Presidenciais em duas voltas. Um remake de 1986?

14-12-2019
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Uma nova estratégia e um novo discurso

Freitas do Amaral viu neste apoio uma oportunidade de agudizar ainda mais as feridas mal saradas do pós-25 de abril e as clivagens políticas que ainda abanavam a sociedade portuguesa 12 anos depois da revolução. Disse que o apoio de Soares a Cunhal seria “redutor” e que Soares, ao aceitar esta ajuda acabava “de perder a confiança de todos quantos o julgavam um bastião de firmeza contra o totalitarismo” e exigiu ver ” os acordos feitos com o PCP”. Lembrou ainda que Soares tinha criticado Zenha na primeira volta ao dizer que o que os distinguia era que Soares afirmava pertencer a uma esquerda democrática e que essa esquerda não deveria “estar unida com a esquerda totalitária”.

As eleições de 1986 já entraram diretamente nesta eleição, com Marcelo Rebelo de Sousa a dizer que é muito diferente de Freitas do Amaral. “Freitas do Amaral vinha da direita, direita, não vinha da esquerda da direita que é uma diferença”, disse o professor catedrático, que apesar das semelhanças óbvias, disse então que tinha “da esquerda da direita”. Marcelo Rebelo de Sousa considera que “o país é muito diferente” e que as eleições há 30 anos “foram muito ideológicas” e que Portugal “estava muito dividido”. O antigo líder disse que apesar de haver “diversidade” de projetos políticos em 2016, em 1986 as clivagens eram “tão fortes” que levaram à segunda volta.

Concentrado no seu propósito e ciente dessas clivagens, Mário Soares não se deixou abalar. “Se o radicalismo de esquerda foi vencido nas urnas, agora é preciso derrotar o outro radicalismo, o qual passou a ser o adversário principal […] Os comunistas sabem que se voltasse a existir em Portugal uma situação em que fossem perseguidos, eu estaria com eles para os defender”, afirmou o socialista encaixando na mesma intervenção a 31 de janeiro mensagens diretas contra Freitas e um piscar de olhos ao PCP. Estava na altura de os dois candidatos voltarem à estrada.

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Redesenhou-se então a campanha para a segunda volta, com Freitas do Amaral a passar a pente fino os territórios que não tinham sido visitados na primeira volta e a apostar com fervor no sul, especialmente Algarve, nos últimos dias de campanha, quando Cavaco Silva se junta à caravana do “Prá Frente Portugal”. Mário Soares percorre em força o Alentejo, bastião do PCP, e aposta com força em Lisboa e Setúbal – também terra de grande influência comunista. Para além de novos cartazes, autocolantes e bandeiras com o lendário slogan “Soares é fixe”, também se mandaram fazer centenas de caixas de bombons com o dizer “Soares Presidente” para adoçar a boca à esquerda.

Mas isso não bastava para facilitar a digestão de um voto comunista em Soares. Apostou-se então nos tempos de antena. No seu primeiro espaço de apelo ao voto na campanha da segunda volta, a candidatura de Soares escolhe uma mulher que diz ter voto cativo na APU – Aliança Povo Unido que então agregava PCP e Verdes – para cativar o voto à esquerda. “Estou a tomar sais de fruto para votar em Soares”, diz a mulher, aconselhando a quem quer que vote no PCP que engula o sapo de votar no socialista e amenize a digestão com o remédio tradicional. O “Semanário” reproduz uma conversa de café em Rio de Mouro que também ilustra as divisões na esquerda mais radical: “Não sei onde isto vai parar… Como é que vou encarar agora os amigos a quem andei meses a explicar as traições do Soares?”.

Dos candidatos mais bem posicionados para passarem a uma possível segunda volta em 2016, Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém destacam-se. Ambos, de uma forma mais assumida no caso do Belém e menos assumida no caso de Sampaio da Nóvoa, estão ligados ao PS. Caso essas mesmas sondagens venham a provar estar certas, para vencer Mercelo, a esquerda terá novamente de se unir em torno de um único candidato, ultrapassando muitos dos argumentos utilizados para definir posições, militâncias e opções no quadrante mais à esquerda da política portuguesa.

