gonn1000: A ILHA

30-06-2011
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Criada por J. J. Abrams em 2004, "Perdidos" (Lost) tem já lugar entre as séries televisivas mais emblemáticas e entusiasmantes da década, sobrepondo-se a grande parte da concorrência não tanto pela premissa, mas sobretudo pela sua execução, apresentando uma imbatível energia narrativa e um minucioso trabalho de argumento que a tornam em muito mais do que uma mera história de aventuras.Produzida pela ABC, a série foi uma das responsáveis - juntamente com "Donas de Casa Desesperadas" - pela revitalização do canal televisivo e percebe-se porquê, já que esta história - que segue as experiências dos 48 sobreviventes de um avião que se despenha numa desconhecida ilha do Pacífico - é desenvolvida de forma sempre fresca e intrigante, mantendo um ritmo invejável ao longo dos 24 episódios da primeira temporada.Seguindo o percurso de 14(!) personagens principais, "Perdidos" começa por causar impacto logo no episódio piloto, quando os sobreviventes do avião reagem ao acidente e tentam lidar com uma situação inédita num cenário incógnito.Aos poucos, Abrams vai revelando ao espectador os segredos e algumas das memórias mais marcantes das suas personagens, uma vez que todos os episódios seguem não só o dia-a-dia na ilha mas também eventos do passado dos seus novos habitantes. Os flashbacks são assim presença regular na série e peças fundamentais para que as personagens se tornem mais densas e quase sempre ambíguas, sendo interessante verificar as diferenças de comportamento de algumas delas antes e depois do acidente de avião.Abrams contrói cada capítulo como uma elaborada peça de relojoaria, sabendo dosear suspense, acção, vibração emocional e algum humor, evidenciando um gosto pelo detalhe que se manifesta nas interligações entre os acontecimentos da ilha e as recordações da personagem em destaque. Daí resulta um intrincado puzzle cuja aura enigmática se adensa continuamente, deixando o espectador tão hesitante como os protagonistas em relação ao facto de nunca chegar nenhuma equipa de salvamento das vítimas do desastre e, mais ainda, quanto aos mistérios e singularidades da ilha.O novo lar dos sobreviventes, à partida paradisíaco, esconde vários perigos que vão sendo expostos ao longo da involuntária estadia, desde uma assustadora e gigantesca criatura até aos estranhos habitantes denominados "Os Outros", aparentemente responsáveis pela morte dos passageiros de outro desastre de avião ocorrido há 16 anos.Tendo em conta que as personagens se encontram imersas num contexto tão nebuloso e inquietante, a série tornou-se motivo para todo o tipo de especulações e circulam, entre os muitos fãs, propostas quanto ao que está por trás da existência da ilha. A primeira temporada sugere algumas pistas, sobretudo nos episódios finais, mas mesmo depois de inúmeros twists e demais manobras do bem arquitectado argumento, ficam quase todas por esclarecer.Abrams, que anteriormente já se tinha destacado por outras séries televisivas, ("Felicity", "Alias"), e que posteriormente efectuou a passagem para o grande ecrã com "Missão: Impossível 3", tem em "Perdidos" o seu trabalho mais conseguido, um entretenimento superior onde uma componente lúdica se interliga com uma tensão por vezes sufocante. O elenco, composto por caras até então pouco conhecidas, surpreende pela coesão, pois nenhum actor oferece um desempenho que comprometa os bons resultados, e o desenvolvimento das muitas personagens é igualmente digno de elogios.Desde o médico Jack (Matthew Fox), que as circunstâncias obrigam a que se torne no mentor do grupo; o seu contraponto Sawyer (Josh Holloway), individualista e sarcástico; a dúbia mas prestável Kate (Evangeline Lilly), que se coloca entre ambos como provável interesse amoroso; o ex-soldado iraquiano Sayid (Naveen Andrews), que se aproxima da superficial Shannon (Maggie Grace) para descontentamento do irmão desta, Boone (Ian Somerhalder); o ingénuo e atormentado Charlie (Dominic Monaghan), músico que tenta deixar a dependência da heroína enquanto auxilia Claire (Emilie de Ravin), grávida de vários meses; passando por Jin (Daniel Dae Kim) e Sun (Yunjin Kim), um casal coreano cuja relação ameaça ruir; pelo ex-paralítico e obstinado Locke (Terry O'Quinn); por Hurley (Jorge Garcia), obeso e obcecado por um enigma que envolve números; e por Michael (Harold Perrineau Jr.) e Walt (Malcolm David Kelley), pai e filho que tentam aprender a viver juntos; a série tece um complexo novelo que seduz pela forma como interliga todos estes temperamentos e perspectivas, muitas vezes antagónicos.Redefinindo o género de acção e aventura para o século XXI, a primeira temporada de "Perdidos" cativa pela sofisticação e engenho transpirados em todos os episódios, gerando várias horas que compõem alguma da mais aborvente televisão que se fez nos últimos tempos, dado que é praticamente irresistível passar de imediato para outro capítulo depois de se mergulhar nesta saga brilhante, a ver e rever sem reservas.E O VEREDICTO É: 4/5 - MUITO BOM Promo de "Perdidos" realizado por David LaChapelle para o Channel 4


