarca de Lisboa tem uma estratégia clara: gerir a sua autonomia para coligações até às eleições.

Eleito nas primeiras primárias realizadas em Portugal, AntónioCosta juntou à sua volta não só militantes socialistas, mas muitos simpatizantes. Algo que fez esquerda e direita temerem a força com que o novo líder do PS arranca em vésperas de legislativas. A capacidade de roubar votos de um lado e do outro do espectro político faz com que não só o PSD e o CDS, mas também o Bloco de Esquerda e o PCP,afinem as suas estratégias para lhe fazer frente.

Costa tem a sua estratégia: fará negociações e acordos com quem for possível fazer e da forma que precisar para governar. Daí que a ideia seja gerir esta sua autonomia para fazer escolhas até ao final, ou seja, até depois de ser eleito primeiro-ministro.

Esta ideia de "autonomia" significa que, aos que lhe exigem que diga à partida ao que vem, Costa responda como na campanha: não assume compromissos que não sabe à partida se poderá cumprir. Ontem, no ETV, o deputado Pedro Delgado Alves, próximo do autarca, deixou bem claro que "Costa vai disputar eleitorado quer à direita, quer à esquerda" e a "liderança forte" com que chegou ao PS torna "mais fácil ter uma posição de força tanto à esquerda, como à direita".

O ponto de partido é a "disposição para dialogar com todos", admite o deputado, mas ao PSD deixa o aviso: "não pode esperar que seja a nova liderança do PS a oferecer-lhe acordos antes das eleições". Até porque acredita que "é importante falar com o PSD, mas não é tão importante falar com a actual direcção do PSD". Para os social-democratas uma coisa é certa: "O PS vai ter de se sentar à mesa com a maioria", diz a vice-presidente da bancada ‘laranja' Carlos Abreu Amorim.

Quando a esquerda lhe exige que "clarifique" de que lado está, como já fez Jerónimo de Sousa e outros líderes de movimentos mais pequenos, o mais certo é ficar sem resposta. "Costa está predisposto a ter condições de governabilidade de acordo com um programa que é o seu", por isso, diz o politólogo Pedro Adão e Silva, os acordos vão "sempre depender do resultado eleitoral" e da disponibilidade dos interlocutores. E ontem, a deputada socialista Ana Catarina Mendes mostrou que a estratégia passa por devolver a essa esquerda uma pergunta. "Partidos diferentes não podem estar de acordo sobre tudo, mas têm de saber quais são as plataformas políticas com que concordam ou de que discordam", disse na Assembleia, desafiando a oposição a esclarecer se quer mesmo fazer parte de uma alternativa política.

Mas é certo que Costa não reduz essa alternativa a acordos com a esquerda. Mesmo tendo dito na campanha que Rui Rio é um adversário, nunca disse que rejeita acordos com a direita, seja o PSD ou o CDS.

Assim que venceu as eleições, Costa viu o CDS dizer publicamente que esperava que este estivesse aberto a acordos sobre determinadas áreas. Houve quem visse nestas declarações do líder do CDS e vice-primeiro-ministro um ‘piscar de olhos' a Costa. Portas está a medir todas as variáveis ao milímetro. Sabe que o Governo está desgastado e que o seu partido pode sofrer um abalo nas próximas legislativas, mas também sabe que para fazer frente a Costa terá, mais que nunca, de unir forças com o PSD. Mostrar que a coligação é forte.

No PSD a ordem é para forçar o mais rápido possível uma clarificação de Costa. A ausência de um posicionamento claro do autarca sobre matérias-chave - como o Tratado Orçamental, a dívida ou o défice - está a impedir o PSD de fechar por completo uma estratégia de combate ao novo rosto da oposição. Ainda ontem, o vice da bancada Matos Correia exigiu a Costa que explique o que pensa, de facto, sobre aquelas matérias.

O novo candidato do PS a primeiro-ministro só tem um objectivo neste momento: conquistar a maioria absoluta. Mesmo considerando difícil, Costa não vai deixar de continuar a pedi-la.