Em 1986, a persuasão do PCP aos seus militantes parecia estar a resultar. Soares conta a Joaquim Vieira que em Pias, no concelho de Serpa, na primeira vez que lá passou, um conhecido seu de Caxias – tinham estado os dois presos ao mesmo tempo – lhe chamou fascista e na segunda volta, tratava-o por “camarada”. “‘Ouça lá, então você há 15 dias estava a chamar-me fascista seu malandro, que me conheceu na prisão, e agora está aqui e tal. Como é que explica isto?’ O gajo, impecável, diz assim: ‘É que agora você voltou a ser amigo dos trabalhadores'”, conta Mário Soares.

Do seu lado, Freitas do Amaral continua com enchentes nos seus eventos de campanha e comitivas com centenas de carros. Vai-se defendendo como consegue. “Em mim ninguém votará de olhos fechados. Os objetivos das próximas eleições são: consolidar a democracia, criar estabilidade e recriar confiança”, dizia já em plena campanha, onde ia ouvindo frases como “apoio Freitas do Amaral porque não posso apoiar Soares, o maior inimigo do PCP”. Para além das suas ideias, o professor da Faculdade de Direito de Lisboa, também encantava pelo seu visual, com “A Capital” a descrever o elogio de uma idosa ao “famoso sobretudo” e de duas jovens ao dizerem: “Que bom deve ser ter um marido como o Freitas. Ele deve fazer feliz uma mulher”.

No entanto, as dificuldades na campanha de Freitas começavam a transparecer. Surgiam boatos de que se Freitas se tornasse Presidente as pensões seriam cortadas para metade e o final dos comícios eram polvilhados por fortes insultos em que o acusavam ser fascista e de querer a contra revolução.

A eleição mais disputada

A 12 dias das eleições, que decorreram a 16 de fevereiro, Soares e Freitas do Amaral encontram-se no único debate da segunda volta. O embate foi conduzido por Miguel Sousa Tavares e Margarida Marante e o apoio do PCP a Soares foi um dos principais focos da troca de argumento entre os candidatos. Freitas do Amaral disse que o discurso de Soares tinha mudado desde 26 de janeiro e convidou-o a rejeitar o apoio dos comunistas. Soares retorquiu que o centrista “nunca fez a diferença entre a direita democrática e a não democrática”, acusando-o de ter comícios em que se pedia que os comunistas fossem enviados para a Sibéria. Freitas respondeu que “não houve violência” na sua campanha e que Soares fazia “apelo ao medo”. “Eu não tenho dúvida em afirmar que o senhor se converteu, ainda que tardiamente, à democracia”, anuiu Soares.

A segunda volta apanhou ainda o Carnaval, em que a a campanha de Soares aproveitou para organizar um dia de festa no Porto. Freitas preferiu passar o Entrudo na sua casa na Marinha Grande, mas a campanha teve direito a um samba.”Ai ai ai ai, Está chegando a hora, é hora do Freitas ir p’ra Belém, E o Soares ficar de fora”, pode ler-se nas páginas da edição de 8 de fevereiro do “Semanário”. Os candidatos foram também acompanhados com interesse por jornalistas estrangeiros. Em Espanha, os dois candidatos foram entrevistados para a televisão – algo que até servia o propósito dos candidatos já que algumas partes do interior do país nessa altura só apanhavam as emissões televisivas do outro lado da fronteira – e a “The Economist” afirmava que tinham passado à segunda fase, os “melhores candidatos” e que tanto um como outro eram “experientes, de mentalidade europeia e moderados”.

Mais tarde, Mário Soares afirmaria a Maria João Avillez, no livro “Soares, democracia”, que o país estava dividido “em duas metades”. “No final do debate, a 4 de fevereiro, achei que tinha ganho, mas não fiquei triunfalista. No Porto, no último comício que aí fizemos, tive, aí sim, a certeza de que ganharia”, afirmou o socialista. Duas figuras essenciais durante toda a campanha, mas especialmente na segunda volta, foram as mulheres dos candidatos. Maria de Jesus Barroso, mulher de Mário Soares, fez campanha sozinha um pouco por todo o país, para duplicar a atenção à campanha do marido. Do outro lado, Maria José Freitas do Amaral foi companheira de estrada do marido e apelidou a corrida de “fascinante”. As duas figuraram nos melhores da campanha escolhidos pelo “Semanário”.

