Qual é o preço da UGT para alinhar com Passos?

14-05-2014
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Qual é o preço da UGT para alinhar com Passos?

António Costa

antonio.costa@economico.pt

00:06

Pedro Mota Soares deixou cair os cortes salariais decorrentes da caducidade das convenções colectivas, um esforço de última hora para tentar salvar o que o Governo definiu como estratégico e que passa necessariamente por um acordo com a UGT.

Mas será que Carlos Silva, o novo secretário-geral da UGT, tem força para ser um novo João Proença? E quer?

O Governo reagiu tarde, e a más horas, a uma previsível reacção negativa dos parceiros sindicais a mais um pacote de alterações à lei laboral. O ministro da Solidariedade está entre a espada - a ‘troika' - e a parede - os parceiros, e sabe que o fim da 12ª avaliação depende, também, de medidas como o prolongamento dos cortes nas horas extraordinárias e a redução dos prazos de caducidade dos contratos. Mesmo assim, deveria ter avaliado, à priori, que não existiam efectivas vantagens económicas para as empresas na medida de novos cortes salariais e existiriam, sempre, enormes desvantagens sociais e sobretudo políticas. Como, de resto, não existiam na redução das indemnizações por despedimento ilícito, que acabou por cair. E, valha a verdade, Mota Soares ficou a falar sozinho, porque a CIP de António Saraiva não fez uma declaração pública de apoio à proposta do Governo sobre os cortes salariais e a caducidade dos contratos.

Cometido o erro, Mota Soares tentou controlar os danos como pôde, para salvar um acordo com a UGT. Porque um acordo com a CIP não é visto por ninguém como um acordo social, mas apenas como um pacto de interesses económicos. Só que, agora, no ambiente político em que o País vive, com eleições à porta, as europeias, e com eleições à vista, as legislativas, a margem de manobra da UGT é limitada, desde logo pela CGTP.

Ora, a questão que, agora, o Governo tem de avaliar é que preço estará disponível a pagar para ter Carlos Silva do seu lado. O secretário-geral da UGT foi, aliás, o primeiro a dar um sinal claro de que a factura é elevada, quando relacionou directamente um acordo de concertação às eleições. Carlos Silva não terá a força política do seu antecessor, e já deu os sinais de que o seu poder futuro será tanto maior quanto maior for a capacidade de oposição ao Governo. João Proença não tinha nada a provar, Carlos Silva tem ainda tudo a mostrar.

PS: Paulo Portas já tem um nova narrativa para a ausência de reformas estruturais do Estado nos primeiros três anos de governação. "Eu pergunto com toda a sinceridade aos cidadãos se acham que certas reformas essenciais para o nosso futuro colectivo deviam ter sido discutidas com a ‘troika' cá dentro?", questionava ontem o vice-primeiro-ministro. Eu respondo, com toda a sinceridade, que sim. Porque, como é fácil de perceber, se não foram feitas com a ‘troika', não serão feitas. Caro Paulo Portas, basta ler o guião da reforma do Estado.

Qual é o preço da UGT para alinhar com Passos?

António Costa

antonio.costa@economico.pt

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Pedro Mota Soares deixou cair os cortes salariais decorrentes da caducidade das convenções colectivas, um esforço de última hora para tentar salvar o que o Governo definiu como estratégico e que passa necessariamente por um acordo com a UGT.

Mas será que Carlos Silva, o novo secretário-geral da UGT, tem força para ser um novo João Proença? E quer?

O Governo reagiu tarde, e a más horas, a uma previsível reacção negativa dos parceiros sindicais a mais um pacote de alterações à lei laboral. O ministro da Solidariedade está entre a espada - a ‘troika' - e a parede - os parceiros, e sabe que o fim da 12ª avaliação depende, também, de medidas como o prolongamento dos cortes nas horas extraordinárias e a redução dos prazos de caducidade dos contratos. Mesmo assim, deveria ter avaliado, à priori, que não existiam efectivas vantagens económicas para as empresas na medida de novos cortes salariais e existiriam, sempre, enormes desvantagens sociais e sobretudo políticas. Como, de resto, não existiam na redução das indemnizações por despedimento ilícito, que acabou por cair. E, valha a verdade, Mota Soares ficou a falar sozinho, porque a CIP de António Saraiva não fez uma declaração pública de apoio à proposta do Governo sobre os cortes salariais e a caducidade dos contratos.

Cometido o erro, Mota Soares tentou controlar os danos como pôde, para salvar um acordo com a UGT. Porque um acordo com a CIP não é visto por ninguém como um acordo social, mas apenas como um pacto de interesses económicos. Só que, agora, no ambiente político em que o País vive, com eleições à porta, as europeias, e com eleições à vista, as legislativas, a margem de manobra da UGT é limitada, desde logo pela CGTP.

Ora, a questão que, agora, o Governo tem de avaliar é que preço estará disponível a pagar para ter Carlos Silva do seu lado. O secretário-geral da UGT foi, aliás, o primeiro a dar um sinal claro de que a factura é elevada, quando relacionou directamente um acordo de concertação às eleições. Carlos Silva não terá a força política do seu antecessor, e já deu os sinais de que o seu poder futuro será tanto maior quanto maior for a capacidade de oposição ao Governo. João Proença não tinha nada a provar, Carlos Silva tem ainda tudo a mostrar.

PS: Paulo Portas já tem um nova narrativa para a ausência de reformas estruturais do Estado nos primeiros três anos de governação. "Eu pergunto com toda a sinceridade aos cidadãos se acham que certas reformas essenciais para o nosso futuro colectivo deviam ter sido discutidas com a ‘troika' cá dentro?", questionava ontem o vice-primeiro-ministro. Eu respondo, com toda a sinceridade, que sim. Porque, como é fácil de perceber, se não foram feitas com a ‘troika', não serão feitas. Caro Paulo Portas, basta ler o guião da reforma do Estado.

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