O talho

09-04-2015
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o carniceiro lírico

como lhe chamavam na cidade

abatia desgostos amorosos

nas traseiras do seu talho

estabelecimento sito numa soalheira esquina do firmamento

esquartejava tristezas de amores não correspondidos, falidos

esfolhava aves, luares, corações, saudades

tinha sempre em promoção éclogas, bucólicas, guitarradas

aos mais necessitados

ajudava-os na redacção de cartas amorosas, infalíveis

na montra, mirabolante, colocava

flores campestres, acólitas, aconselhantes

vendia a retalho lembranças de beijos antigos

horóscopos propícios e vários tipos de carne

estava aberto sete dias

a clientela afluía em grande número

um dia veio uma bela rapariga

uns olhos de um castanho aceso de canela

pediu cinco tiras de entremeada e meio frango

o carniceiro colocou-lhe tudo num saquinho

juntamente com o seu próprio coração

esmiuçado de encantamento

um mês depois e alguns passeios juntos

o talho passou a fechar ao fim-de-semana

(para o Ricardo Espírito Santo)

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o carniceiro lírico

como lhe chamavam na cidade

abatia desgostos amorosos

nas traseiras do seu talho

estabelecimento sito numa soalheira esquina do firmamento

esquartejava tristezas de amores não correspondidos, falidos

esfolhava aves, luares, corações, saudades

tinha sempre em promoção éclogas, bucólicas, guitarradas

aos mais necessitados

ajudava-os na redacção de cartas amorosas, infalíveis

na montra, mirabolante, colocava

flores campestres, acólitas, aconselhantes

vendia a retalho lembranças de beijos antigos

horóscopos propícios e vários tipos de carne

estava aberto sete dias

a clientela afluía em grande número

um dia veio uma bela rapariga

uns olhos de um castanho aceso de canela

pediu cinco tiras de entremeada e meio frango

o carniceiro colocou-lhe tudo num saquinho

juntamente com o seu próprio coração

esmiuçado de encantamento

um mês depois e alguns passeios juntos

o talho passou a fechar ao fim-de-semana

(para o Ricardo Espírito Santo)

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