gonn1000: PRELÚDIOS NOCTURNOS

30-06-2011
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Criar um sucessor para o muito elogiado, amado e aclamado "Mellon Collie and the Infinite Sadness" não era tarefa fácil, uma vez que as expectativas eram altíssimas e dificilmente os Smashing Pumpkins conseguiriam superar aquele que ficou, a par de "Siamese Dream", como o seu álbum mais emblemático. Por isso, quando o muito aguardado "Adore" foi editado, em 1998, grande parte da crítica e dos fãs da célebre banda de Chicago não soube como reagir perante um registo com atmosferas tão distantes daquelas que marcaram o determinante álbum duplo do grupo.Vincado por tons intimistas, sóbrios e delicados, "Adore" envereda por domínios bem diferentes da megalomania e intensa vibração de "Mellon Collie and the Infinite Sadness", apostando em ambientes mais serenos, contemplativos e soturnos e rompendo com a considerável teen angst presente nos trabalhos anteriores dos Smashing Pumpkins. Menosprezado e subavaliado no período da sua edição, "Adore" é um daqueles discos que não se revela totalmente de forma imediata, embora contenha um incomum e subtil talento na composição.Gravado sem o baterista Jimmy Chamberlin - reduzindo a banda a um trio composto por Billy Corgan, James Iha e D' Arcy -, "Adore" percorre áreas mais apaziguadas e melancólicas, e só a espaços exibe traços da visceralidade e energia que caracterizaram o grupo. Essa ausência de rebeldia e dinamismo permite apresentar uma composição mais subtil e madura, rompendo com as influências grunge/ indie rock/ heavy metal e seguindo áreas mais próximas de uma dream pop com contornos góticos, despoletando uma inebriante aura nocturna. "Adore" contém um viciante e absorvente conjunto de baladas negras, onde os Smashing Pumpkins não se apoiam tanto na força e distorção das guitarras mas antes em densas e hipnóticas sonoridades electroacústicas. Foi uma aposta arriscada para a banda, que aqui se debruçou em territórios pouco habituais na sua discografia até então, mas o resultado final é plenamente conseguido.A espaços as canções seguem formatos mais clássicos, sustentadas pela sobriedade da voz de Billy Corgan - que aqui brilha como nunca, libertando-se de registos mais excessivos e histriónicos - e pela serenidade do piano, enquanto que noutros momentos o grupo recorre à envolvência dos sintetizadores, gerando resultados com tanto de nostálgico como de inventivo. Um dos pontos fortes dos Smashing Pumpkins sempre foram as letras, e em "Adore" Corgan volta a destacar-se como um notável escritor de canções, oferecendo mais uma série de inspiradas reflexões acerca da desilusão, amor, solidão ou desespero e consolidando um universo de referências complexas e profundas.Embora aparente, às primeiras audições, ser mais modesto e minimalista do que os álbuns anteriores da banda, "Adore" convence pela sua maior sofisticação e densidade, proporcionando episódios de recorte superior como a aliciante dream pop de "Perfect" (de facto, um single perfeito), a excentricidade irresistível de "Pug", a sentida melancolia de "Daphne Descends", a comovente desolação de "Shame", a inquietude de "Crestfallen" ou a deliciosa electropop elíptica de "Appels + Oranges"."Adore" pode não ter a grandiosidade e eloquência dos frequentemente elogiados "Siamese Dream" e "Mellon Collie and the Infinite Sadness", mas compensa esse aspecto através das peculiares e estranhamente contagiantes atmosferas que dissemina, salientando-se não só como um disco surpreendente mas também como uma obra-prima. Não é o álbum mais emblemático, influente e marcante dos Smashing Pumpkins, mas é provavelmente o melhor que o grupo nos deixou. Fascinante e intemporal.E O VEREDICTO É: 5/5 - EXCELENTE


Criar um sucessor para o muito elogiado, amado e aclamado "Mellon Collie and the Infinite Sadness" não era tarefa fácil, uma vez que as expectativas eram altíssimas e dificilmente os Smashing Pumpkins conseguiriam superar aquele que ficou, a par de "Siamese Dream", como o seu álbum mais emblemático. Por isso, quando o muito aguardado "Adore" foi editado, em 1998, grande parte da crítica e dos fãs da célebre banda de Chicago não soube como reagir perante um registo com atmosferas tão distantes daquelas que marcaram o determinante álbum duplo do grupo.Vincado por tons intimistas, sóbrios e delicados, "Adore" envereda por domínios bem diferentes da megalomania e intensa vibração de "Mellon Collie and the Infinite Sadness", apostando em ambientes mais serenos, contemplativos e soturnos e rompendo com a considerável teen angst presente nos trabalhos anteriores dos Smashing Pumpkins. Menosprezado e subavaliado no período da sua edição, "Adore" é um daqueles discos que não se revela totalmente de forma imediata, embora contenha um incomum e subtil talento na composição.Gravado sem o baterista Jimmy Chamberlin - reduzindo a banda a um trio composto por Billy Corgan, James Iha e D' Arcy -, "Adore" percorre áreas mais apaziguadas e melancólicas, e só a espaços exibe traços da visceralidade e energia que caracterizaram o grupo. Essa ausência de rebeldia e dinamismo permite apresentar uma composição mais subtil e madura, rompendo com as influências grunge/ indie rock/ heavy metal e seguindo áreas mais próximas de uma dream pop com contornos góticos, despoletando uma inebriante aura nocturna. "Adore" contém um viciante e absorvente conjunto de baladas negras, onde os Smashing Pumpkins não se apoiam tanto na força e distorção das guitarras mas antes em densas e hipnóticas sonoridades electroacústicas. Foi uma aposta arriscada para a banda, que aqui se debruçou em territórios pouco habituais na sua discografia até então, mas o resultado final é plenamente conseguido.A espaços as canções seguem formatos mais clássicos, sustentadas pela sobriedade da voz de Billy Corgan - que aqui brilha como nunca, libertando-se de registos mais excessivos e histriónicos - e pela serenidade do piano, enquanto que noutros momentos o grupo recorre à envolvência dos sintetizadores, gerando resultados com tanto de nostálgico como de inventivo. Um dos pontos fortes dos Smashing Pumpkins sempre foram as letras, e em "Adore" Corgan volta a destacar-se como um notável escritor de canções, oferecendo mais uma série de inspiradas reflexões acerca da desilusão, amor, solidão ou desespero e consolidando um universo de referências complexas e profundas.Embora aparente, às primeiras audições, ser mais modesto e minimalista do que os álbuns anteriores da banda, "Adore" convence pela sua maior sofisticação e densidade, proporcionando episódios de recorte superior como a aliciante dream pop de "Perfect" (de facto, um single perfeito), a excentricidade irresistível de "Pug", a sentida melancolia de "Daphne Descends", a comovente desolação de "Shame", a inquietude de "Crestfallen" ou a deliciosa electropop elíptica de "Appels + Oranges"."Adore" pode não ter a grandiosidade e eloquência dos frequentemente elogiados "Siamese Dream" e "Mellon Collie and the Infinite Sadness", mas compensa esse aspecto através das peculiares e estranhamente contagiantes atmosferas que dissemina, salientando-se não só como um disco surpreendente mas também como uma obra-prima. Não é o álbum mais emblemático, influente e marcante dos Smashing Pumpkins, mas é provavelmente o melhor que o grupo nos deixou. Fascinante e intemporal.E O VEREDICTO É: 5/5 - EXCELENTE

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