Que país traz consigo? Olhe para a etiqueta da camisola

29-09-2015
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Constança Saraiva, artista plástica, desenvolveu o projecto Do avesso ou os países que trazemos connosco, em parceria com o Edge Arts e a Roulote - Projectos Artísticos, sobre a origem das peças de vestuário e o estado da indústria têxtil.

Numa ida às compras, a primeira preocupação é encontrar a peça de roupa desejada, que assente bem, que seja económica. Mas as etiquetas presas a essas peças fazem com que o nosso armário seja multicultural – os nossos casacos, calças e camisas vêm, na sua maioria, de muito longe. “Quais são os mapas do nosso armário e das nossas gavetas? Qual é o mapa desenhado pela indústria têxtil, pela globalização, capitalismo ou precariedade laboral? Qual é o mapa do nosso dia de hoje?”. As perguntas são da artista plástica Constança Saraiva que se propõe a cartografar o nosso armário, através de um atelier aberto de recolha de etiquetas de peças de roupa e de projectos alternativos.

A iniciativa, com várias fases, “convida os curiosos a explorar a paisagem imaginária criada pelo vestuário do nosso dia-a-dia” e, ao mesmo tempo alerta para o estado da indústria têxtil mundial. “Este projecto estava guardado na gaveta há alguns anos. Eu própria comecei a coleccionar as minhas etiquetas e foi uma vergonha. Tinha muitas da Polónia, Marrocos, Turquia, Índia, Bangladesh, China”, conta a artista plástica ao Life&Style, no primeiro dia de residência artística no Espaço Amoreiras, em Lisboa.

Ao nosso lado temos um mapa-mundo e já alguns pregos a ligar Portugal à China, fruto das primeiras etiquetas angariadas, e olhares curiosos. "A recolha de etiquetas é uma desculpa para falar com as pessoas, pô-las a pensar”, explica Constança Saraiva, actualmente a viver em Roterdão, Holanda, que encontra nos mapas não tradicionais “um veículo de informação interessante”. Uma outra parte do projecto é o arquivo das alternativas – uma recolha de projectos nacionais e sugestões para acabar com situações de precariedade e desperdício têxtil.

Sensibilizar miúdos e graúdos

Considerando-se “uma das maiores culpadas desta situação” por ir, como tantos outros portugueses, a lojas de moda rápida por não conseguir pagar uma t-shirt com mais um ou dois zeros, Constança Saraiva quer que nos tornemos “conscientes em relação àquilo que consumimos”. E o primeiro “alerta” pode vir com um olhar mais atento para o “made in” inscrito na etiqueta de uma peça de roupa mas depois “há uma parte horrível e complicada que tem a ver com a precariedade laboral e com a poluição”. “Se bem que estas indústrias têxteis dão trabalho a muita gente. É um trabalho precário mas quantas famílias levam pão para casa? É um pau de dois bicos mas é o início de um trabalho de investigação e artístico que tem pano para mangas”, frisa Constança Saraiva.

Para promover a consciência e sensibilizar um público alargado, este projecto tem uma vertente itinerante: desde 24 de Setembro e até dia 1 de Outubro (dia da exposição final do projecto e de um debate com a professor de design de moda Ana Couto, a designer Ana Teresa Neves e os projectos Torcer Ideias e Fablab Lisboa), a artista irá percorrer vários espaços (escolas, jardins, associações) do bairro de Campo de Ourique, em Lisboa, numa rulote. É nesta carrinha – um projecto de Pedro e Teresa Pires, que desde 2013 tem como objectivo utilizar o interior de uma rulote como galeria de arte – que estão as várias caixinhas com etiquetas de roupa já recolhidas e se pretende que miúdos e graúdos dêem as suas opiniões. A rulote também vai estacionar em escolas, onde Constança Saraiva vai mostrar pequenos excertos de documentários sobre as fábricas de produção têxtil, “alguns um bocadinho fortes” – também o jornal norueguês Aftenposten fez um destes documentários de sensibilização (Fábricas de Roupa: Moda que mata), e levou três bloggers de moda a uma fábrica têxtil em Phnom Penh, no Camboja.

“A recolha de etiquetas é a parte divertida mas é agridoce. Vamos tirar a etiqueta e depois é made in China. Gostava que as crianças calculassem a quantos quilómetros está Lisboa da China, por exemplo. São distâncias inacreditáveis que os vão fazer pensar”, diz a artista, que acredita que no final do dia, os mais novos levam o debate para a mesa de jantar, com os pais, avós e tios e também os põem a pensar.

Será ainda promovido um workshop intergeracional. “Vamos ter jovens e idosos a discutir este assunto e penso que será interessante porque os idosos têm uma ligação diferente com a roupa. São pessoas de uma geração onde um par de calças ou um pullover duravam mais de 20 anos”, exemplifica. “Não sei se vamos ter respostas, mas pelo menos espero ter ideias”, diz.

No dia 1 de Outubro, dia final da residência artística, haverá um brainstorm colectivo em forma de debate, com entrada e participação livres. A ideia é ser uma conversa e “nada demasiado teórico”. Depois, no início de 2016 e com uma investigação aprofundada, o objectivo é publicar em livro “a parte editada e fundamental do projecto”, com ensaios de investigadores e designers, mapas e cartografias.

“O ideal era fazer uma tour nacional com a rulote e perceber as realidades pelo país todo mas isso é um projecto megalómano”, sorri Constança, já de tesoura em punho para cortar as nossas etiquetas e arquivá-las. Até quinta-feira, o projecto Do Avesso ou os países que trazemos connosco vai andar pelas Escola Secundária Pedro Nunes e pela Escola Básica Josefa de Óbidos e funciona em atelier aberto no Espaço Amoreiras – Centro Empresarial entre as 14h30 e as 18 h, tudo em Lisboa.

