Atestado médico

15-08-2015
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Cursei medicina, aprofundei a anatomia,

Especializei-me em fisiologia.

Depois, meu adorado organismo

Composto de devaneios de primavera, conheci-te.

Deslumbrou-se o meu encéfalo,

O meu sistema endócrino desregulou-se de todo.

Resultado: tu bem sabes:

apaixonei-me por ti, desmedidamente,

O que mostra perfeitamente a medida

Daquilo que me é impossível medir.

Só para teres uma ideia, a admirável pigmentação

Das tuas íris de tal modo contaminou as minhas,

Que durante cinco dias tudo, tudo em meu redor

Ganhou tons de pôr de sol outonal.

Um daltonismo esplêndido.

Entretanto o meu coração, órgão vital

Com as suas duas válvulas, os seus dois ventrículos

E as suas duas aurículas,

Passou a contrair e a distender os seus compartimentos

De maneira mirífica, mais intensa, mais exaltada.

Nunca este músculo me tangeu assim tão irrequieto.

Perplexo, decidi analisar o inesperado fenómeno.

Não muito tempo depois, esbarrei,

Espanto de fogueira, com uma estranheza anatómica:

Ao contrário do que a medicina me ensinou,

Revelaram-me as minhas examinações, pasmei,

Que um órgão vital possuo a mais. Não quis crer.

Decidi reexaminar. Tal-qualmente o mesmo resultado:

No interior da minha cavidade torácica,

Os meus mestres não iriam acreditar,

Com um outro coração me deparei : o teu.

O teu, o teu colorido coração, meu adorado

organismo composto de devaneios de primavera.

Nas minhas artérias e nas minhas veias,

Circula também o teu sangue,

Líquido vermelho e viscoso que nutre

Esse extraordinário órgão

Segregante de espantosas e eufóricas auroras,

Tão vital para mim quanto

Os demais órgãos do corpo humano.

Falo obviamente do amor,

Um órgão totalmente alheio à medicina.

De acordo com o mencionado,

Mais o quadro clínico apresentado,

Atesto que sou portador

De uma prodigiosa síndrome,

Vendaval vivificante, confluência de encantamentos,

O que me confere uma capacidade permanecente

De manobrar o leme da burocracia das estrelas,

As rédeas do canto das aves, a alavanca das ambições das flores.

____ dinismoura

Cursei medicina, aprofundei a anatomia,

Especializei-me em fisiologia.

Depois, meu adorado organismo

Composto de devaneios de primavera, conheci-te.

Deslumbrou-se o meu encéfalo,

O meu sistema endócrino desregulou-se de todo.

Resultado: tu bem sabes:

apaixonei-me por ti, desmedidamente,

O que mostra perfeitamente a medida

Daquilo que me é impossível medir.

Só para teres uma ideia, a admirável pigmentação

Das tuas íris de tal modo contaminou as minhas,

Que durante cinco dias tudo, tudo em meu redor

Ganhou tons de pôr de sol outonal.

Um daltonismo esplêndido.

Entretanto o meu coração, órgão vital

Com as suas duas válvulas, os seus dois ventrículos

E as suas duas aurículas,

Passou a contrair e a distender os seus compartimentos

De maneira mirífica, mais intensa, mais exaltada.

Nunca este músculo me tangeu assim tão irrequieto.

Perplexo, decidi analisar o inesperado fenómeno.

Não muito tempo depois, esbarrei,

Espanto de fogueira, com uma estranheza anatómica:

Ao contrário do que a medicina me ensinou,

Revelaram-me as minhas examinações, pasmei,

Que um órgão vital possuo a mais. Não quis crer.

Decidi reexaminar. Tal-qualmente o mesmo resultado:

No interior da minha cavidade torácica,

Os meus mestres não iriam acreditar,

Com um outro coração me deparei : o teu.

O teu, o teu colorido coração, meu adorado

organismo composto de devaneios de primavera.

Nas minhas artérias e nas minhas veias,

Circula também o teu sangue,

Líquido vermelho e viscoso que nutre

Esse extraordinário órgão

Segregante de espantosas e eufóricas auroras,

Tão vital para mim quanto

Os demais órgãos do corpo humano.

Falo obviamente do amor,

Um órgão totalmente alheio à medicina.

De acordo com o mencionado,

Mais o quadro clínico apresentado,

Atesto que sou portador

De uma prodigiosa síndrome,

Vendaval vivificante, confluência de encantamentos,

O que me confere uma capacidade permanecente

De manobrar o leme da burocracia das estrelas,

As rédeas do canto das aves, a alavanca das ambições das flores.

____ dinismoura

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