Os tweenies já querem ser grandes

15-11-2013
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O termo deriva da palavra inglesa between. É tweenie quem já não é criança mas ainda não é adolescente. É tweenie quem está nessa confusa terra de ninguém, um campo minado de estímulos alimentado a música e a Internet.

Patrícia tem dois filhos nesta volátil faixa etária que normalmente vai dos 8 aos 13 mas que varia muito de pessoa para pessoa. Os filhos de Patrícia têm nove e sete anos. O mais velho diz-lhe por vezes frases como “eu não pedi para nascer” ou “eu é que mando no meu corpo e na minha vida”. Patrícia admite que ela só começou a dizer este tipo de coisas bem depois dos 18 anos. Nota muitas diferenças entre o comportamento dos seus filhos e o seu próprio quando tinha esta idade, na década de 1970. “A diferença é enorme! A publicidade, a Internet e a informação que têm hoje fazem deles adolescentes mais depressa”, avalia.

A sexualidade é um tema de que já falam estes miúdos. Patrícia diz que o seu filho mais velho se refere aos órgãos sexuais masculinos e femininos pelos termos anatómicos - pénis e vagina - mas ficou surpreendida pelo filho mais novo estar já tão desperto para este tipo de temas que, quando ela era pequena, “nem sabia que existiam”. “O meu filho mais novo passa a vida a pedir-me para me dar um beijo na boca, mas com a boca aberta, porque quer saber como é a sensação. Eu digo-lhe que ele tem de esperar até ser mais velho e ele fica muito nervoso e irritado comigo!”, explica esta mãe.

Contactado pelo Life&Style, Mário Cordeiro, professor de pediatria e autor da obra O Grande Livro do Adolescente, explicou que este tipo de comportamentos reflecte a abundância de informação à disposição dos miúdos. “[Os pré-adolescentes] estão mais informados, têm mais liberdade, não estão reprimidos por tabus e obscurantismo”, referiu este especialista.

Patrícia parece concordar: “A evolução tem coisas boas e más, se bem que eu não sei até que ponto eles não acabam por tirar melhor partido da vida por estarem mais bem preparados para tudo. Nós éramos tão inocentes, até tão tarde... Adávamos pela vida em bicos dos pés, eles andam de costas direitas e a pisar duro como se dissessem: Eu tenho todo o direito de estar aqui! O mundo é meu!”, avalia Patrícia.

O Justin Bieber e uma cabana

Como se podem definir estes tweenies? Quais são as suas características comuns? Mário Cordeiro sublinha que tudo depende muito de cada indivíduo. De qualquer modo, a fase da adolescência e de cujos “sintomas” começam a padecer os pré-adolescentes pode resumir-se nas seguintes características: “Um enorme surto de autonomia, de identidade, de pensamento próprio, um salto qualitativo na sexualidade abrangendo áreas ainda pouco evidentes antes, dilemas e questões éticas, crescimento físico e maturação sexual e uma diferente dinâmica social e de grupo, com relações também diferentes com a família”.

E o que é que interessa a estes miúdos? Música (presença constante em gadgets variados), telemóveis, Internet, amigos e amigas (as BFF - Best Friend Forever) e os seus ídolos (sejam desportivos, musicais ou outros). “Os ídolos dos meus filhos são os futebolistas e o cantor Justin Bieber”, confirma Patrícia.

O quarto onde dormem é a cabana destes miúdos. Um espaço idílico só deles. O templo sagrado ao qual os pais começam a aceder de forma cada vez mais limitada. É nestas quatro paredes que os tweenie reverenciam os seus ídolos. O já referido Justin Bieber, mas também o batalhão de celebridades teen made in Disney - Joe Jonas (dos Jonas Brothers), Miley Cyrus, Zac Efron, Vanessa Hudgens - os futebolistas Cristiano Ronaldo e Messi ou os protagonistas de séries como Glee ou de filmes como High School Musical ou a saga Crepúsculo.