Criada por J. J. Abrams em 2004, "Perdidos" (Lost) tem já lugar entre as séries televisivas mais emblemáticas e entusiasmantes da década, sobrepondo-se a grande parte da concorrência não tanto pela premissa, mas sobretudo pela sua execução, apresentando uma imbatível energia narrativa e um minucioso trabalho de argumento que a tornam em muito mais do que uma mera história de aventuras.Produzida pela ABC, a série foi uma das responsáveis - juntamente com "Donas de Casa Desesperadas" - pela revitalização do canal televisivo e percebe-se porquê, já que esta história - que segue as experiências dos 48 sobreviventes de um avião que se despenha numa desconhecida ilha do Pacífico - é desenvolvida de forma sempre fresca e intrigante, mantendo um ritmo invejável ao longo dos 24 episódios da primeira temporada.Seguindo o percurso de 14(!) personagens principais, "Perdidos" começa por causar impacto logo no episódio piloto, quando os sobreviventes do avião reagem ao acidente e tentam lidar com uma situação inédita num cenário incógnito.Aos poucos, Abrams vai revelando ao espectador os segredos e algumas das memórias mais marcantes das suas personagens, uma vez que todos os episódios seguem não só o dia-a-dia na ilha mas também eventos do passado dos seus novos habitantes. Os flashbacks são assim presença regular na série e peças fundamentais para que as personagens se tornem mais densas e quase sempre ambíguas, sendo interessante verificar as diferenças de comportamento de algumas delas antes e depois do acidente de avião.Abrams contrói cada capítulo como uma elaborada peça de relojoaria, sabendo dosear suspense, acção, vibração emocional e algum humor, evidenciando um gosto pelo detalhe que se manifesta nas interligações entre os acontecimentos da ilha e as recordações da personagem em destaque. Daí resulta um intrincado puzzle cuja aura enigmática se adensa continuamente, deixando o espectador tão hesitante como os protagonistas em relação ao facto de nunca chegar nenhuma equipa de salvamento das vítimas do desastre e, mais ainda, quanto aos mistérios e singularidades da ilha.O novo lar dos sobreviventes, à partida paradisíaco, esconde vários perigos que vão sendo expostos ao longo da involuntária estadia, desde uma assustadora e gigantesca criatura até aos estranhos habitantes denominados "Os Outros", aparentemente responsáveis pela morte dos passageiros de outro desastre de avião ocorrido há 16 anos.Tendo em conta que as personagens se encontram imersas num contexto tão nebuloso e inquietante, a série tornou-se motivo para todo o tipo de especulações e circulam, entre os muitos fãs, propostas quanto ao que está por trás da existência da ilha. A primeira temporada sugere algumas pistas, sobretudo nos episódios finais, mas mesmo depois de inúmeros twists e demais manobras do bem arquitectado argumento, ficam quase todas por esclarecer.Abrams, que anteriormente já se tinha destacado por outras séries televisivas, ("Felicity", "Alias"), e que posteriormente efectuou a passagem para o grande ecrã com "Missão: Impossível 3", tem em "Perdidos" o seu trabalho mais conseguido, um entretenimento superior onde uma componente lúdica se interliga com uma tensão por vezes sufocante. O elenco, composto por caras até então pouco conhecidas, surpreende pela coesão, pois nenhum actor oferece um desempenho que comprometa os bons resultados, e o desenvolvimento das muitas personagens é igualmente digno de elogios.Desde o médico Jack (Matthew Fox), que as circunstâncias obrigam a que se torne no mentor do grupo; o seu contraponto Sawyer (Josh Holloway), individualista e sarcástico; a dúbia mas prestável Kate (Evangeline Lilly), que se coloca entre ambos como provável interesse amoroso; o ex-soldado iraquiano Sayid (Naveen Andrews), que se aproxima da superficial Shannon (Maggie Grace) para descontentamento do irmão desta, Boone (Ian Somerhalder); o ingénuo e atormentado Charlie (Dominic Monaghan), músico que tenta deixar a dependência da heroína enquanto auxilia Claire (Emilie de Ravin), grávida de vários meses; passando por Jin (Daniel Dae Kim) e Sun (Yunjin Kim), um casal coreano cuja relação ameaça ruir; pelo ex-paralítico e obstinado Locke (Terry O'Quinn); por Hurley (Jorge Garcia), obeso e obcecado por um enigma que envolve números; e por Michael (Harold Perrineau Jr.) e Walt (Malcolm David Kelley), pai e filho que tentam aprender a viver juntos; a série tece um complexo novelo que seduz pela forma como interliga todos estes temperamentos e perspectivas, muitas vezes antagónicos.Redefinindo o género de acção e aventura para o século XXI, a primeira temporada de "Perdidos" cativa pela sofisticação e engenho transpirados em todos os episódios, gerando várias horas que compõem alguma da mais aborvente televisão que se fez nos últimos tempos, dado que é praticamente irresistível passar de imediato para outro capítulo depois de se mergulhar nesta saga brilhante, a ver e rever sem reservas.E O VEREDICTO É: 4/5 - MUITO BOM Promo de "Perdidos" realizado por David LaChapelle para o Channel 4

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