sorumbático

27-01-2012
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Por João MirandaAS DECLARAÇÕES DE JOSÉ RODRIGUES DOS SANTOS, segundo as quais os governos têm por hábito pressionar as administrações da RTP, geraram uma pequena polémica. Diga-se, no entanto, que os governos pressionam a RTP há 50 anos e têm obtido excelentes resultados. A cedência às pressões é uma prática institucionalizada que já foi incorporada na cultura da empresa. E percebe-se bem porquê. O Governo nomeia a administração da RTP e decide quanto é que a RTP pode gastar. A RTP limita-se a obedecer ao dono. A credibilidade jornalística de um órgão de comunicação social determina as audiências, as receitas e o valor da empresa a longo prazo. Se a RTP fosse uma empresa privada sujeita às regras do mercado teria de se preocupar com a sua credibilidade jornalística e com a concorrência. Os accionistas privados não estariam dispostos a derreter enormes quantidades de dinheiro indefinidamente, mesmo que estivessem interessados em promover uma dada agenda política. Mas, como é uma empresa pública, a RTP não paga pelos seus próprios erros. Tem acesso a fundos praticamente ilimitados e pertence, juntamente com as restantes estações televisivas, a um oligopólio garantido pela lei. Por mais erros que a RTP cometa, haverá sempre dinheiro do contribuinte para a financiar. E é quase certo que continuará a beneficiar das barreiras que impedem a entrada de novos concorrentes no mercado televisivo.A introdução da televisão digital em Portugal podia ser uma oportunidade para revolucionar o panorama televisivo, mas os interesses instalados estão a conjugar-se para que as barreiras à entrada de novos concorrentes se mantenham. O sistema televisivo está, por razões puramente políticas, nas mãos do Governo, de duas empresas privadas de televisão em sinal aberto e de uma empresa de televisão por cabo. Não existem razões técnicas que impeçam a abertura de mais canais de televisão de sinal aberto nem para a existência de restrições à criação e à propriedade de canais regionais, de cabo ou de Internet. A privatização da RTP, a dispersão das frequências de televisão digital, a eliminação de barreiras à criação de televisões regionais e a liberalização total da transmissão televisiva através do cabo e da Internet contribuiriam para dispersar poder e riqueza por um número alargado de pequenas organizações. Os cidadãos passariam a beneficiar de uma oferta alargada de meios de comunicação, deixariam de pagar a propaganda governamental e veriam a sua região representada no panorama audiovisual. O controlo dos meios de transmissão deixaria de ser o factor competitivo mais importante do negócio televisivo. As empresas teriam de se distinguir apenas pela qualidade, pela originalidade e pela capacidade de satisfazer a procura e de atrair investidores.«DN» de 13 de Outubro de 2007-[PH]Etiquetas: JM

Por João MirandaAS DECLARAÇÕES DE JOSÉ RODRIGUES DOS SANTOS, segundo as quais os governos têm por hábito pressionar as administrações da RTP, geraram uma pequena polémica. Diga-se, no entanto, que os governos pressionam a RTP há 50 anos e têm obtido excelentes resultados. A cedência às pressões é uma prática institucionalizada que já foi incorporada na cultura da empresa. E percebe-se bem porquê. O Governo nomeia a administração da RTP e decide quanto é que a RTP pode gastar. A RTP limita-se a obedecer ao dono. A credibilidade jornalística de um órgão de comunicação social determina as audiências, as receitas e o valor da empresa a longo prazo. Se a RTP fosse uma empresa privada sujeita às regras do mercado teria de se preocupar com a sua credibilidade jornalística e com a concorrência. Os accionistas privados não estariam dispostos a derreter enormes quantidades de dinheiro indefinidamente, mesmo que estivessem interessados em promover uma dada agenda política. Mas, como é uma empresa pública, a RTP não paga pelos seus próprios erros. Tem acesso a fundos praticamente ilimitados e pertence, juntamente com as restantes estações televisivas, a um oligopólio garantido pela lei. Por mais erros que a RTP cometa, haverá sempre dinheiro do contribuinte para a financiar. E é quase certo que continuará a beneficiar das barreiras que impedem a entrada de novos concorrentes no mercado televisivo.A introdução da televisão digital em Portugal podia ser uma oportunidade para revolucionar o panorama televisivo, mas os interesses instalados estão a conjugar-se para que as barreiras à entrada de novos concorrentes se mantenham. O sistema televisivo está, por razões puramente políticas, nas mãos do Governo, de duas empresas privadas de televisão em sinal aberto e de uma empresa de televisão por cabo. Não existem razões técnicas que impeçam a abertura de mais canais de televisão de sinal aberto nem para a existência de restrições à criação e à propriedade de canais regionais, de cabo ou de Internet. A privatização da RTP, a dispersão das frequências de televisão digital, a eliminação de barreiras à criação de televisões regionais e a liberalização total da transmissão televisiva através do cabo e da Internet contribuiriam para dispersar poder e riqueza por um número alargado de pequenas organizações. Os cidadãos passariam a beneficiar de uma oferta alargada de meios de comunicação, deixariam de pagar a propaganda governamental e veriam a sua região representada no panorama audiovisual. O controlo dos meios de transmissão deixaria de ser o factor competitivo mais importante do negócio televisivo. As empresas teriam de se distinguir apenas pela qualidade, pela originalidade e pela capacidade de satisfazer a procura e de atrair investidores.«DN» de 13 de Outubro de 2007-[PH]Etiquetas: JM

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