BlaBlaCar: a tentação de andar de carro com desconhecidos

06-07-2015
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Nos últimos seis meses, André Pinheiro já perdeu a conta ao número de pessoas que transportou entre Lisboa e Madrid. Quando lhe pedem para adiantar uma estimativa aproximada, responde: «talvez umas 60 pessoas de 10 ou 15 nacionalidades».

André Pinheiro não é taxista nem guia autocarro – é gestor de ativos financeiros e a profissão obriga-o a deslocar-se por várias vezes entre Lisboa e Madrid. Quem quiser apanhar boleia no carro do jovem gestor tem de ir ao site BlaBlaCar – e aceitar pagar 35 euros por uma viagem entre as duas capitais ibéricas. «Nunca levo mais de três pessoas… e quando alcanço esse máximo de três passageiros consigo juntar o dinheiro que dá para pagar o gasóleo e as portagens», acrescenta.

Para quem quer ganhar dinheiro a transportar pessoas, o BlaBlaCar não será a plataforma mais indicada. André Rodrigues Pereira, responsável pela versão portuguesa deste site de boleias pagas, explica porquê: «O BlaBlaCar foi criado para que os condutores possam reduzir custos de deslocação e que os passageiros possam poupar dinheiro nas viagens que têm de fazer». Quem tentar fazer um pé-de-meia dentro do site arrisca-se a ser banido pelos técnicos do BlaBlaCar. «O valor pedido tem de estar em consonância com a distância percorrida. Fazemos uma análise de todas as ofertas e, se descobrimos margens de lucro muito grandes, ou empresas de transporte convencionais, enviamos um aviso ou simplesmente bloqueamos esses anúncios».

Apesar de não poder apresentar preços que têm um lucro implícito, o dono do carro tem alguma margem de manobra na escolha do preço: se estiver em consonância com o valor estimado pela BlaBlaCar, o preço é apresentado com a cor verde; se for mais caro que o proposto pelo site surge a amarelo ou vermelho.

André Rodrigues Pereira admite que o serviço ainda não tem a pujança que já ostenta em Espanha e em França, mas lembra que pode ser apenas uma questão de tempo: «por cada dia que passa, há 500 pessoas que se juntam à versão portuguesa do BlaBlaCar».

O responsável da BlaBlaCar recorda ainda que, hoje, é possível ir de Lisboa a Moscovo sempre com boleias reservadas no curioso site que foi lançado em 2008, depois de um episódio passado com o empresário francês Frédéric Mazzella, quando se deparou com a impossibilidade de comprar um bilhete de comboio para passar o natal com a família.

Em Portugal, a procura incide especialmente sobre as maiores urbes. «Para sítios mais remotos será difícil encontrar alguém que faça a viagem. Mas provavelmente também será difícil encontrar um comboio ou um autocarro que faça o mesmo percurso. Em contrapartida, em viagens de Lisboa a Madrid, que têm único comboio diário, que parte de noite, já poderá revelar-se muito interessante», acrescenta André Rodrigues Pereira.

André Pinheiro confirma que a lei da oferta e da procura produz efeitos nos preços das viagens: «Numa viagem de Lisboa e Madrid o preço recomendado pelo site é 37 euros, mas eu cobro sempre 35. Há quem cobre 33 ou 40 euros pela mesma viagem. Tudo depende se há muitas pessoas disponíveis para fazer a viagem àquela hora».

Sara Girão faz viagens bem mais curtas: em cada dia de semana, a estagiária de uma conhecida marca de automóveis viaja de Lisboa a Sintra para trabalhar. O que resulta num custo de seis euros diários para cada ida-e-volta. «Já dei boleia a vários turistas. Só por uma vez dei boleia a um português – e descobri depois que se tratava de um colega da minha empresa, que passou a fazer a viagem no meu carro durante cerca de um mês», explica a jovem engenheira mecânica.

Sara Girão inscreveu-se no BlaBlaCar para compensar os custos de deslocação, mas não se faz rogada em experimentar o site enquanto utilizadora: «Se houver alguém que faça esta viagem no mesmo horário, acho que deixo de participar como condutora e passo a pedir boleia. É que fica muito mais vantajoso», acrescenta.

E não haverá razão para recear as viagens com desconhecidos? Sara Girão considera que o site dá as garantias necessárias: «As pessoas recebem classificações e os e-mails e telefones são certificados».

Entre os utilizadores mais frequentes, há conhecimento de episódios passados com condutores que andam demasiado depressa ou demasiado devagar, e de atrasos de uma hora ou mais de uma das partes que estabeleceram o acordo.

Quanto a situações mais graves, André Rodrigues Pereira dá mais um atestado de segurança: «nunca aconteceu nada nestes anos todos que levamos de funcionamento».

Gonçalo Falcão, cavaleiro profissional e gestor de uma coudelaria em Castelo Branco, começou a recorrer ao BlaBlaCar depois de iniciar namoro com uma espanhola de Madrid. Ao todo já terá transportado «umas 12 pessoas, em 10 viagens». Mas a situação mais divertida terá ocorrido enquanto utilizador que para se juntar aos amigos que já se encontravam em Andorra: «Fui com um colombiano, que era o dono da carrinha; um Andorrano; uma espanhola; e três cães. No final, ainda conduzi um pouco para o condutor poder descansar».

Hoje, a versão portuguesa do BlaBlaCar é gratuita: Com a consolidação do conceito, prevê-se que o site comece a cobrar uma percentagem marginal ao valor angariado pelos automobilistas.

No que toca a finanças, André Rodrigues Pereira diz que a fuga de impostos que costuma caracterizar as economias informais não se aplica ao dinheiro que os condutores recebem: «Ninguém tem de pagar impostos porque ninguém consegue ter lucros com as viagens».

