A difícil arquitectura do poema, originally uploaded by my lazuli. Ouve, ainda há tempo, há sempre tempo para não desistir. Tens as palavras.E dito isto, o meu verso sentou-se, cansado. Era terça feira de um dia de Setembro do ano de 2005. Sentei-me a seu lado, fica comigo esta noite. O meu verso enrolou-se e suspirou. Que chatice de vida, disse ele. Se todas as mulheres se apaixonassem por mim, deixaria de haver complicações, angústias, amarguras, ciúmes ou remorsos, tudo estaria certo e a vida correria feliz. Mas não era nada disto que acontecia. E começou a desatinar. Só aqui em Portugal, pensei. Já não bastam as autárquicas, as presidenciais, o Saramago. As greves dos juízes, da polícia, dos enfermeiros. Os escalões dos professores. O Dias Ferreira. As reformas. A princesa Diana, o autocarro que não chega a horas. Havia de me calhar um verso destes. Preocupar-me, eu? Porquê?Explicar-te, dizendo baixinhoao teu ouvido, que é assim,que a vida há só uma e é preciso vivê-la bem,com os afectos, os sentimentos,com as pernas, com o sexo,com a boca com que te beijo,se tu deixas ou com os desejosquando tu não deixas?Sabes, ele há os outros que sãode outras galáxiasmais directas, menos sofisticadas,têm peles mais ásperasmas cheiram àquela mistura que dáa ansiedade e a amargura de ter que lutar.Preocupar-me então com quê?Com o tempo de não saber quando?Ou já, ou nunca mais?O meu verso olhou-me ..e disse suavemente Se um dia te oferecer coisas de futuro,é porque me vai faltando o encanto,a arte e o gosto de te amar.Mas se te oferecer um gesto,um sorriso que entendas,uma flor,é porque te pertenço,meu amor."Serralves", fotografia de Ana
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A difícil arquitectura do poema, originally uploaded by my lazuli. Ouve, ainda há tempo, há sempre tempo para não desistir. Tens as palavras.E dito isto, o meu verso sentou-se, cansado. Era terça feira de um dia de Setembro do ano de 2005. Sentei-me a seu lado, fica comigo esta noite. O meu verso enrolou-se e suspirou. Que chatice de vida, disse ele. Se todas as mulheres se apaixonassem por mim, deixaria de haver complicações, angústias, amarguras, ciúmes ou remorsos, tudo estaria certo e a vida correria feliz. Mas não era nada disto que acontecia. E começou a desatinar. Só aqui em Portugal, pensei. Já não bastam as autárquicas, as presidenciais, o Saramago. As greves dos juízes, da polícia, dos enfermeiros. Os escalões dos professores. O Dias Ferreira. As reformas. A princesa Diana, o autocarro que não chega a horas. Havia de me calhar um verso destes. Preocupar-me, eu? Porquê?Explicar-te, dizendo baixinhoao teu ouvido, que é assim,que a vida há só uma e é preciso vivê-la bem,com os afectos, os sentimentos,com as pernas, com o sexo,com a boca com que te beijo,se tu deixas ou com os desejosquando tu não deixas?Sabes, ele há os outros que sãode outras galáxiasmais directas, menos sofisticadas,têm peles mais ásperasmas cheiram àquela mistura que dáa ansiedade e a amargura de ter que lutar.Preocupar-me então com quê?Com o tempo de não saber quando?Ou já, ou nunca mais?O meu verso olhou-me ..e disse suavemente Se um dia te oferecer coisas de futuro,é porque me vai faltando o encanto,a arte e o gosto de te amar.Mas se te oferecer um gesto,um sorriso que entendas,uma flor,é porque te pertenço,meu amor."Serralves", fotografia de Ana