Tabu de Costa leva direita e esquerda a afinar estratégias

Márcia Galrão, Inês David Bastos e Mariana Adam

02 Out 2014

Esquerda e direita vão insistir que Costa clarifique para que lado do espectro político vai pender. Mas o autarca de Lisboa tem uma estratégia clara: gerir a sua autonomia para coligações até às eleições.

Eleito nas primeiras primárias realizadas em Portugal, AntónioCosta juntou à sua volta não só militantes socialistas, mas muitos simpatizantes. Algo que fez esquerda e direita temerem a força com que o novo líder do PS arranca em vésperas de legislativas. A capacidade de roubar votos de um lado e do outro do espectro político faz com que não só o PSD e o CDS, mas também o Bloco de Esquerda e o PCP,afinem as suas estratégias para lhe fazer frente.

Costa tem a sua estratégia: fará negociações e acordos com quem for possível fazer e da forma que precisar para governar. Daí que a ideia seja gerir esta sua autonomia para fazer escolhas até ao final, ou seja, até depois de ser eleito primeiro-ministro.

Esta ideia de "autonomia" significa que, aos que lhe exigem que diga à partida ao que vem, Costa responda como na campanha: não assume compromissos que não sabe à partida se poderá cumprir. Ontem, no ETV, o deputado Pedro Delgado Alves, próximo do autarca, deixou bem claro que "Costa vai disputar eleitorado quer à direita, quer à esquerda" e a "liderança forte" com que chegou ao PS torna "mais fácil ter uma posição de força tanto à esquerda, como à direita".

O ponto de partido é a "disposição para dialogar com todos", admite o deputado, mas ao PSD deixa o aviso: "não pode esperar que seja a nova liderança do PS a oferecer-lhe acordos antes das eleições". Até porque acredita que "é importante falar com o PSD, mas não é tão importante falar com a actual direcção do PSD". Para os social-democratas uma coisa é certa: "O PS vai ter de se sentar à mesa com a maioria", diz a vice-presidente da bancada ‘laranja' Carlos Abreu Amorim.

Quando a esquerda lhe exige que "clarifique" de que lado está, como já fez Jerónimo de Sousa e outros líderes de movimentos mais pequenos, o mais certo é ficar sem resposta. "Costa está predisposto a ter condições de governabilidade de acordo com um programa que é o seu", por isso, diz o politólogo Pedro Adão e Silva, os acordos vão "sempre depender do resultado eleitoral" e da disponibilidade dos interlocutores. E ontem, a deputada socialista Ana Catarina Mendes mostrou que a estratégia passa por devolver a essa esquerda uma pergunta. "Partidos diferentes não podem estar de acordo sobre tudo, mas têm de saber quais são as plataformas políticas com que concordam ou de que discordam", disse na Assembleia, desafiando a oposição a esclarecer se quer mesmo fazer parte de uma alternativa política.

Mas é certo que Costa não reduz essa alternativa a acordos com a esquerda. Mesmo tendo dito na campanha que Rui Rio é um adversário, nunca disse que rejeita acordos com a direita, seja o PSD ou o CDS.

Assim que venceu as eleições, Costa viu o CDS dizer publicamente que esperava que este estivesse aberto a acordos sobre determinadas áreas. Houve quem visse nestas declarações do líder do CDS e vice-primeiro-ministro um ‘piscar de olhos' a Costa. Portas está a medir todas as variáveis ao milímetro. Sabe que o Governo está desgastado e que o seu partido pode sofrer um abalo nas próximas legislativas, mas também sabe que para fazer frente a Costa terá, mais que nunca, de unir forças com o PSD. Mostrar que a coligação é forte.

No PSD a ordem é para forçar o mais rápido possível uma clarificação de Costa. A ausência de um posicionamento claro do autarca sobre matérias-chave - como o Tratado Orçamental, a dívida ou o défice - está a impedir o PSD de fechar por completo uma estratégia de combate ao novo rosto da oposição. Ainda ontem, o vice da bancada Matos Correia exigiu a Costa que explique o que pensa, de facto, sobre aquelas matérias.

O novo candidato do PS a primeiro-ministro só tem um objectivo neste momento: conquistar a maioria absoluta. Mesmo considerando difícil, Costa não vai deixar de continuar a pedi-la.

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