Flores que satisfazem três vezes

15-11-2013
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Do jardim de Fernanda Botelho sairam as flores dispostas sobre a mesa numa das salas do Museu do Oriente. Colheu-as de manhã cedo para que chegassem frescas, com o aroma que as caracteriza e o vigor que as estrutura. Vai começar o workshop de Flores Comestíveis que esta especialista em plantas aromáticas e medicinais vai dando com cada vez maior frequência. “É uma coisa nova, moderna, chique, gourmet”, explica. E se chega a afirmar que as flores são para as abelhas para explicar que não se comem todos os dias, daqui ninguém sairá a saber arranjar bouquets. Aqui projectam-se saladas coloridas e deliciosos bolos de chocolate com pétalas de rosa e violetas.

Podemos comer flores todos os dias? Durante o workshop disse que as flores são para as abelhas…

A função das flores é virem a dar fruto com a ajuda da polinização das abelhas, ora se nós começássemos a comer flores como comemos frutos e folhas, não teríamos frutos. Podemos comer flores numa ocasião especial como uma festa de anos ou um jantar de amigos, mas não devemos ir ao jardim apanhar tudo o que é flor para usarmos a alimentação. Não sou defensora de que isso seja feito.

Até porque nem todas as flores são comestíveis.

Exactamente e há muitas que são muito venenosas. Por isso é que durante o workshop mostrei umas flores da família das Solanaceae que são os tomateiros, as batateiras ou o pepino, por exemplo. Dentro das Solanaceae, regra geral, o fruto é comestível, mas a flor é bastante tóxica. Portanto, há que conhecer. Existe um número maior de flores comestíveis do que de venenosas, mas há que saber a diferença entre cada uma delas.

Em Portugal existe alguma tradição gastronómica que contemple o consumo de flores?

[O consumo de flores] É uma coisa nova, moderna, chique, gourmet que não faz parte da nossa tradição. A região de Trás-os-Montes e a do Alentejo usam muito as ervas aromáticas na cozinha: os poejos, o alecrim, as várias mentas e hortelãs (o poejo, aliás, é uma menta, a mentha pulegium). Lá existe a tradição de usar tanto as ervas aromáticas como algumas plantas espontâneas (estou-me a lembrar das labaças e do cardo), mas usam somente as folhas. Não têm o hábito de utilizar as flores. Usam a flor do cardo, por acaso, para coalhar o queijo, mas não as incorporam na alimentação. No outro dia, estive a ajudar uma senhora a tirar os talos aos agriões e espantei-me por ela não utilizar as flores. Expliquei-lhe que podia comer as flores, disse-lhe que eu as comia, mas ela, uma senhora do campo, dizia que não.

As flores têm propriedades que podem ser importantes para a saúde ou é uma questão de embelezamento do prato?

Eu diria que é mais uma questão de decoração, apesar de algumas flores terem propriedades medicinais interessantes como é o caso da borragem ou da flor do sabugueiro, mas aí temos de as consumir em maior quantidade e em forma de chá. Se as consumirmos directamente comendo as flores estamos já a absorver algumas dessas propriedades, mas a forma correcta de tratar um problema específico com a flor é usando-a num chá ou numa tisana. Verte-se água em cima das flores, tapa-se e depois vai-se bebendo ao longo do dia essa infusão ou tisana.

É frequente haver reacções de estranheza à ideia de comer flores?

Sim, a primeira reacção normalmente é de estranheza. As pessoas que vêm a este tipo de workshops obviamente não estranham - estão aqui porque têm curiosidade e querem saber mais sobre o tema-, mas as pessoas que frequentam os ateliers que faço sobre plantas aromáticas e medicinais, onde às vezes incorporo alguma informação sobre flores comestíveis, acham estranho. Sobretudo as pessoas mais ligadas à agricultura dizem “Flores comestíveis, o que é isto? Não, não”. Depende das pessoas, mas, regra geral, os portugueses são muito tradicionalistas e tudo o que cheire a diferente é estranho.

Quais são as flores comestíveis mais populares?

As capuchinhas ou chagas: as flores são muito vistosas por causa da cor laranja forte que fica sempre bonita quer numa travessa de arroz quer numa salada com flores ou até a decorar bolos com chocolate. As calêndulas, ou maravilhas, que são uma espécie de malmequer que podemos usar a flor inteira ou desfolhá-la num prato. Finalmente, as rosas que são muito versáteis. Podemos usar qualquer rosa tanto na doçaria como em pratos salgados. As brancas, as vermelhas, as cor-de-rosa, mas sempre biológicas! As flores, mais do que as folhas, levam muitos adubos e por isso há que comprá-las de produção biológica ou cultivá-las nós mesmos. Portanto, escolheria as capuchinhas, as maravilhas, as rosas e as violetas. Estas últimas são muito procuradas apesar de não serem tão versáteis. As pessoas conhecem melhor as violetas cristalizadas para decorar de pratos, mas também é possível usá-las em pratos doces e salgados.

