Mandra Brasa: Conspiração Mandra: Jesus salva e Abraão indica o caminho

01-07-2011
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Abraão é o zelador gente fina lá do prédio onde moro. Me trata muito bem e mesmo sendo um torcedor arqui-rival do meu time até já me livrou de ser motivo de chacota por causa de uma derrota vergonhosa do Sport - avisando-me da presença de meu cunhado e família, trajados a caráter para zombar da derrota.Como todo zelador, Abraão sabe da vida das 46 famílias do edifício: hábitos de consumo, horários de chegada e saída de cada morador, placas dos carros etc. Não tardou para que ele se ligasse que sou adepto da água-que-passarinho-não-bebe, afinal, vez por outra apareço no prédio com uma garrafinha exótica pintada a mão pelo dono do bar Toca da Joana.Como costumo dar bom dia, boa tarde e boa noite sempre, Abraão já percebe o meu grau de estresse quando substituo o cumprimento costumeiro pelo sinal de "legal forçado", com o dedo polegar levantado, e entro na portaria, em silêncio, para esperar o elevador.Abraão - O dia foi pesado hoje, hein meu chefe!?Mandra - ô... tou acabado aqui.Abraão - É bom tomar um negocinho pra desestressar.Mandra - se ainda tivesse um restinho lá em casa eu tomava, mas não tenho coragem de pegar o carro novamente para ir comprar uma latinha.Abraão - Por que o senhor não vai ali na barraquinha de Jesus? ele vende pitú também.Mandra - Aleluia! é aquela barraca ali na frente do prédio?Abraão - Sim, pode procurar o dono e pedir o que o senhor quiser. Até se tiver sem dinheiro é só dizer que é morador aqui do prédio que ele faz fiado.Rumei para a barraquinha, seguindo o caminho das pedras indicado por Abraão. Passei uma vista geral no estabelecimento e pude ver a plaquinha "Propriedade Exclusiva do Senhor Jesus", numa prateleira, ladeada por maços de cigarros. Pedi uma latinha de pitú e fiquei no balcão, jogando conversa fora e bebida dentro.Minutos depois chegou um trio exótico, que eu poderia definir como uma tribo emo-punk-andrógina. A líder do grupo era a cara daquela cantora Björk e pediu uma cerveja e três copos de vidro. Jesus entregou copos de plástico e mentiu que todos os de vidro estavam sujos e que ainda estava faltando água para lavá-los. Björk olhou para o meu copo de vidro, para minha cara de bonachão burguês com camisa azul-prosperidade, olhou novamente para Jesus, pegou os copos plásticos e disse: "só falta agora a cerveja estar quente também!". E Jesus, fazendo questão de não ser simpático, profetizou: "Deve estar pouco gelada, porque o caminhão da entrega chegou tarde hoje".Quando Björk se afastou, Jesus não hesitou em me confidenciar que "aquele pessoal já surrupiou dois copos de vidro meus. Não faço a menor questão de tratar bem". Nem me passou pela cabeça fazer o papel de advogado do diabo, defendendo os emo-punks-andróginos, afinal, Jesus já os havia julgado e condenado, enquanto me servia o destilado de cana-de-açúcar fiado. Mas apesar da "fama", eu bebo pouquíssimo e me contento com duas doses - que passo uma hora pra terminar.Sem mais nem menos, Jesus perguntou pela minha motocicleta Ténéré. Fiquei surpreso porque mesmo sem me conhecer ele sabia até qual era o meu meio de transporte. Expliquei a história da troca e da destroca pelo Versailles e só depois me dei conta que Jesus tudo vê, dali daquela barraquinha. Peguei o resto da latinha (mais de 2/3) e levei pra casa, onde repousará por algumas semanas na geladeira. Hoje fui convocado para a primeira pedalada coletiva com o fotógrafo Mazella e o jornalista Yuri. Eles marcaram comigo em frente à barraquinha de Jesus (UÊPA!!!).:: Planejamento de malhação ciclística envolvendo três jornalistas com encontro marcado em barraquinha etílica? Essa, até Deus duvida.:: Texto relacionado: O meu amigo zelador.


