no gabinete: reencontrão

03-07-2011
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Após uma noite inquietada pela ansiedade do que me esperava, calo o despertador e salto da cama para um revigorante duche e preparação de um esperado reencontro. No ar sentia uma temperatura amena e o Sábado, mesmo que nublado, parecia prometedor. Com os bilhetes já comprados, tomo um cafezinho apressado no bar da estação e embarco no comboio regional com destino a Mós do Douro, levando o meu filho numa viagem tão tranquila quanto aquele amanhecer.Os baloiços da carruagem queriam me embalar no sono nos primeiros quilómetros da linha do Douro, calcorreados ferozmente pelo cavalo metálico, mas eu não deixei. A cada paragem os passageiros iam entrando e acotovelando-se na ânsia de encontrar um assento livre. Já na descida para a Pala sou retirado dos meus pensamentos com os “uaaaaauuuus” boquiabertos dos turistas, deslumbrados com as primeiras imagens que viam do rio. A manhã iluminava-se devagarinho de um azul quente que enfeitava o céu e o Vale do Douro. A linha ferroviária alinhada entre o rio e as montanhas, as vinhas a perder de vista e o sol nascente, causavam imensos reflexos em suaves gradações cromáticas, e em mim uma emoção tão forte como se fosse aquela a minha primeira viagem.Cinquenta minutos depois estava parado na estação da Régua, numa carruagem já quase esvaziada de gente e toda por minha conta. De máquina fotográfica em riste esperei pelo recomeço da marcha e deixar-me encantar com a mágica beleza da segunda etapa da viagem.Mas o melhor de tudo aconteceria na minha chegada à terrinha. A expectativa, a inspiração, a vontade enorme de conhecer o Doutor Quadrado de quem já gostava muito através dos seus escritos, o Carlos Pedro cantor e artista dos seus blogues, o "dasMós" e o intenso Varanda do Tempo, que recomendo vivamente uma visita, o Luís "Corticeiro" e a jovem e bonita vereadora camarária Andreia Almeida. Saber que iria reencontrar quem já não via há quase trinta anos e que até então, depois de eu ser redescoberto pela Cristina, só havíamos trocado e-mails e comentários. Seria o primeiro olhar desde a nossa adolescência, e aconteceu, e superou a expectativa. Quando imediatamente nos reconhecemos e fortemente nos abraçamos sentimos que a admiração era grande e que a saudade era mútua. Depois de uma tertúlia duradoura, ouvindo histórias e sábias anedotas, saímos à noite por algumas horas e calcorreamos as ruas tortuosas e desertas da bela terra dos nossos pais, tirando fotografias e recordando momentos passados em conjunto. Foi pena ter durado tão pouco, mas tenho certeza de que nos encontraremos lá novamente. É de facto uma emoção redobrada e sentida sempre que percorremos caminhos e lugares que noutros tempos foram palcos das nossas aventuras e brincadeiras de criança. Há por ali um sentimento puro de nostalgia e ao mesmo tempo “um enchente” de calor humano ao revermos os mesmos rostos e sorrisos que o tempo ajudou a envelhecer. Ao fim de tantos anos voltei a sedimentar essa emoção e nostalgia, voltei a um dos meus paraísos e deixei-me levar pelas mais puras recordações.O comboio, o rio, as paisagens, os campos floridos, os caminhos, a ribeira, o pão, os aromas, as hortas, as velhas casas de xisto, as andorinhas, os seus ninhos e os seus chilreios são elementos inesquecíveis, que apesar dos anos permanecem ali, como que a convidar ao meu regresso.A aldeia das Mós, toda ela, emana memórias e recordações, do trabalho duro do campo, das folias da festa, dos jogos tradicionais, dos serões em família, do baloiçar no lombo dos animais, da lágrima que sempre escapava no adeus, de algo que se perdeu no tempo.Mas a memória tem o dom e o condão de ressuscitar esses momentos, de condensar esses instantes, esses lugares que como tal viverão dentro de nós para sempre. E as fotografias que fui colhendo vão dar uma ajuda.Nota de adenda: O sono e a falta de cuidado levaram-me a esquecer algumas referências que entretanto inclui e alterei parte do texto alusivo à publicação.Grato pela visita.