Na altura do confronto final, os dois candidatos ficaram muito próximos. Soares ganhou com 51,2% dos votos e Freitas ficou-se pelos 48,8%. “O dinamismo, a imaginação e a alegria da campanha – que foram devidos ao génio político- mediático de Daniel Proença de Carvalho – incendiaram os ânimos e as esperanças do centro e da direita portugueses, bem como de algumas personalidades e jovens do centro-esquerda, o que permitiu alcançar o valor muito elevado de 48,8% dos votos, contra os 51,2% do dr. Mário Soares”, escreveu Freitas do Amaral no livro que comemora os 40 anos do CDS e foi publicado no ano passado.

Entre os apoiantes de Sampaio da Nóvoa as sondagens de 1986 estão bem presentes. Porquê? Porque consideram que o ex-reitor conseguirá repetir o feito de Soares: partir com cerca de 10% na primeira sondagem e chegar ainda assim à segunda volta, reunindo então o apoio maioritário de toda a esquerda.

Na altura, Freitas do Amaral disse que a sua campanha foi “limpa” e “honesta” e disse que estaria em licença sabática até outubro desse ano para escrever. A sua saída desta campanha não foi assim tão simples, abandonando a ribalta com pesadas dívidas da campanha que comprometeram as suas finanças pessoais e o seu estatuto. Marcelo Rebelo de Sousa recorda na sua biografia escrita por Vítor de Matos, as consequências destes resultados. “Lembro-me de estarem vários apoiantes de Freitas no bar, de ele entrar e de lhe virarem as costas para não lhe falarem. Impressionou-me como ficou cheio de dívidas e do Cavaco e do PSD não lhe terem pagado”, recordou o agora candidato presidencial – em jeito de desafio e de prenda, Marcelo terá mesmo oferecido a Freitas do Amaral um passe de época para o São Carlos junto aos camarotes do Governo, fazendo com que no ano seguinte os líderes mais destacados do PSD tivessem obrigatoriamente de encarar Freitas do Amaral.

Agora, no testemunho que escreveu para o livro do CDS, a leitura de Freitas do Amaral sobre a sua campanha é mais elaborada. “A proximidade dos 50%, conseguida nas presidenciais de 1986, beneficiou diretamente o PSD de Cavaco Silva nas legislativas de 1987: mas isso é outra história; o certo é que sem a campanha «Prá Frente Portugal» talvez o PSD, um ano depois, não tivesse obtido a maioria absoluta sozinho”, escreve o professor catedrático de Direito.

Uma nova estratégia e um novo discurso

Freitas do Amaral viu neste apoio uma oportunidade de agudizar ainda mais as feridas mal saradas do pós-25 de abril e as clivagens políticas que ainda abanavam a sociedade portuguesa 12 anos depois da revolução. Disse que o apoio de Soares a Cunhal seria “redutor” e que Soares, ao aceitar esta ajuda acabava “de perder a confiança de todos quantos o julgavam um bastião de firmeza contra o totalitarismo” e exigiu ver ” os acordos feitos com o PCP”. Lembrou ainda que Soares tinha criticado Zenha na primeira volta ao dizer que o que os distinguia era que Soares afirmava pertencer a uma esquerda democrática e que essa esquerda não deveria “estar unida com a esquerda totalitária”.

As eleições de 1986 já entraram diretamente nesta eleição, com Marcelo Rebelo de Sousa a dizer que é muito diferente de Freitas do Amaral. “Freitas do Amaral vinha da direita, direita, não vinha da esquerda da direita que é uma diferença”, disse o professor catedrático, que apesar das semelhanças óbvias, disse então que tinha “da esquerda da direita”. Marcelo Rebelo de Sousa considera que “o país é muito diferente” e que as eleições há 30 anos “foram muito ideológicas” e que Portugal “estava muito dividido”. O antigo líder disse que apesar de haver “diversidade” de projetos políticos em 2016, em 1986 as clivagens eram “tão fortes” que levaram à segunda volta.

Concentrado no seu propósito e ciente dessas clivagens, Mário Soares não se deixou abalar. “Se o radicalismo de esquerda foi vencido nas urnas, agora é preciso derrotar o outro radicalismo, o qual passou a ser o adversário principal […] Os comunistas sabem que se voltasse a existir em Portugal uma situação em que fossem perseguidos, eu estaria com eles para os defender”, afirmou o socialista encaixando na mesma intervenção a 31 de janeiro mensagens diretas contra Freitas e um piscar de olhos ao PCP. Estava na altura de os dois candidatos voltarem à estrada.