Nos últimos seis meses, André Pinheiro já perdeu a conta ao número de pessoas que transportou entre Lisboa e Madrid. Quando lhe pedem para adiantar uma estimativa aproximada, responde: «talvez umas 60 pessoas de 10 ou 15 nacionalidades».

André Pinheiro não é taxista nem guia autocarro – é gestor de ativos financeiros e a profissão obriga-o a deslocar-se por várias vezes entre Lisboa e Madrid. Quem quiser apanhar boleia no carro do jovem gestor tem de ir ao site BlaBlaCar – e aceitar pagar 35 euros por uma viagem entre as duas capitais ibéricas. «Nunca levo mais de três pessoas… e quando alcanço esse máximo de três passageiros consigo juntar o dinheiro que dá para pagar o gasóleo e as portagens», acrescenta.

Para quem quer ganhar dinheiro a transportar pessoas, o BlaBlaCar não será a plataforma mais indicada. André Rodrigues Pereira, responsável pela versão portuguesa deste site de boleias pagas, explica porquê: «O BlaBlaCar foi criado para que os condutores possam reduzir custos de deslocação e que os passageiros possam poupar dinheiro nas viagens que têm de fazer». Quem tentar fazer um pé-de-meia dentro do site arrisca-se a ser banido pelos técnicos do BlaBlaCar. «O valor pedido tem de estar em consonância com a distância percorrida. Fazemos uma análise de todas as ofertas e, se descobrimos margens de lucro muito grandes, ou empresas de transporte convencionais, enviamos um aviso ou simplesmente bloqueamos esses anúncios».

Apesar de não poder apresentar preços que têm um lucro implícito, o dono do carro tem alguma margem de manobra na escolha do preço: se estiver em consonância com o valor estimado pela BlaBlaCar, o preço é apresentado com a cor verde; se for mais caro que o proposto pelo site surge a amarelo ou vermelho.

André Rodrigues Pereira admite que o serviço ainda não tem a pujança que já ostenta em Espanha e em França, mas lembra que pode ser apenas uma questão de tempo: «por cada dia que passa, há 500 pessoas que se juntam à versão portuguesa do BlaBlaCar».

O responsável da BlaBlaCar recorda ainda que, hoje, é possível ir de Lisboa a Moscovo sempre com boleias reservadas no curioso site que foi lançado em 2008, depois de um episódio passado com o empresário francês Frédéric Mazzella, quando se deparou com a impossibilidade de comprar um bilhete de comboio para passar o natal com a família.

Em Portugal, a procura incide especialmente sobre as maiores urbes. «Para sítios mais remotos será difícil encontrar alguém que faça a viagem. Mas provavelmente também será difícil encontrar um comboio ou um autocarro que faça o mesmo percurso. Em contrapartida, em viagens de Lisboa a Madrid, que têm único comboio diário, que parte de noite, já poderá revelar-se muito interessante», acrescenta André Rodrigues Pereira.

André Pinheiro confirma que a lei da oferta e da procura produz efeitos nos preços das viagens: «Numa viagem de Lisboa e Madrid o preço recomendado pelo site é 37 euros, mas eu cobro sempre 35. Há quem cobre 33 ou 40 euros pela mesma viagem. Tudo depende se há muitas pessoas disponíveis para fazer a viagem àquela hora».

Sara Girão faz viagens bem mais curtas: em cada dia de semana, a estagiária de uma conhecida marca de automóveis viaja de Lisboa a Sintra para trabalhar. O que resulta num custo de seis euros diários para cada ida-e-volta. «Já dei boleia a vários turistas. Só por uma vez dei boleia a um português – e descobri depois que se tratava de um colega da minha empresa, que passou a fazer a viagem no meu carro durante cerca de um mês», explica a jovem engenheira mecânica.

Sara Girão inscreveu-se no BlaBlaCar para compensar os custos de deslocação, mas não se faz rogada em experimentar o site enquanto utilizadora: «Se houver alguém que faça esta viagem no mesmo horário, acho que deixo de participar como condutora e passo a pedir boleia. É que fica muito mais vantajoso», acrescenta.

E não haverá razão para recear as viagens com desconhecidos? Sara Girão considera que o site dá as garantias necessárias: «As pessoas recebem classificações e os e-mails e telefones são certificados».

Entre os utilizadores mais frequentes, há conhecimento de episódios passados com condutores que andam demasiado depressa ou demasiado devagar, e de atrasos de uma hora ou mais de uma das partes que estabeleceram o acordo.

Quanto a situações mais graves, André Rodrigues Pereira dá mais um atestado de segurança: «nunca aconteceu nada nestes anos todos que levamos de funcionamento».

Gonçalo Falcão, cavaleiro profissional e gestor de uma coudelaria em Castelo Branco, começou a recorrer ao BlaBlaCar depois de iniciar namoro com uma espanhola de Madrid. Ao todo já terá transportado «umas 12 pessoas, em 10 viagens». Mas a situação mais divertida terá ocorrido enquanto utilizador que para se juntar aos amigos que já se encontravam em Andorra: «Fui com um colombiano, que era o dono da carrinha; um Andorrano; uma espanhola; e três cães. No final, ainda conduzi um pouco para o condutor poder descansar».

Hoje, a versão portuguesa do BlaBlaCar é gratuita: Com a consolidação do conceito, prevê-se que o site comece a cobrar uma percentagem marginal ao valor angariado pelos automobilistas.

No que toca a finanças, André Rodrigues Pereira diz que a fuga de impostos que costuma caracterizar as economias informais não se aplica ao dinheiro que os condutores recebem: «Ninguém tem de pagar impostos porque ninguém consegue ter lucros com as viagens».

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