Mandra Brasa: De médica e de louca minha tia tem é muito

02-07-2011
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Todo dia tem a hora da Sessão Coruja: haja Gardenal!!!!Todo mundo riu das histórias de Tia Marta, mas ela não chega nem aos pés da irmã mais velha quando o assunto é causar constrangimento no Gordinho. A Tia Louca me fez compreender desde pequeno o significado da expressão "entrar em surto". Ela não toma remédio tarja preta mas age como se tomasse, não fuma maconha mas age como se fumasse. E tem uma fixação em rotular de gays todos à sua volta.Desde pequeno ela já me dizia: "Esse gordinho vai ser viado". Não adiantava reclamar, porque ela não se convencia do contrário. Pior foi quando começou a me chamar de "Flor" porque achava aquele gambá do filme de Bambi a minha cara. Eu reclamava, meus pais reclamavam, mas quando ela me telefonava sempre dizia "Flor, vamos pegar um cineminha?". E eu acabava indo. Aliás, reinei absoluto como companhia inseparável da minha Tia Louca porque sou seu primeiro sobrinho. Ela até assistiu meu nascimento, privilegiada na condição de médica.Eu sempre explicava a ela todos os finais dos filmes que a gente assistia no cinema. Ela falava alto na sala de exibição: "Flor, por que esse cara escondeu o envelope?". "Porque ele é o vilão. E pare de me chamar de Flor!", eu respondia. No campo gastronômico, minha Tia Louca me fazia todas as vontades: Pizzas, Batata recheada (nos bons tempos da Potato House, na Bahia), guloseimas mil.Médica, sem marido e sem filhos, torrava seu dinheiro com o sobrinho predileto e nas viagens Brasil afora. Ah, foi a Tia Louca que me resgatou quando eu morava com minha mãe em Brasília, em 1986, infeliz e contrariado com meu padrasto, sem dizer nada a ninguém. Bastou uma visitinha básica da Tia Louca para que o Gordinho declarasse - entre um rodízio, sorvetes, gibis novos e presentes - que queria mesmo era voltar para o Recife. Aquilo sim foi uma terapia bem-sucedida.Ir à praia com a Tia Louca era garantia de caldos violentos. Não sei que prazer sádico ela sentia em pegar os sobrinhos pelo pescoço e gritar "Operação afogamentooo!!!!" segundos antes de nos submergir às profundesas do Oceano Atlântico. Se eu estava brincando na água e ela vinha rindo pro meu lado eu já sabia que ia engolir soro caseiro iodado.Seus surtos eram, quase sempre, um descarrego de tudo que ela queria desabafar. E surgiam do nada, sem nenhum fator desencadeador. Dia de sábado, eu vendo desenho animado na TV e lá vinha ela, virada na porra: "E você, gordinho, vai ser viaaado quando crescer!!!! Pensa que eu não sei?!".Como eu já disse em outra ocasião, fui criado por vó, com influência de todos os tios e tias da família paterna, incluindo Tia Marta, a Tia Louca e meu tio caçula, que por enquanto está protegido dos meus comentários porque possui imunidade parlamentar. Com uma influência dessas, eu evidentemente desenvolvi meu escudo de proteção: Humor. Foi como se estivessem criando um pequeno "máskara" ou "Curinga". Passei a rebater com a sagacidade do meu pensamento rápido. E funcionou.Hoje, anos depois, minha querida Tia Louca está fazendo terapia. Melhorou anos-luz mas ainda é Louca. Sua última manifestação foi no final do show de Barão Vermelho, no Festival de Inverno de Garanhuns. Freud explica: A banda marcou uma fase importante da sua vida, quando ela viveu sua grande paixão nos anos 1980 - um baiano chamado "Carlão", que nem era alto mas esse "ão" não deve estar aí de graça. Pois é, Barão tocou profundamente na minha Tia Louca. Naquela noite, foi-se a terapia, foi-se o autocontrole e, movida a Cuba Libre, bradou em voz alta: "NINGUÉM AQUI SABE O QUE É SESSÃO CORUJA. SÓ CARLÃO SABIA FAZER ISSO. VIVA A SESSÃO CORUJA!!!!!!!!!"Hoje, casado e dominado pelas minhas crianças, mal tenho tempo de conviver com minha querida Tia Louca. Já não vamos mais ao cinema juntos, nem nos banqueteamos nos rodízios... Outros sobrinhos das novas gerações têm esse privilégio, mas nunca ocuparão, no coração dela, o lugar do primeiro e único: EU, uma flor de pessoa.


