“Se tu estás gorda, então eu estou enorme!”

06-11-2013
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Amiga 1: “Ugh, sinto-me tão gorda.”

Amiga 2: “Oh my God. Estás a falar a sério? Tu NÃO estás nada gorda.”

Amiga 1: “Estou sim. Olha para as minhas coxas.”

Amiga 2: “Estás a brincar, não?! Olha para as MINHAS coxas.”

Amiga 1: “Oh, cala-te. Tu és um alfinete.”

Amiga 2: “Oh, tu também.”

Esta conversa soa-lhe familiar? Quantas vezes já se cruzou com um grupo de amigas que tecem este tipo de comentários enquanto experimentam uma roupa gira no vestiário de uma loja da moda? Curiosamente, a literatura parece sugerir que as mulheres não apreciam este tipo de diálogos. Porém, não conseguem evitá-lo, é mais forte do que elas. Porque será?

O termo “fat talk” foi introduzido na década de 1990 para descrever um tipo de diálogo que envolve a troca de comentários depreciativos relacionados com a aparência física, tamanho e formas corporais. É especialmente comum entre as mulheres, sobretudo nas mais jovens. No entanto, este fenómeno parece estar a tornar-se mais prevalente entre os homens, apesar de se centrar em conteúdos distintos, como a muscularidade.

Porque é este fenómeno tão comum? Surpreendentemente, as mulheres parecem acreditar que estes diálogos as ajudam a sentir-se melhor com elas próprias. Em primeiro lugar, porque as ajudam a perceber que não são as únicas a sentir-se mal com a sua aparência. E em segundo lugar, porque estes diálogos servem o propósito de rebater as suas crenças e percepções pessoais acerca da sua imagem corporal e peso. Quantas vezes não afirmamos algo acerca de nós próprios, esperando que os nossos amigos o contradigam? De facto, num estudo recente, cerca de metade da amostra de jovens mulheres, quando interrogadas sobre a sua reacção habitual a estes diálogos, indicaram que ao verem as suas afirmações desmentidas pelos seus pares/amigos, se sentiram menos “volumosas” e, consequentemente, melhor com elas próprias.

Estes diálogos parecem também constituir um ritual de integração social, uma procura de aceitação e de acolhimento por parte dos elementos do grupo a que se pertence. Com efeito, a insatisfação que manifestam parece reflectir mais do que uma atitude ou comportamento típico, verificando-se que muitas mulheres a expressam, primordialmente, porque acreditam que os outros membros do seu grupo social aprovam esse tipo de comentários depreciativos. Mais, alguns investigadores descobriram que este tipo de diálogo está de tal forma enraizado nas mulheres ocidentais que, ao invés de reflectir o que estas realmente sentem em relação ao seu corpo, frequentemente reflecte o que se espera que elas sintam.

Mas serão estes diálogos inócuos? Infelizmente, não o parecem ser. Pelo contrário, a par das suas aparentes mais-valias, parecem contribuir para o empobrecimento da imagem corporal, podendo inclusivamente servir de palco para o desenvolvimento de desordens alimentares. Alguns estudos que procuraram perceber estes efeitos negativos revelaram que a frequência destas interações está relacionada com a interiorização dos ideais de magreza vigentes na sociedade, com a pressão sentida para os alcançar e com os sentimentos de culpa que resultam de não o conseguir fazer. Curiosamente, não parecem estar relacionados com o peso actual da pessoa, sendo inclusivamente mais comuns entre as mulheres com peso normal ou baixo.

O que podemos então fazer para escapar a este tipo de diálogos? Recorrendo a uma famosa canção de Sérgio Godinho, uma boa sugestão é que “façamos um ponto e mudemos de assunto”.

Fisiologista do exercício e investigadora,

Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa

ecarraca@fmh.utl.pt

Amiga 1: “Ugh, sinto-me tão gorda.”

Amiga 2: “Oh my God. Estás a falar a sério? Tu NÃO estás nada gorda.”

Amiga 1: “Estou sim. Olha para as minhas coxas.”

Amiga 2: “Estás a brincar, não?! Olha para as MINHAS coxas.”

Amiga 1: “Oh, cala-te. Tu és um alfinete.”

Amiga 2: “Oh, tu também.”

Esta conversa soa-lhe familiar? Quantas vezes já se cruzou com um grupo de amigas que tecem este tipo de comentários enquanto experimentam uma roupa gira no vestiário de uma loja da moda? Curiosamente, a literatura parece sugerir que as mulheres não apreciam este tipo de diálogos. Porém, não conseguem evitá-lo, é mais forte do que elas. Porque será?

O termo “fat talk” foi introduzido na década de 1990 para descrever um tipo de diálogo que envolve a troca de comentários depreciativos relacionados com a aparência física, tamanho e formas corporais. É especialmente comum entre as mulheres, sobretudo nas mais jovens. No entanto, este fenómeno parece estar a tornar-se mais prevalente entre os homens, apesar de se centrar em conteúdos distintos, como a muscularidade.

Porque é este fenómeno tão comum? Surpreendentemente, as mulheres parecem acreditar que estes diálogos as ajudam a sentir-se melhor com elas próprias. Em primeiro lugar, porque as ajudam a perceber que não são as únicas a sentir-se mal com a sua aparência. E em segundo lugar, porque estes diálogos servem o propósito de rebater as suas crenças e percepções pessoais acerca da sua imagem corporal e peso. Quantas vezes não afirmamos algo acerca de nós próprios, esperando que os nossos amigos o contradigam? De facto, num estudo recente, cerca de metade da amostra de jovens mulheres, quando interrogadas sobre a sua reacção habitual a estes diálogos, indicaram que ao verem as suas afirmações desmentidas pelos seus pares/amigos, se sentiram menos “volumosas” e, consequentemente, melhor com elas próprias.

Estes diálogos parecem também constituir um ritual de integração social, uma procura de aceitação e de acolhimento por parte dos elementos do grupo a que se pertence. Com efeito, a insatisfação que manifestam parece reflectir mais do que uma atitude ou comportamento típico, verificando-se que muitas mulheres a expressam, primordialmente, porque acreditam que os outros membros do seu grupo social aprovam esse tipo de comentários depreciativos. Mais, alguns investigadores descobriram que este tipo de diálogo está de tal forma enraizado nas mulheres ocidentais que, ao invés de reflectir o que estas realmente sentem em relação ao seu corpo, frequentemente reflecte o que se espera que elas sintam.

Mas serão estes diálogos inócuos? Infelizmente, não o parecem ser. Pelo contrário, a par das suas aparentes mais-valias, parecem contribuir para o empobrecimento da imagem corporal, podendo inclusivamente servir de palco para o desenvolvimento de desordens alimentares. Alguns estudos que procuraram perceber estes efeitos negativos revelaram que a frequência destas interações está relacionada com a interiorização dos ideais de magreza vigentes na sociedade, com a pressão sentida para os alcançar e com os sentimentos de culpa que resultam de não o conseguir fazer. Curiosamente, não parecem estar relacionados com o peso actual da pessoa, sendo inclusivamente mais comuns entre as mulheres com peso normal ou baixo.

O que podemos então fazer para escapar a este tipo de diálogos? Recorrendo a uma famosa canção de Sérgio Godinho, uma boa sugestão é que “façamos um ponto e mudemos de assunto”.

Fisiologista do exercício e investigadora,

Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa

ecarraca@fmh.utl.pt

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