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Redesenhou-se então a campanha para a segunda volta, com Freitas do Amaral a passar a pente fino os territórios que não tinham sido visitados na primeira volta e a apostar com fervor no sul, especialmente Algarve, nos últimos dias de campanha, quando Cavaco Silva se junta à caravana do “Prá Frente Portugal”. Mário Soares percorre em força o Alentejo, bastião do PCP, e aposta com força em Lisboa e Setúbal – também terra de grande influência comunista. Para além de novos cartazes, autocolantes e bandeiras com o lendário slogan “Soares é fixe”, também se mandaram fazer centenas de caixas de bombons com o dizer “Soares Presidente” para adoçar a boca à esquerda.

Mas isso não bastava para facilitar a digestão de um voto comunista em Soares. Apostou-se então nos tempos de antena. No seu primeiro espaço de apelo ao voto na campanha da segunda volta, a candidatura de Soares escolhe uma mulher que diz ter voto cativo na APU – Aliança Povo Unido que então agregava PCP e Verdes – para cativar o voto à esquerda. “Estou a tomar sais de fruto para votar em Soares”, diz a mulher, aconselhando a quem quer que vote no PCP que engula o sapo de votar no socialista e amenize a digestão com o remédio tradicional. O “Semanário” reproduz uma conversa de café em Rio de Mouro que também ilustra as divisões na esquerda mais radical: “Não sei onde isto vai parar… Como é que vou encarar agora os amigos a quem andei meses a explicar as traições do Soares?”.

Dos candidatos mais bem posicionados para passarem a uma possível segunda volta em 2016, Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém destacam-se. Ambos, de uma forma mais assumida no caso do Belém e menos assumida no caso de Sampaio da Nóvoa, estão ligados ao PS. Caso essas mesmas sondagens venham a provar estar certas, para vencer Mercelo, a esquerda terá novamente de se unir em torno de um único candidato, ultrapassando muitos dos argumentos utilizados para definir posições, militâncias e opções no quadrante mais à esquerda da política portuguesa.

Em 1986, a persuasão do PCP aos seus militantes parecia estar a resultar. Soares conta a Joaquim Vieira que em Pias, no concelho de Serpa, na primeira vez que lá passou, um conhecido seu de Caxias – tinham estado os dois presos ao mesmo tempo – lhe chamou fascista e na segunda volta, tratava-o por “camarada”. “‘Ouça lá, então você há 15 dias estava a chamar-me fascista seu malandro, que me conheceu na prisão, e agora está aqui e tal. Como é que explica isto?’ O gajo, impecável, diz assim: ‘É que agora você voltou a ser amigo dos trabalhadores'”, conta Mário Soares.

Do seu lado, Freitas do Amaral continua com enchentes nos seus eventos de campanha e comitivas com centenas de carros. Vai-se defendendo como consegue. “Em mim ninguém votará de olhos fechados. Os objetivos das próximas eleições são: consolidar a democracia, criar estabilidade e recriar confiança”, dizia já em plena campanha, onde ia ouvindo frases como “apoio Freitas do Amaral porque não posso apoiar Soares, o maior inimigo do PCP”. Para além das suas ideias, o professor da Faculdade de Direito de Lisboa, também encantava pelo seu visual, com “A Capital” a descrever o elogio de uma idosa ao “famoso sobretudo” e de duas jovens ao dizerem: “Que bom deve ser ter um marido como o Freitas. Ele deve fazer feliz uma mulher”.

No entanto, as dificuldades na campanha de Freitas começavam a transparecer. Surgiam boatos de que se Freitas se tornasse Presidente as pensões seriam cortadas para metade e o final dos comícios eram polvilhados por fortes insultos em que o acusavam ser fascista e de querer a contra revolução.

A eleição mais disputada

A 12 dias das eleições, que decorreram a 16 de fevereiro, Soares e Freitas do Amaral encontram-se no único debate da segunda volta. O embate foi conduzido por Miguel Sousa Tavares e Margarida Marante e o apoio do PCP a Soares foi um dos principais focos da troca de argumento entre os candidatos. Freitas do Amaral disse que o discurso de Soares tinha mudado desde 26 de janeiro e convidou-o a rejeitar o apoio dos comunistas. Soares retorquiu que o centrista “nunca fez a diferença entre a direita democrática e a não democrática”, acusando-o de ter comícios em que se pedia que os comunistas fossem enviados para a Sibéria. Freitas respondeu que “não houve violência” na sua campanha e que Soares fazia “apelo ao medo”. “Eu não tenho dúvida em afirmar que o senhor se converteu, ainda que tardiamente, à democracia”, anuiu Soares.

