Homossexualidade é antinatura

07-12-2014
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Apesar de me considerar uma miúda bastante destemida, há coisas que me causam algum pavor. Não gosto de nadar em sítios onde não vejo o fundo e sentir a vegetação fazer-me cócegas nas pernas. Nunca se sabe o que habita as profundezas escuras e inóspitas dos mares e rios deste mundo! Os mitos existem e talvez não sejam infundados. Também tenho horror aos argumentos do tipo “é a natureza”/“é antinatura”, a que segue, regra geral, um olhar de superioridade. Como no dia-a-dia sou confrontada com este medo, gostava de o ultrapassar. O primeiro é mais simples, eu escolho onde vou nadar.

Na verdade eu sei de onde vem o meu medo. O meu medo vem do meu desconhecimento (não confundir com inconseguimento) em relação à natureza. Só sei que nada sei, e no que diz respeito à natureza isso é bem verdade. Há muita coisa na natureza que não compreendo e, portanto, usá-la como explicação para as coisas sociais é-me impossível. Senão vejamos. A Tocha vive em casa dos meus pais há imensos anos, está velha e gorda. Sempre foi esquisita com a comida, aquela cadela! Lembro-me de lhe oferecer pão com manteiga e o que é que ela fazia? Lambia a manteiga e deixava o pão. E o que é que ela adorava? A Tocha sempre correu atrás dos dejetos dos outros cães. A alegria daquela cadela sempre que no passeio de fim de tarde nos cruzávamos com cocó! Não compreendo, mas a natureza é assim. Que o diga George Murray Levick.

“É a natureza!” é a justificação que mais vezes oiço quando as pessoas querem defender a heterossexualidade, elevando a homossexualidade ao estatuto de aberração ou acto nonsense. À falta de mais argumentos, arremessam-me sem dó nem piedade: “isso é antinatura!” Fico desconcertada, o horror invade-me o corpo. Penso na natureza que me rodeia, penso na Tocha e pergunto-me, mas de que natureza estarão estas pessoas a falar!? A Tocha gosta de cheirar e, por que não ser completamente honesta, mordiscar cocó alheio. E os homens e as mulheres não podem amar alguém do seu sexo? Definitivamente, não compreendo a natureza.

O que é “antinatura” é uma gravidez entre pessoas do mesmo sexo, especialmente se forem homens. Mas será que os homossexuais pensam que se insistirem nas relações coitais a cegonha vai trazer-lhes um bebé? Na verdade nunca vi nenhum gay ou lésbica questionar aquelas cronistas que ajudam as pessoas a resolver os seus problemas íntimos: “há meses que tenho sexo anal com o meu companheiro e ainda não engravidei, devo consultar um ginecologista especialista em problemas de fertilidade?” Talvez eles tenham sexo mesmo sabendo que não vão engravidar a seguir.

“Naturais” são os rituais de acasalamento. Alguns animais emitem sons para nós absurdos, outros encenam danças à volta da presa. Estes últimos são mais parecidos connosco, humanos. Eu já fui interpelada por homo/hétero/bissexuais e todos se assemelham na forma como tentam seduzir o objecto de desejo. Apesar de já ter ouvido rumores sobre os homossexuais como horríveis predadores e molestadores, diz-me a experiência que somos todos muito iguais. Tudo tende a ser feito com cuidado para não afugentar aquilo que se quer. De resto, a bestialidade está distribuída em iguais proporções por todos, homo ou hétero.

Socióloga lisppr@gmail.com

Apesar de me considerar uma miúda bastante destemida, há coisas que me causam algum pavor. Não gosto de nadar em sítios onde não vejo o fundo e sentir a vegetação fazer-me cócegas nas pernas. Nunca se sabe o que habita as profundezas escuras e inóspitas dos mares e rios deste mundo! Os mitos existem e talvez não sejam infundados. Também tenho horror aos argumentos do tipo “é a natureza”/“é antinatura”, a que segue, regra geral, um olhar de superioridade. Como no dia-a-dia sou confrontada com este medo, gostava de o ultrapassar. O primeiro é mais simples, eu escolho onde vou nadar.

Na verdade eu sei de onde vem o meu medo. O meu medo vem do meu desconhecimento (não confundir com inconseguimento) em relação à natureza. Só sei que nada sei, e no que diz respeito à natureza isso é bem verdade. Há muita coisa na natureza que não compreendo e, portanto, usá-la como explicação para as coisas sociais é-me impossível. Senão vejamos. A Tocha vive em casa dos meus pais há imensos anos, está velha e gorda. Sempre foi esquisita com a comida, aquela cadela! Lembro-me de lhe oferecer pão com manteiga e o que é que ela fazia? Lambia a manteiga e deixava o pão. E o que é que ela adorava? A Tocha sempre correu atrás dos dejetos dos outros cães. A alegria daquela cadela sempre que no passeio de fim de tarde nos cruzávamos com cocó! Não compreendo, mas a natureza é assim. Que o diga George Murray Levick.

“É a natureza!” é a justificação que mais vezes oiço quando as pessoas querem defender a heterossexualidade, elevando a homossexualidade ao estatuto de aberração ou acto nonsense. À falta de mais argumentos, arremessam-me sem dó nem piedade: “isso é antinatura!” Fico desconcertada, o horror invade-me o corpo. Penso na natureza que me rodeia, penso na Tocha e pergunto-me, mas de que natureza estarão estas pessoas a falar!? A Tocha gosta de cheirar e, por que não ser completamente honesta, mordiscar cocó alheio. E os homens e as mulheres não podem amar alguém do seu sexo? Definitivamente, não compreendo a natureza.

O que é “antinatura” é uma gravidez entre pessoas do mesmo sexo, especialmente se forem homens. Mas será que os homossexuais pensam que se insistirem nas relações coitais a cegonha vai trazer-lhes um bebé? Na verdade nunca vi nenhum gay ou lésbica questionar aquelas cronistas que ajudam as pessoas a resolver os seus problemas íntimos: “há meses que tenho sexo anal com o meu companheiro e ainda não engravidei, devo consultar um ginecologista especialista em problemas de fertilidade?” Talvez eles tenham sexo mesmo sabendo que não vão engravidar a seguir.

“Naturais” são os rituais de acasalamento. Alguns animais emitem sons para nós absurdos, outros encenam danças à volta da presa. Estes últimos são mais parecidos connosco, humanos. Eu já fui interpelada por homo/hétero/bissexuais e todos se assemelham na forma como tentam seduzir o objecto de desejo. Apesar de já ter ouvido rumores sobre os homossexuais como horríveis predadores e molestadores, diz-me a experiência que somos todos muito iguais. Tudo tende a ser feito com cuidado para não afugentar aquilo que se quer. De resto, a bestialidade está distribuída em iguais proporções por todos, homo ou hétero.

Socióloga lisppr@gmail.com

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