Abraão é o zelador gente fina lá do prédio onde moro. Me trata muito bem e mesmo sendo um torcedor arqui-rival do meu time até já me livrou de ser motivo de chacota por causa de uma derrota vergonhosa do Sport - avisando-me da presença de meu cunhado e família, trajados a caráter para zombar da derrota.Como todo zelador, Abraão sabe da vida das 46 famílias do edifício: hábitos de consumo, horários de chegada e saída de cada morador, placas dos carros etc. Não tardou para que ele se ligasse que sou adepto da água-que-passarinho-não-bebe, afinal, vez por outra apareço no prédio com uma garrafinha exótica pintada a mão pelo dono do bar Toca da Joana.Como costumo dar bom dia, boa tarde e boa noite sempre, Abraão já percebe o meu grau de estresse quando substituo o cumprimento costumeiro pelo sinal de "legal forçado", com o dedo polegar levantado, e entro na portaria, em silêncio, para esperar o elevador.Abraão - O dia foi pesado hoje, hein meu chefe!?Mandra - ô... tou acabado aqui.Abraão - É bom tomar um negocinho pra desestressar.Mandra - se ainda tivesse um restinho lá em casa eu tomava, mas não tenho coragem de pegar o carro novamente para ir comprar uma latinha.Abraão - Por que o senhor não vai ali na barraquinha de Jesus? ele vende pitú também.Mandra - Aleluia! é aquela barraca ali na frente do prédio?Abraão - Sim, pode procurar o dono e pedir o que o senhor quiser. Até se tiver sem dinheiro é só dizer que é morador aqui do prédio que ele faz fiado.Rumei para a barraquinha, seguindo o caminho das pedras indicado por Abraão. Passei uma vista geral no estabelecimento e pude ver a plaquinha "Propriedade Exclusiva do Senhor Jesus", numa prateleira, ladeada por maços de cigarros. Pedi uma latinha de pitú e fiquei no balcão, jogando conversa fora e bebida dentro.Minutos depois chegou um trio exótico, que eu poderia definir como uma tribo emo-punk-andrógina. A líder do grupo era a cara daquela cantora Björk e pediu uma cerveja e três copos de vidro. Jesus entregou copos de plástico e mentiu que todos os de vidro estavam sujos e que ainda estava faltando água para lavá-los. Björk olhou para o meu copo de vidro, para minha cara de bonachão burguês com camisa azul-prosperidade, olhou novamente para Jesus, pegou os copos plásticos e disse: "só falta agora a cerveja estar quente também!". E Jesus, fazendo questão de não ser simpático, profetizou: "Deve estar pouco gelada, porque o caminhão da entrega chegou tarde hoje".Quando Björk se afastou, Jesus não hesitou em me confidenciar que "aquele pessoal já surrupiou dois copos de vidro meus. Não faço a menor questão de tratar bem". Nem me passou pela cabeça fazer o papel de advogado do diabo, defendendo os emo-punks-andróginos, afinal, Jesus já os havia julgado e condenado, enquanto me servia o destilado de cana-de-açúcar fiado. Mas apesar da "fama", eu bebo pouquíssimo e me contento com duas doses - que passo uma hora pra terminar.Sem mais nem menos, Jesus perguntou pela minha motocicleta Ténéré. Fiquei surpreso porque mesmo sem me conhecer ele sabia até qual era o meu meio de transporte. Expliquei a história da troca e da destroca pelo Versailles e só depois me dei conta que Jesus tudo vê, dali daquela barraquinha. Peguei o resto da latinha (mais de 2/3) e levei pra casa, onde repousará por algumas semanas na geladeira. Hoje fui convocado para a primeira pedalada coletiva com o fotógrafo Mazella e o jornalista Yuri. Eles marcaram comigo em frente à barraquinha de Jesus (UÊPA!!!).:: Planejamento de malhação ciclística envolvendo três jornalistas com encontro marcado em barraquinha etílica? Essa, até Deus duvida.:: Texto relacionado: O meu amigo zelador.

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