Após uma noite inquietada pela ansiedade do que me esperava, calo o despertador e salto da cama para um revigorante duche e preparação de um esperado reencontro. No ar sentia uma temperatura amena e o Sábado, mesmo que nublado, parecia prometedor. Com os bilhetes já comprados, tomo um cafezinho apressado no bar da estação e embarco no comboio regional com destino a Mós do Douro, levando o meu filho numa viagem tão tranquila quanto aquele amanhecer.Os baloiços da carruagem queriam me embalar no sono nos primeiros quilómetros da linha do Douro, calcorreados ferozmente pelo cavalo metálico, mas eu não deixei. A cada paragem os passageiros iam entrando e acotovelando-se na ânsia de encontrar um assento livre. Já na descida para a Pala sou retirado dos meus pensamentos com os “uaaaaauuuus” boquiabertos dos turistas, deslumbrados com as primeiras imagens que viam do rio. A manhã iluminava-se devagarinho de um azul quente que enfeitava o céu e o Vale do Douro. A linha ferroviária alinhada entre o rio e as montanhas, as vinhas a perder de vista e o sol nascente, causavam imensos reflexos em suaves gradações cromáticas, e em mim uma emoção tão forte como se fosse aquela a minha primeira viagem.Cinquenta minutos depois estava parado na estação da Régua, numa carruagem já quase esvaziada de gente e toda por minha conta. De máquina fotográfica em riste esperei pelo recomeço da marcha e deixar-me encantar com a mágica beleza da segunda etapa da viagem.Mas o melhor de tudo aconteceria na minha chegada à terrinha. A expectativa, a inspiração, a vontade enorme de conhecer o Doutor Quadrado de quem já gostava muito através dos seus escritos, o Carlos Pedro cantor e artista dos seus blogues, o "dasMós" e o intenso Varanda do Tempo, que recomendo vivamente uma visita, o Luís "Corticeiro" e a jovem e bonita vereadora camarária Andreia Almeida. Saber que iria reencontrar quem já não via há quase trinta anos e que até então, depois de eu ser redescoberto pela Cristina, só havíamos trocado e-mails e comentários. Seria o primeiro olhar desde a nossa adolescência, e aconteceu, e superou a expectativa. Quando imediatamente nos reconhecemos e fortemente nos abraçamos sentimos que a admiração era grande e que a saudade era mútua. Depois de uma tertúlia duradoura, ouvindo histórias e sábias anedotas, saímos à noite por algumas horas e calcorreamos as ruas tortuosas e desertas da bela terra dos nossos pais, tirando fotografias e recordando momentos passados em conjunto. Foi pena ter durado tão pouco, mas tenho certeza de que nos encontraremos lá novamente. É de facto uma emoção redobrada e sentida sempre que percorremos caminhos e lugares que noutros tempos foram palcos das nossas aventuras e brincadeiras de criança. Há por ali um sentimento puro de nostalgia e ao mesmo tempo “um enchente” de calor humano ao revermos os mesmos rostos e sorrisos que o tempo ajudou a envelhecer. Ao fim de tantos anos voltei a sedimentar essa emoção e nostalgia, voltei a um dos meus paraísos e deixei-me levar pelas mais puras recordações.O comboio, o rio, as paisagens, os campos floridos, os caminhos, a ribeira, o pão, os aromas, as hortas, as velhas casas de xisto, as andorinhas, os seus ninhos e os seus chilreios são elementos inesquecíveis, que apesar dos anos permanecem ali, como que a convidar ao meu regresso.A aldeia das Mós, toda ela, emana memórias e recordações, do trabalho duro do campo, das folias da festa, dos jogos tradicionais, dos serões em família, do baloiçar no lombo dos animais, da lágrima que sempre escapava no adeus, de algo que se perdeu no tempo.Mas a memória tem o dom e o condão de ressuscitar esses momentos, de condensar esses instantes, esses lugares que como tal viverão dentro de nós para sempre. E as fotografias que fui colhendo vão dar uma ajuda.Nota de adenda: O sono e a falta de cuidado levaram-me a esquecer algumas referências que entretanto inclui e alterei parte do texto alusivo à publicação.Grato pela visita.

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