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Do jardim de Fernanda Botelho sairam as flores dispostas sobre a mesa numa das salas do Museu do Oriente. Colheu-as de manhã cedo para que chegassem frescas, com o aroma que as caracteriza e o vigor que as estrutura. Vai começar o workshop de Flores Comestíveis que esta especialista em plantas aromáticas e medicinais vai dando com cada vez maior frequência. “É uma coisa nova, moderna, chique, gourmet”, explica. E se chega a afirmar que as flores são para as abelhas para explicar que não se comem todos os dias, daqui ninguém sairá a saber arranjar bouquets. Aqui projectam-se saladas coloridas e deliciosos bolos de chocolate com pétalas de rosa e violetas.

Podemos comer flores todos os dias? Durante o workshop disse que as flores são para as abelhas…

A função das flores é virem a dar fruto com a ajuda da polinização das abelhas, ora se nós começássemos a comer flores como comemos frutos e folhas, não teríamos frutos. Podemos comer flores numa ocasião especial como uma festa de anos ou um jantar de amigos, mas não devemos ir ao jardim apanhar tudo o que é flor para usarmos a alimentação. Não sou defensora de que isso seja feito.

Até porque nem todas as flores são comestíveis.

Exactamente e há muitas que são muito venenosas. Por isso é que durante o workshop mostrei umas flores da família das Solanaceae que são os tomateiros, as batateiras ou o pepino, por exemplo. Dentro das Solanaceae, regra geral, o fruto é comestível, mas a flor é bastante tóxica. Portanto, há que conhecer. Existe um número maior de flores comestíveis do que de venenosas, mas há que saber a diferença entre cada uma delas.

Em Portugal existe alguma tradição gastronómica que contemple o consumo de flores?

[O consumo de flores] É uma coisa nova, moderna, chique, gourmet que não faz parte da nossa tradição. A região de Trás-os-Montes e a do Alentejo usam muito as ervas aromáticas na cozinha: os poejos, o alecrim, as várias mentas e hortelãs (o poejo, aliás, é uma menta, a mentha pulegium). Lá existe a tradição de usar tanto as ervas aromáticas como algumas plantas espontâneas (estou-me a lembrar das labaças e do cardo), mas usam somente as folhas. Não têm o hábito de utilizar as flores. Usam a flor do cardo, por acaso, para coalhar o queijo, mas não as incorporam na alimentação. No outro dia, estive a ajudar uma senhora a tirar os talos aos agriões e espantei-me por ela não utilizar as flores. Expliquei-lhe que podia comer as flores, disse-lhe que eu as comia, mas ela, uma senhora do campo, dizia que não.

As flores têm propriedades que podem ser importantes para a saúde ou é uma questão de embelezamento do prato?

Eu diria que é mais uma questão de decoração, apesar de algumas flores terem propriedades medicinais interessantes como é o caso da borragem ou da flor do sabugueiro, mas aí temos de as consumir em maior quantidade e em forma de chá. Se as consumirmos directamente comendo as flores estamos já a absorver algumas dessas propriedades, mas a forma correcta de tratar um problema específico com a flor é usando-a num chá ou numa tisana. Verte-se água em cima das flores, tapa-se e depois vai-se bebendo ao longo do dia essa infusão ou tisana.

É frequente haver reacções de estranheza à ideia de comer flores?

Sim, a primeira reacção normalmente é de estranheza. As pessoas que vêm a este tipo de workshops obviamente não estranham - estão aqui porque têm curiosidade e querem saber mais sobre o tema-, mas as pessoas que frequentam os ateliers que faço sobre plantas aromáticas e medicinais, onde às vezes incorporo alguma informação sobre flores comestíveis, acham estranho. Sobretudo as pessoas mais ligadas à agricultura dizem “Flores comestíveis, o que é isto? Não, não”. Depende das pessoas, mas, regra geral, os portugueses são muito tradicionalistas e tudo o que cheire a diferente é estranho.

Quais são as flores comestíveis mais populares?

As capuchinhas ou chagas: as flores são muito vistosas por causa da cor laranja forte que fica sempre bonita quer numa travessa de arroz quer numa salada com flores ou até a decorar bolos com chocolate. As calêndulas, ou maravilhas, que são uma espécie de malmequer que podemos usar a flor inteira ou desfolhá-la num prato. Finalmente, as rosas que são muito versáteis. Podemos usar qualquer rosa tanto na doçaria como em pratos salgados. As brancas, as vermelhas, as cor-de-rosa, mas sempre biológicas! As flores, mais do que as folhas, levam muitos adubos e por isso há que comprá-las de produção biológica ou cultivá-las nós mesmos. Portanto, escolheria as capuchinhas, as maravilhas, as rosas e as violetas. Estas últimas são muito procuradas apesar de não serem tão versáteis. As pessoas conhecem melhor as violetas cristalizadas para decorar de pratos, mas também é possível usá-las em pratos doces e salgados.

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