Todo dia tem a hora da Sessão Coruja: haja Gardenal!!!!Todo mundo riu das histórias de Tia Marta, mas ela não chega nem aos pés da irmã mais velha quando o assunto é causar constrangimento no Gordinho. A Tia Louca me fez compreender desde pequeno o significado da expressão "entrar em surto". Ela não toma remédio tarja preta mas age como se tomasse, não fuma maconha mas age como se fumasse. E tem uma fixação em rotular de gays todos à sua volta.Desde pequeno ela já me dizia: "Esse gordinho vai ser viado". Não adiantava reclamar, porque ela não se convencia do contrário. Pior foi quando começou a me chamar de "Flor" porque achava aquele gambá do filme de Bambi a minha cara. Eu reclamava, meus pais reclamavam, mas quando ela me telefonava sempre dizia "Flor, vamos pegar um cineminha?". E eu acabava indo. Aliás, reinei absoluto como companhia inseparável da minha Tia Louca porque sou seu primeiro sobrinho. Ela até assistiu meu nascimento, privilegiada na condição de médica.Eu sempre explicava a ela todos os finais dos filmes que a gente assistia no cinema. Ela falava alto na sala de exibição: "Flor, por que esse cara escondeu o envelope?". "Porque ele é o vilão. E pare de me chamar de Flor!", eu respondia. No campo gastronômico, minha Tia Louca me fazia todas as vontades: Pizzas, Batata recheada (nos bons tempos da Potato House, na Bahia), guloseimas mil.Médica, sem marido e sem filhos, torrava seu dinheiro com o sobrinho predileto e nas viagens Brasil afora. Ah, foi a Tia Louca que me resgatou quando eu morava com minha mãe em Brasília, em 1986, infeliz e contrariado com meu padrasto, sem dizer nada a ninguém. Bastou uma visitinha básica da Tia Louca para que o Gordinho declarasse - entre um rodízio, sorvetes, gibis novos e presentes - que queria mesmo era voltar para o Recife. Aquilo sim foi uma terapia bem-sucedida.Ir à praia com a Tia Louca era garantia de caldos violentos. Não sei que prazer sádico ela sentia em pegar os sobrinhos pelo pescoço e gritar "Operação afogamentooo!!!!" segundos antes de nos submergir às profundesas do Oceano Atlântico. Se eu estava brincando na água e ela vinha rindo pro meu lado eu já sabia que ia engolir soro caseiro iodado.Seus surtos eram, quase sempre, um descarrego de tudo que ela queria desabafar. E surgiam do nada, sem nenhum fator desencadeador. Dia de sábado, eu vendo desenho animado na TV e lá vinha ela, virada na porra: "E você, gordinho, vai ser viaaado quando crescer!!!! Pensa que eu não sei?!".Como eu já disse em outra ocasião, fui criado por vó, com influência de todos os tios e tias da família paterna, incluindo Tia Marta, a Tia Louca e meu tio caçula, que por enquanto está protegido dos meus comentários porque possui imunidade parlamentar. Com uma influência dessas, eu evidentemente desenvolvi meu escudo de proteção: Humor. Foi como se estivessem criando um pequeno "máskara" ou "Curinga". Passei a rebater com a sagacidade do meu pensamento rápido. E funcionou.Hoje, anos depois, minha querida Tia Louca está fazendo terapia. Melhorou anos-luz mas ainda é Louca. Sua última manifestação foi no final do show de Barão Vermelho, no Festival de Inverno de Garanhuns. Freud explica: A banda marcou uma fase importante da sua vida, quando ela viveu sua grande paixão nos anos 1980 - um baiano chamado "Carlão", que nem era alto mas esse "ão" não deve estar aí de graça. Pois é, Barão tocou profundamente na minha Tia Louca. Naquela noite, foi-se a terapia, foi-se o autocontrole e, movida a Cuba Libre, bradou em voz alta: "NINGUÉM AQUI SABE O QUE É SESSÃO CORUJA. SÓ CARLÃO SABIA FAZER ISSO. VIVA A SESSÃO CORUJA!!!!!!!!!"Hoje, casado e dominado pelas minhas crianças, mal tenho tempo de conviver com minha querida Tia Louca. Já não vamos mais ao cinema juntos, nem nos banqueteamos nos rodízios... Outros sobrinhos das novas gerações têm esse privilégio, mas nunca ocuparão, no coração dela, o lugar do primeiro e único: EU, uma flor de pessoa.

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