Euro 2012

07-10-2013
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Espanha sem pilhas foi salva pelas substituições e pelo poste

Bruno Prata

1. O futebol é um desporto em que jogam 11 contra 11 e em que, no fim, ganha a Espanha, mesmo que seja nos penáltis. Esta versão revista da frase que o inglês Gary Lineker celebrizou (então, numa homenagem ao futebol alemão) tem cada vez mais razão de ser: os espanhóis seguem para a terceira grande final em apenas quatro anos. Mas Portugal esteve a um pequeno passo de eliminar o campeão mundial e europeu. A bola rematada por Bruno Alves esbarrou na trave; o remate de Fàbregas bateu no poste, mas resvalou para dentro da baliza. A eliminação não pode ser resumida ao sortilégio das grandes penalidades. Portugal bateu-se galhardamente durante os 90 minutos, mas deixou-se subjugar no prolongamento, o que não bate certo com os dois dias a mais para recuperar do esforço.

2. A opção e o tempo das substituições podem ajudar a explicar o enigma. Os jogos não se decidem só através da capacidade agonística e resolutiva dos jogadores. E a verdade é que Del Bosque, durante o jogo, tomou decisões que ajudaram a tornar a sua equipa mais forte. A primeira quando abdicou da surpresa que ele próprio criara (Negredo) para lançar Fàbregas. Trocou um número nove verdadeiro por um de mentira, mas esta Espanha gosta e premeia o embuste. Mais importante ainda foi quando, pouco antes do início do prolongamento, tirou talvez a principal figura (Xavi), que há muito esgotara o depósito. Entraram Navas e Pedro Rodríguez, dois velocistas indomáveis para as alas. Resultado: a Espanha justificou finalmente por que vai ficar na história como uma raríssima marca futebolística.

3. Paulo Bento foi mais conservador, mas também é justo reconhecer que não tinha as mesmas armas. Com um dos pontas-de-lança que a Espanha deixou no “banco” (Torres e Llorente), Portugal estaria agora em festa e com grandes hipóteses de se sagrar campeão. Hugo Almeida teve ajudas defensivas preciosas, mas não tem killer instinct. E Nélson Almeida entrou com o selo de suplente na testa. Mesmo assim, fica a dúvida o que teria acontecido se Bento tivesse feito no início do prolongamento o que só acabou por fazer no fim (trocar Meireles por Varela e recuar Nani). Talvez dessa forma a Espanha nunca tivesse conseguido disfarçar as pilhas sem carga.

4. Portugal fez uma primeira parte notável em quase todas as facetas do jogo: linhas juntas, posse, estabilidade, controlo e pressão. Tudo com um vigor impressionante. Na segunda não foi tão forte, mas manteve-se uma equipa equilibrada. Apenas lhe faltou mais chegada e remate.

5. No lado espanhol estranha-se o rendimento medíocre de alguns craques. Daí que tenha havido menos momentos transcendentais, toque, precisão e finura. Portugal também não fez nada de especial lá na frente e raramente conseguiu flirtar com o golo. Mas conseguiu o suficiente para que a Espanha perdesse o seu poder de intimidação e, durante muito tempo, desse a ideia de que se ia desmembrar naquele picar de pedra inócuo. Mas a Espanha acabou por dar a volta à situação porque o seu futebol encerra algo de misterioso e também porque uma alma demolidora nunca deixa de o ser mesmo nos piores dias.

6. João Moutinho foi enorme e saiu do Europeu como um dos jogadores mais valiosos. Nesta quarta-feira fez tudo bem feito, porque falhar um penálti acontece a qualquer um. Pepe também esteve insuperável, tal como Rui Patrício e Fábio Coentrão. Ronaldo saiu da prova sem deixar a sua marca nos livres, mas, se houver justiça, a Bola de Ouro não lhe vai escapar.

Espanha sem pilhas foi salva pelas substituições e pelo poste

Bruno Prata

1. O futebol é um desporto em que jogam 11 contra 11 e em que, no fim, ganha a Espanha, mesmo que seja nos penáltis. Esta versão revista da frase que o inglês Gary Lineker celebrizou (então, numa homenagem ao futebol alemão) tem cada vez mais razão de ser: os espanhóis seguem para a terceira grande final em apenas quatro anos. Mas Portugal esteve a um pequeno passo de eliminar o campeão mundial e europeu. A bola rematada por Bruno Alves esbarrou na trave; o remate de Fàbregas bateu no poste, mas resvalou para dentro da baliza. A eliminação não pode ser resumida ao sortilégio das grandes penalidades. Portugal bateu-se galhardamente durante os 90 minutos, mas deixou-se subjugar no prolongamento, o que não bate certo com os dois dias a mais para recuperar do esforço.

2. A opção e o tempo das substituições podem ajudar a explicar o enigma. Os jogos não se decidem só através da capacidade agonística e resolutiva dos jogadores. E a verdade é que Del Bosque, durante o jogo, tomou decisões que ajudaram a tornar a sua equipa mais forte. A primeira quando abdicou da surpresa que ele próprio criara (Negredo) para lançar Fàbregas. Trocou um número nove verdadeiro por um de mentira, mas esta Espanha gosta e premeia o embuste. Mais importante ainda foi quando, pouco antes do início do prolongamento, tirou talvez a principal figura (Xavi), que há muito esgotara o depósito. Entraram Navas e Pedro Rodríguez, dois velocistas indomáveis para as alas. Resultado: a Espanha justificou finalmente por que vai ficar na história como uma raríssima marca futebolística.

3. Paulo Bento foi mais conservador, mas também é justo reconhecer que não tinha as mesmas armas. Com um dos pontas-de-lança que a Espanha deixou no “banco” (Torres e Llorente), Portugal estaria agora em festa e com grandes hipóteses de se sagrar campeão. Hugo Almeida teve ajudas defensivas preciosas, mas não tem killer instinct. E Nélson Almeida entrou com o selo de suplente na testa. Mesmo assim, fica a dúvida o que teria acontecido se Bento tivesse feito no início do prolongamento o que só acabou por fazer no fim (trocar Meireles por Varela e recuar Nani). Talvez dessa forma a Espanha nunca tivesse conseguido disfarçar as pilhas sem carga.

4. Portugal fez uma primeira parte notável em quase todas as facetas do jogo: linhas juntas, posse, estabilidade, controlo e pressão. Tudo com um vigor impressionante. Na segunda não foi tão forte, mas manteve-se uma equipa equilibrada. Apenas lhe faltou mais chegada e remate.

5. No lado espanhol estranha-se o rendimento medíocre de alguns craques. Daí que tenha havido menos momentos transcendentais, toque, precisão e finura. Portugal também não fez nada de especial lá na frente e raramente conseguiu flirtar com o golo. Mas conseguiu o suficiente para que a Espanha perdesse o seu poder de intimidação e, durante muito tempo, desse a ideia de que se ia desmembrar naquele picar de pedra inócuo. Mas a Espanha acabou por dar a volta à situação porque o seu futebol encerra algo de misterioso e também porque uma alma demolidora nunca deixa de o ser mesmo nos piores dias.

6. João Moutinho foi enorme e saiu do Europeu como um dos jogadores mais valiosos. Nesta quarta-feira fez tudo bem feito, porque falhar um penálti acontece a qualquer um. Pepe também esteve insuperável, tal como Rui Patrício e Fábio Coentrão. Ronaldo saiu da prova sem deixar a sua marca nos livres, mas, se houver justiça, a Bola de Ouro não lhe vai escapar.

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