A segunda volta apanhou ainda o Carnaval, em que a a campanha de Soares aproveitou para organizar um dia de festa no Porto. Freitas preferiu passar o Entrudo na sua casa na Marinha Grande, mas a campanha teve direito a um samba.”Ai ai ai ai, Está chegando a hora, é hora do Freitas ir p’ra Belém, E o Soares ficar de fora”, pode ler-se nas páginas da edição de 8 de fevereiro do “Semanário”. Os candidatos foram também acompanhados com interesse por jornalistas estrangeiros. Em Espanha, os dois candidatos foram entrevistados para a televisão – algo que até servia o propósito dos candidatos já que algumas partes do interior do país nessa altura só apanhavam as emissões televisivas do outro lado da fronteira – e a “The Economist” afirmava que tinham passado à segunda fase, os “melhores candidatos” e que tanto um como outro eram “experientes, de mentalidade europeia e moderados”.

Mais tarde, Mário Soares afirmaria a Maria João Avillez, no livro “Soares, democracia”, que o país estava dividido “em duas metades”. “No final do debate, a 4 de fevereiro, achei que tinha ganho, mas não fiquei triunfalista. No Porto, no último comício que aí fizemos, tive, aí sim, a certeza de que ganharia”, afirmou o socialista. Duas figuras essenciais durante toda a campanha, mas especialmente na segunda volta, foram as mulheres dos candidatos. Maria de Jesus Barroso, mulher de Mário Soares, fez campanha sozinha um pouco por todo o país, para duplicar a atenção à campanha do marido. Do outro lado, Maria José Freitas do Amaral foi companheira de estrada do marido e apelidou a corrida de “fascinante”. As duas figuraram nos melhores da campanha escolhidos pelo “Semanário”.

Na altura do confronto final, os dois candidatos ficaram muito próximos. Soares ganhou com 51,2% dos votos e Freitas ficou-se pelos 48,8%. “O dinamismo, a imaginação e a alegria da campanha – que foram devidos ao génio político- mediático de Daniel Proença de Carvalho – incendiaram os ânimos e as esperanças do centro e da direita portugueses, bem como de algumas personalidades e jovens do centro-esquerda, o que permitiu alcançar o valor muito elevado de 48,8% dos votos, contra os 51,2% do dr. Mário Soares”, escreveu Freitas do Amaral no livro que comemora os 40 anos do CDS e foi publicado no ano passado.

Entre os apoiantes de Sampaio da Nóvoa as sondagens de 1986 estão bem presentes. Porquê? Porque consideram que o ex-reitor conseguirá repetir o feito de Soares: partir com cerca de 10% na primeira sondagem e chegar ainda assim à segunda volta, reunindo então o apoio maioritário de toda a esquerda.

Na altura, Freitas do Amaral disse que a sua campanha foi “limpa” e “honesta” e disse que estaria em licença sabática até outubro desse ano para escrever. A sua saída desta campanha não foi assim tão simples, abandonando a ribalta com pesadas dívidas da campanha que comprometeram as suas finanças pessoais e o seu estatuto. Marcelo Rebelo de Sousa recorda na sua biografia escrita por Vítor de Matos, as consequências destes resultados. “Lembro-me de estarem vários apoiantes de Freitas no bar, de ele entrar e de lhe virarem as costas para não lhe falarem. Impressionou-me como ficou cheio de dívidas e do Cavaco e do PSD não lhe terem pagado”, recordou o agora candidato presidencial – em jeito de desafio e de prenda, Marcelo terá mesmo oferecido a Freitas do Amaral um passe de época para o São Carlos junto aos camarotes do Governo, fazendo com que no ano seguinte os líderes mais destacados do PSD tivessem obrigatoriamente de encarar Freitas do Amaral.

Agora, no testemunho que escreveu para o livro do CDS, a leitura de Freitas do Amaral sobre a sua campanha é mais elaborada. “A proximidade dos 50%, conseguida nas presidenciais de 1986, beneficiou diretamente o PSD de Cavaco Silva nas legislativas de 1987: mas isso é outra história; o certo é que sem a campanha «Prá Frente Portugal» talvez o PSD, um ano depois, não tivesse obtido a maioria absoluta sozinho”, escreve o professor catedrático de Direito.

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