Constança Saraiva, artista plástica, desenvolveu o projecto Do avesso ou os países que trazemos connosco, em parceria com o Edge Arts e a Roulote - Projectos Artísticos, sobre a origem das peças de vestuário e o estado da indústria têxtil.

Numa ida às compras, a primeira preocupação é encontrar a peça de roupa desejada, que assente bem, que seja económica. Mas as etiquetas presas a essas peças fazem com que o nosso armário seja multicultural – os nossos casacos, calças e camisas vêm, na sua maioria, de muito longe. “Quais são os mapas do nosso armário e das nossas gavetas? Qual é o mapa desenhado pela indústria têxtil, pela globalização, capitalismo ou precariedade laboral? Qual é o mapa do nosso dia de hoje?”. As perguntas são da artista plástica Constança Saraiva que se propõe a cartografar o nosso armário, através de um atelier aberto de recolha de etiquetas de peças de roupa e de projectos alternativos.

A iniciativa, com várias fases, “convida os curiosos a explorar a paisagem imaginária criada pelo vestuário do nosso dia-a-dia” e, ao mesmo tempo alerta para o estado da indústria têxtil mundial. “Este projecto estava guardado na gaveta há alguns anos. Eu própria comecei a coleccionar as minhas etiquetas e foi uma vergonha. Tinha muitas da Polónia, Marrocos, Turquia, Índia, Bangladesh, China”, conta a artista plástica ao Life&Style, no primeiro dia de residência artística no Espaço Amoreiras, em Lisboa.

Ao nosso lado temos um mapa-mundo e já alguns pregos a ligar Portugal à China, fruto das primeiras etiquetas angariadas, e olhares curiosos. "A recolha de etiquetas é uma desculpa para falar com as pessoas, pô-las a pensar”, explica Constança Saraiva, actualmente a viver em Roterdão, Holanda, que encontra nos mapas não tradicionais “um veículo de informação interessante”. Uma outra parte do projecto é o arquivo das alternativas – uma recolha de projectos nacionais e sugestões para acabar com situações de precariedade e desperdício têxtil.

Sensibilizar miúdos e graúdos

Considerando-se “uma das maiores culpadas desta situação” por ir, como tantos outros portugueses, a lojas de moda rápida por não conseguir pagar uma t-shirt com mais um ou dois zeros, Constança Saraiva quer que nos tornemos “conscientes em relação àquilo que consumimos”. E o primeiro “alerta” pode vir com um olhar mais atento para o “made in” inscrito na etiqueta de uma peça de roupa mas depois “há uma parte horrível e complicada que tem a ver com a precariedade laboral e com a poluição”. “Se bem que estas indústrias têxteis dão trabalho a muita gente. É um trabalho precário mas quantas famílias levam pão para casa? É um pau de dois bicos mas é o início de um trabalho de investigação e artístico que tem pano para mangas”, frisa Constança Saraiva.

Para promover a consciência e sensibilizar um público alargado, este projecto tem uma vertente itinerante: desde 24 de Setembro e até dia 1 de Outubro (dia da exposição final do projecto e de um debate com a professor de design de moda Ana Couto, a designer Ana Teresa Neves e os projectos Torcer Ideias e Fablab Lisboa), a artista irá percorrer vários espaços (escolas, jardins, associações) do bairro de Campo de Ourique, em Lisboa, numa rulote. É nesta carrinha – um projecto de Pedro e Teresa Pires, que desde 2013 tem como objectivo utilizar o interior de uma rulote como galeria de arte – que estão as várias caixinhas com etiquetas de roupa já recolhidas e se pretende que miúdos e graúdos dêem as suas opiniões. A rulote também vai estacionar em escolas, onde Constança Saraiva vai mostrar pequenos excertos de documentários sobre as fábricas de produção têxtil, “alguns um bocadinho fortes” – também o jornal norueguês Aftenposten fez um destes documentários de sensibilização (Fábricas de Roupa: Moda que mata), e levou três bloggers de moda a uma fábrica têxtil em Phnom Penh, no Camboja.

“A recolha de etiquetas é a parte divertida mas é agridoce. Vamos tirar a etiqueta e depois é made in China. Gostava que as crianças calculassem a quantos quilómetros está Lisboa da China, por exemplo. São distâncias inacreditáveis que os vão fazer pensar”, diz a artista, que acredita que no final do dia, os mais novos levam o debate para a mesa de jantar, com os pais, avós e tios e também os põem a pensar.

Será ainda promovido um workshop intergeracional. “Vamos ter jovens e idosos a discutir este assunto e penso que será interessante porque os idosos têm uma ligação diferente com a roupa. São pessoas de uma geração onde um par de calças ou um pullover duravam mais de 20 anos”, exemplifica. “Não sei se vamos ter respostas, mas pelo menos espero ter ideias”, diz.

No dia 1 de Outubro, dia final da residência artística, haverá um brainstorm colectivo em forma de debate, com entrada e participação livres. A ideia é ser uma conversa e “nada demasiado teórico”. Depois, no início de 2016 e com uma investigação aprofundada, o objectivo é publicar em livro “a parte editada e fundamental do projecto”, com ensaios de investigadores e designers, mapas e cartografias.

“O ideal era fazer uma tour nacional com a rulote e perceber as realidades pelo país todo mas isso é um projecto megalómano”, sorri Constança, já de tesoura em punho para cortar as nossas etiquetas e arquivá-las. Até quinta-feira, o projecto Do Avesso ou os países que trazemos connosco vai andar pelas Escola Secundária Pedro Nunes e pela Escola Básica Josefa de Óbidos e funciona em atelier aberto no Espaço Amoreiras – Centro Empresarial entre as 14h30 e as 18 h, tudo em Lisboa.

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