Este tipo de referências encontra, genericamente, maior receptividade entre o público feminino. Raparigas e rapazes são já bastante diferentes nestas idades. Mário Cordeiro explica as principais diferenças: “Elas são mais responsáveis, plurifuncionais, fisicamente mais calmas, organizam-se à volta do ‘ser’ e do ‘parecer’ e expressam-se em mais palavras, tendo mais tendência para comentar e ‘intrigar’. Eles são mais básicos, irresponsáveis, bons rapazes mas cabeça no ar, organizam-se à volta do ‘ter’, numa afirmação fálica, são monofuncionais, distraindo-se facilmente, são mais lacónicos e não tendem a ser muito profundos. Mas isto é no geral, não visa cada caso em particular”.

Paralelamente, nos últimos anos esta faixa de pré-adolescentes tem sido uma mina de ouro para os vendedores e publicitários. Estes miúdos fazem movimentar muitos milhões de euros por ano em compras e há muito que os marketeers os incluem num target específico de consumidores. O que é anunciado na TV (Na SIC K ou no Disney Channel, por exemplo) ou nos sites mais frequentados pelos tweenie tem muito peso na altura das compras. “É através da TV que eles escolhem as novas brincadeiras que estão na moda”, admite Patrícia.

Mário Cordeiro também reconhece o peso que tem hoje a publicidade no comportamento dos pré-adolescentes: “Todas as gerações são permeáveis à publicidade. No caso dos adolescentes,esta explora as características deste grupo, designadamente o sentimento de pertença a grupos, sejam eles quais forem, os que usam camisas da marca X ou telemóveis da marca Y. Mas com os adultos acontece o mesmo: vejam-se os automóveis, os whiskys, os perfumes... A publicidade modela escolhas. Se assim não fosse as empresas não investiriam milhões nela. Não sejamos ingénuos... E os adolescentes até nem são dos que mais poder aquisitivo próprio têm”.

Podem não ter poder de compra, mas influenciam decisivamente o poder de compra dos pais. Especialmente nos casos em que os jovens vivem com um único progenitor. De acordo com o resumo da tese de doutoramento da autoria de João Baía - disponível online e datada de 2008 -, intitulada A influência do adolescente na decisão de compra em famílias monoparentais, a “idade do adolescente e o conhecimento do produto” a ser adquirido são “variáveis relevantes nas compras consideradas”.

“Dada a importância dos adolescentes, pela influência que exercem nos agregados monoparentais, importa que os profissionais de marketing orientem os seus esforços para a satisfação dos adolescentes, adoptando estratégias ajustadas às famílias monoparentais”, escreve o autor desta tese.

Como lidar com eles?

Patrícia admite que não é fácil lidar com estes pré-adolescentes. Até porque, indica esta mãe, os pais são hoje muito mais “permissivos”.

Mário Cordeiro acentua a importância de os pais e professores não se demitirem das suas responsabilidades durante este período tão complicado da vida de uma pessoa, durante o qual os jovens começam a tomar decisões e a fazer escolhas: “Cabe a cada um aprender a fazer escolhas e fazê-las. A verdadeira liberdade não é estar num ambiente ‘puro’ e ‘angelical’, mas saber escolher, num mundo que tem coisas boas e menos boas, o que cada um pensa ser melhor para o seu percurso de vida. Para o presente que quer viver e para o futuro que quer construir. E aí, os pais e professores têm uma enorme responsabilidade - e não se podem demitir dela - em ajudar a pessoa a construir-se melhor e a cultivar o sentido do aperfeiçoamento”.

Que conselhos deixa este especialista aos progenitores? Mário Cordeiro salienta a importância do diálogo entre pais e filhos e a necessidade de os progenitores se informarem através de “fontes cientificamente credíveis”, mas ressalva que “se há coisas que os pais devem debater com os filhos, outras são do foro íntimo e o desconforto é grande, podendo ser contraproducente uma ‘total transparência’ relacional’”.

“As pessoas crescem e, mesmo que os pais se recordem bem da sua adolescência, terão de pensar que, neste momento, são pais de adolescentes e não outra vez adolescentes. Daí as suas enormes dúvidas...”, explicou ainda o especialista.

O termo deriva da palavra inglesa between. É tweenie quem já não é criança mas ainda não é adolescente. É tweenie quem está nessa confusa terra de ninguém, um campo minado de estímulos alimentado a música e a Internet.

Patrícia tem dois filhos nesta volátil faixa etária que normalmente vai dos 8 aos 13 mas que varia muito de pessoa para pessoa. Os filhos de Patrícia têm nove e sete anos. O mais velho diz-lhe por vezes frases como “eu não pedi para nascer” ou “eu é que mando no meu corpo e na minha vida”. Patrícia admite que ela só começou a dizer este tipo de coisas bem depois dos 18 anos. Nota muitas diferenças entre o comportamento dos seus filhos e o seu próprio quando tinha esta idade, na década de 1970. “A diferença é enorme! A publicidade, a Internet e a informação que têm hoje fazem deles adolescentes mais depressa”, avalia.

A sexualidade é um tema de que já falam estes miúdos. Patrícia diz que o seu filho mais velho se refere aos órgãos sexuais masculinos e femininos pelos termos anatómicos - pénis e vagina - mas ficou surpreendida pelo filho mais novo estar já tão desperto para este tipo de temas que, quando ela era pequena, “nem sabia que existiam”. “O meu filho mais novo passa a vida a pedir-me para me dar um beijo na boca, mas com a boca aberta, porque quer saber como é a sensação. Eu digo-lhe que ele tem de esperar até ser mais velho e ele fica muito nervoso e irritado comigo!”, explica esta mãe.

Contactado pelo Life&Style, Mário Cordeiro, professor de pediatria e autor da obra O Grande Livro do Adolescente, explicou que este tipo de comportamentos reflecte a abundância de informação à disposição dos miúdos. “[Os pré-adolescentes] estão mais informados, têm mais liberdade, não estão reprimidos por tabus e obscurantismo”, referiu este especialista.

Patrícia parece concordar: “A evolução tem coisas boas e más, se bem que eu não sei até que ponto eles não acabam por tirar melhor partido da vida por estarem mais bem preparados para tudo. Nós éramos tão inocentes, até tão tarde... Adávamos pela vida em bicos dos pés, eles andam de costas direitas e a pisar duro como se dissessem: Eu tenho todo o direito de estar aqui! O mundo é meu!”, avalia Patrícia.

O Justin Bieber e uma cabana

Como se podem definir estes tweenies? Quais são as suas características comuns? Mário Cordeiro sublinha que tudo depende muito de cada indivíduo. De qualquer modo, a fase da adolescência e de cujos “sintomas” começam a padecer os pré-adolescentes pode resumir-se nas seguintes características: “Um enorme surto de autonomia, de identidade, de pensamento próprio, um salto qualitativo na sexualidade abrangendo áreas ainda pouco evidentes antes, dilemas e questões éticas, crescimento físico e maturação sexual e uma diferente dinâmica social e de grupo, com relações também diferentes com a família”.

E o que é que interessa a estes miúdos? Música (presença constante em gadgets variados), telemóveis, Internet, amigos e amigas (as BFF - Best Friend Forever) e os seus ídolos (sejam desportivos, musicais ou outros). “Os ídolos dos meus filhos são os futebolistas e o cantor Justin Bieber”, confirma Patrícia.

O quarto onde dormem é a cabana destes miúdos. Um espaço idílico só deles. O templo sagrado ao qual os pais começam a aceder de forma cada vez mais limitada. É nestas quatro paredes que os tweenie reverenciam os seus ídolos. O já referido Justin Bieber, mas também o batalhão de celebridades teen made in Disney - Joe Jonas (dos Jonas Brothers), Miley Cyrus, Zac Efron, Vanessa Hudgens - os futebolistas Cristiano Ronaldo e Messi ou os protagonistas de séries como Glee ou de filmes como High School Musical ou a saga Crepúsculo.

Este tipo de referências encontra, genericamente, maior receptividade entre o público feminino. Raparigas e rapazes são já bastante diferentes nestas idades. Mário Cordeiro explica as principais diferenças: “Elas são mais responsáveis, plurifuncionais, fisicamente mais calmas, organizam-se à volta do ‘ser’ e do ‘parecer’ e expressam-se em mais palavras, tendo mais tendência para comentar e ‘intrigar’. Eles são mais básicos, irresponsáveis, bons rapazes mas cabeça no ar, organizam-se à volta do ‘ter’, numa afirmação fálica, são monofuncionais, distraindo-se facilmente, são mais lacónicos e não tendem a ser muito profundos. Mas isto é no geral, não visa cada caso em particular”.

Paralelamente, nos últimos anos esta faixa de pré-adolescentes tem sido uma mina de ouro para os vendedores e publicitários. Estes miúdos fazem movimentar muitos milhões de euros por ano em compras e há muito que os marketeers os incluem num target específico de consumidores. O que é anunciado na TV (Na SIC K ou no Disney Channel, por exemplo) ou nos sites mais frequentados pelos tweenie tem muito peso na altura das compras. “É através da TV que eles escolhem as novas brincadeiras que estão na moda”, admite Patrícia.

Mário Cordeiro também reconhece o peso que tem hoje a publicidade no comportamento dos pré-adolescentes: “Todas as gerações são permeáveis à publicidade. No caso dos adolescentes,esta explora as características deste grupo, designadamente o sentimento de pertença a grupos, sejam eles quais forem, os que usam camisas da marca X ou telemóveis da marca Y. Mas com os adultos acontece o mesmo: vejam-se os automóveis, os whiskys, os perfumes... A publicidade modela escolhas. Se assim não fosse as empresas não investiriam milhões nela. Não sejamos ingénuos... E os adolescentes até nem são dos que mais poder aquisitivo próprio têm”.

Podem não ter poder de compra, mas influenciam decisivamente o poder de compra dos pais. Especialmente nos casos em que os jovens vivem com um único progenitor. De acordo com o resumo da tese de doutoramento da autoria de João Baía - disponível online e datada de 2008 -, intitulada A influência do adolescente na decisão de compra em famílias monoparentais, a “idade do adolescente e o conhecimento do produto” a ser adquirido são “variáveis relevantes nas compras consideradas”.

“Dada a importância dos adolescentes, pela influência que exercem nos agregados monoparentais, importa que os profissionais de marketing orientem os seus esforços para a satisfação dos adolescentes, adoptando estratégias ajustadas às famílias monoparentais”, escreve o autor desta tese.

Como lidar com eles?

Patrícia admite que não é fácil lidar com estes pré-adolescentes. Até porque, indica esta mãe, os pais são hoje muito mais “permissivos”.

Mário Cordeiro acentua a importância de os pais e professores não se demitirem das suas responsabilidades durante este período tão complicado da vida de uma pessoa, durante o qual os jovens começam a tomar decisões e a fazer escolhas: “Cabe a cada um aprender a fazer escolhas e fazê-las. A verdadeira liberdade não é estar num ambiente ‘puro’ e ‘angelical’, mas saber escolher, num mundo que tem coisas boas e menos boas, o que cada um pensa ser melhor para o seu percurso de vida. Para o presente que quer viver e para o futuro que quer construir. E aí, os pais e professores têm uma enorme responsabilidade - e não se podem demitir dela - em ajudar a pessoa a construir-se melhor e a cultivar o sentido do aperfeiçoamento”.

Que conselhos deixa este especialista aos progenitores? Mário Cordeiro salienta a importância do diálogo entre pais e filhos e a necessidade de os progenitores se informarem através de “fontes cientificamente credíveis”, mas ressalva que “se há coisas que os pais devem debater com os filhos, outras são do foro íntimo e o desconforto é grande, podendo ser contraproducente uma ‘total transparência’ relacional’”.

“As pessoas crescem e, mesmo que os pais se recordem bem da sua adolescência, terão de pensar que, neste momento, são pais de adolescentes e não outra vez adolescentes. Daí as suas enormes dúvidas...”, explicou ainda o especialista.

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